Alexandre Póvoa*/ Ilustração: Julia Padula
Hoje, pelo menos sob a ótica de preços de mercado, parece que grande parte do processo de ajuste da economia brasileira foi deixada para trás nos últimos anos. Apesar dos evidentes problemas e erros conjunturais de gestão, utilizando uma lente histórica mais ampla, é inegável que avançamos no controle da inflação, na responsabilidade fiscal, no fortalecimento da democracia com a alternância de poder — e pouco espaço para a viabilização política de aventureiros —, na emergência de uma classe média forte com o avanço do crédito, na consolidação de um sistema financeiro robusto, na redução da pobreza extrema, no acúmulo importante de reservas internacionais e em alguns avanços, ainda tímidos, na educação. Algumas perguntas devem ser respondidas para explicar (ou justificar) a atual precificação no mercado de renda fixa:
– O Brasil terá sua nota de avaliação de crédito rebaixada em breve pelas agências de rating? Provavelmente sim.
– Perderemos o chamado grau de investimento? Dado o comparativo do nível de solvência brasileiro, é muito pouco provável.
– O Banco Central (BC) não possui o mesmo grau de independência do passado e cometeu um grave erro ao reduzir os juros agressivamente a partir de agosto de 2011? Sim.
– O BC continuará a ser leniente com o quadro inflacionário? Acredito que a autoridade monetária usará integralmente o grau de liberdade que ainda possui (um dígito de taxa Selic) e elevar a taxa básica a 9,75% ao ano até o final de 2013. Talvez não seja o suficiente, mas pelo menos pode encaminhar o processo de convergência lenta do IPCA ao centro da meta em 2014-2015.
– O real está entre as moedas que mais se desvalorizaram no mundo, também por “motivos brasileiros”, e ainda pode buscar outros patamares (R$ 2,50-2,60 por dólar) antes de se estabilizar, provavelmente em um nível mais baixo? Sim.
– Dados o déficit de transações correntes de 3,7% do PIB e a redução de atratividade para capitais externos, há risco de descontrole cambial no Brasil? Muitíssimo pouco provável.
– Em relação aos preços, há possibilidade de a inflação continuar bem acima do centro da meta nos próximos dois anos, sobretudo a partir de um novo nível de câmbio? Sim. Dada a leniência do BC e do governo nos últimos anos e a não colaboração fiscal das autoridades, o custo para se trazer o IPCA de volta a 4,5% anuais será bem maior.
– O Brasil está condenado a conviver nas próximas duas décadas, como aponta o mercado, com taxas de inflação acima de 6% ao ano? Uma resposta afirmativa seria muito prematura, até porque o nível de crescimento baixo, que representa uma má notícia, pode ajudar o controle inflacionário nos próximos meses.
– A qualidade da política macroeconômica piorou e contribui decisivamente para um quadro de baixo crescimento com inflação alta? Com certeza, sim.
– O Brasil está condenado a essa situação adversa, trazendo os mesmos riscos de insolvência do passado? No mínimo, é muito cedo para dizer isso.
A situação brasileira até as eleições de 2014 pode ser vista sob o prisma do “copo meio cheio ou meio vazio”. A tese dos mais otimistas indica que o governo, se quiser ganhar a eleição ano que vem, terá que fazer o dever de casa macroeconômico para que a inflação chegue ao final de 2014 sob controle e os impactos sobre o emprego sejam suportáveis, ajudando na recuperação da popularidade da presidenta. Para a maioria mais pessimista, há até medo de que os erros da política fiscal e monetária se aprofundem até o fim de 2014, trazendo preocupantes riscos para crescimento e inflação.
Há, entre os locais, uma preferência pelo “copo meio vazio”, sentimento que vem se reverberando para os estrangeiros, o que espalha um viés altamente pessimista em relação ao Brasil. Logo, é importante o investidor redobrar a atenção para oportunidades, porque parece que estamos começando a entrar em zonas de overshooting de preços no mercado brasileiro de renda fixa.
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