Meu primeiro investimento anjo
25/5/2015
, Meu primeiro investimento anjo, Capital Aberto

Frederico Rizzo*/ Ilustração: Julia Padula

Fiz meu primeiro investimento anjo este mês, após três anos estudando startups e capital semente e conversando com pelo menos uma centena de empreendedores em função da minha atuação como fundador do Broota – uma plataforma de equity crowdfunding. Nessa classe de ativos, é esperado que você invista em um a cada vinte a trinta negócios que analisar; e desses, em geral, um em cada dez proporciona o retorno esperado. Decidi, por isso, que me daria quatro anos para investir em aproximadamente dez empresas, antes de avaliar o quão bom eu sou nessa arte.

Com o frio na barriga de quem inicia uma atividade um tanto quanto arriscada (e após minutos de sermão da esposa, que é o lado mais pé no chão do casal) me peguei questionando por que estou fazendo isso. Como evitar que meu cacoete positivista não ofusque meu senso analítico? Estou realmente numa fase em que posso me desfazer de uma grana que tenho grandes chances de jamais recuperar?

Antes do primeiro passo, fiz questão de marcar um objetivo – TIR de 30% ao ano acompanhada de impacto sócioambiental – e definir um propósito para essa nova atividade. Se para cada um as motivações são certamente diferentes, para mim concluí que tem a ver com a possibilidade de se envolver com pessoas e iniciativas extraordinárias, com potencial de promover mudanças significativas no mundo. Entendi também que me atrai o desafio de equilibrar a disciplina analítica de uma boa tese de investimento com a intuição necessária para tomar decisões quando a informação é limitada e o tempo escasso. E é claro, poder ganhar muito dinheiro enquanto me divirto com tudo isso.

Neste meu primeiro aporte, dois fatores foram predominantes para a tomada de decisão: o time por trás da ideia e o mercado de atuação da startup. Se é para ser um investidor anjo, quero estar envolvido apenas com profissionais que eu gosto, admiro e que estejam fazendo coisas realmente interessantes. Existe muita gente inteligente por aí, mas o fundador de uma empresa precisa ser safo e um tanto quanto louco – ter uma convicção forte o suficiente para não se preocupar com o que o resto do mundo pensa sobre o seu negócio – e ainda assim ter capacidade de compreender e agregar pessoas a sua volta.

Igualmente significativo para mim é saber que posso contribuir com o negócio; que minha experiência ou rede de relacionamentos será de grande valor para a empresa; que terei a oportunidade de compartilhar lições que aprendi às custas de muito suor e sofrimento, e que teriam feito toda a diferença se houvesse alguém ao meu lado naquele momento. Em suma, quero investir em coisas que me apaixonem e me permitam crescer como indivíduo e profissionalmente.

Em relação à metodologia de investimento, vou seguir os ensinamentos do Benjamin Graham e buscar não adivinhar o melhor momento para investir, mas, ao contrário, simplesmente manter uma constância nos aportes ao longo do tempo – em tese, dois a três por ano. Considerando que meus ganhos devem vir de um ou dois investimentos apenas – por comparação, três das setecentas e dezessete empresas investidas pela famosa Y Combinator representam 78% do valor total do portfólio – espero deixar reservado uma a duas vezes o capital investido para aportar naquelas startups que tenham demonstrado melhor tração.

Sei que nesse caminho será inviável fazer uma diligência profunda em cada empresa analisada, por isso pretendo começar devagar, acompanhando investidores mais experientes que já possuem um dealflow de alto nível, pois, no fim das contas, o importante é ter acesso aos bons negócios. Se por um lado o investidor precisa aprender a identificar os vencedores, por outro, é essencial que estes também o escolham. Sam Altman, da Y Combinator, entrevistou os melhores fundadores da sua aceleradora – aqueles que estão na privilegiada posição de poder rejeitar investidores – e descobriu três características comuns a eles.

Qualidade e reputação: esse foi indiscutivelmente o fator mais citado pelos empreendedores. Os fundadores pesquisam com seus amigos se o Anjo deu bons conselhos, fez conexões relevantes e manteve-se firme nos momentos difíceis. Não dá para construir reputação do dia para a noite, mas coinvestindo com gente boa e trabalhando forte para as empresas do meu portfólio espero chegar lá!

Termos simples: os fundadores afirmaram ter descartado todos os term sheets maiores que duas páginas. Espero usar os modelos que já circulam pelo Broota, com termos padronizados e compatíveis com rodadas semente.

Velocidade: captar recursos toma um tempo que a startup poderia usar para crescer seu negócio, por isso os fundadores odeiam investidores que demoram demais para se comprometer. Espero ser capaz de dizer não de forma clara e direta em não mais do que uma semana. Paul Graham, referência no assunto, precisa de apenas 45 minutos para decidir se a startup será aceita ou não em seu programa de aceleração.

Para ganhar agilidade, farei uso ao máximo de filtros. Cada vencedor é único por definição, pois o que ele faz é novo. Porém os maus negócios tendem a apresentar erros comuns, como investir em uma empresa com um único fundador. Muitas vezes me surpreendo como acabo criando filtros tão simplórios como “faça o que você ama”.

Tentarei também ser levemente cético e não cair na tentação de querer tocar a organização. Existem muitos caminhos para o sucesso e aprendi que o investidor precisa ser muito cuidadoso em utilizar sua experiência limitada para tentar empurrar a empresa na direção que imagina ser a correta. Às vezes pode ser difícil manter a humildade quando você passa tempo considerável recebendo pessoas lhe pedindo dinheiro e, na maioria das vezes, você diz não. O problema é que se você passar de arrogante para um Mark Zuckerberg, ele pode não querer sua grana e ainda falar mal de você para outros empreendedores.

Por fim, como devo utilizar o crowdfunding para realizar meus aportes, terei o maior cuidado para não seguir o rebanho, sem que por isso deixe de ser um animal de bando. Nem todo mundo tem todas as informações – um pode entender do mercado; outro, dos fundadores; outro, da base de clientes. Cada vez que um anjo entra na rodada, ele traz consigo um pedação do quebra-cabeça. Eu quero aproveitar todo esse conhecimento compartilhado e andar nos ombros dos gigantes que me precederam.

Quais outros pontos vocês consideram importantes para alguém que pretende começar a investir em startups? Adoraria ouvir sua experiência!


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