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Uma razão maior
Fernanda Camargo, sócia da Wright Capital: “Investimentos com impacto social representam uma força para viver”.
Foto: Régis Filho

Foto: Régis Filho

Quando Fernanda Camargo diz às famílias clientes da Wright Capital Wealth Management que investimentos com impacto social podem gerar muito mais do que retorno financeiro, ela sabe do que fala. Sua própria trajetória, das primeiras competições como nadadora até a fundação da gestora de patrimônio independente que homenageia seu mentor Roger Wright, é exemplo da busca de um sentido mais profundo para a existência. “Estamos sempre mostrando que esses investimentos levam união à família e representam uma razão maior, uma força para viver”, diz Fernanda. “Se não for assim, a vida fica meio besta.”

Se na Wright Capital, fundada no ano passado por Fernanda e cinco sócios, as famílias precisam investir pelo menos 1% do patrimônio em ativos “que trazem propósito”, na trajetória da economista de 40 anos o investimento nessa busca foi sempre de 100%. Daí a importância de ter encontrado em seu caminho o financista, empresário e velejador Roger Ian Wright. Ele morreu de forma trágica em 2009, em um acidente aéreo em Trancoso (BA) que vitimou também todos os seus descendentes. “O Roger era um visionário. A pessoa mais justa e correta que conheci. Foi como perder um pai.”

A paixão por esportes era algo que tinham em comum, muito antes de se conhecerem. A natação, recomendada pelo médico como tratamento para asma quando ela tinha 11 anos, representou até mais para Fernanda: foi uma espécie de salvação. “Na minha família, o ambiente era muito conturbado e o esporte me deu equilíbrio. Ganhei disciplina e determinação. Treinava o dia inteiro, até porque não queria voltar para casa.” Resultado: apesar do porte relativamente modesto (1,64 metro), ela ganhou o mundo em competições, viajando com outros atletas, e conquistou os títulos de campeã paulista e brasileira no nado borboleta. “Perdi totalmente a frescura: dormia em qualquer lugar, e sabia que os resultados só dependiam de mim.”

Apesar da gangorra financeira que presenciava em casa (“um dia tinha tudo; em outro, nada”), foi no mercado financeiro em que o pai atuava que Fernanda vislumbrou a possibilidade de uma independência precoce. Aos 16 anos, pediu para trabalhar na corretora de um amigo do pai, e passou a dividir a mesa de operações com 58 homens e apenas uma mulher. Preenchia boletas e fazia outras tarefas simples. Quando entrou na faculdade, já trabalhava duro. Com a mesma obstinação demonstrada nas piscinas, enfiou “na cachola” que iria fazer um estágio no Merrill Lynch. O desejo surgiu depois de assistir no cinema ao filme Wall Street – poder e cobiça, estrelado por Michael Douglas.

“Eu enviava fax para eles todos os dias. Acabei conseguindo uma carta-convite para um estágio de um ano.” No escritório de La Roya, na Califórnia, aprendeu a distribuir produtos financeiros para bilionários. “Era muito fácil”, brinca. Transferida para São Francisco, conseguiu conciliar o estágio com cursos de extensão em finanças corporativas na Universidade de Berkeley e o trabalho de babysitting para custear os estudos. “Ganhei uma fortuna cuidando de seis crianças ao mesmo tempo”, diverte-se. “Mas só dava conta dessa rotina porque tinha 20 anos.”

Já de volta ao Brasil, Fernanda estava havia seis anos no Deutsche Bank quando começaram as inquietações existenciais: “Será que eu escolhi ou a vida escolheu por mim? Onde foi parar o meu lado feminino, depois de anos trabalhando em ambientes tão masculinos?” Nessa fase, Fernanda largou o emprego para abrir uma empresa de tecnologia com amigos e aproveitar o boom da internet. Percorreu durante 30 dias o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, voltou para o mercado financeiro e tentou conciliar os esportes com retiros espirituais. Foi quando o amigo Fernando Prado, então diretor do CSFB Garantia, deu a dica: “Você tem que trabalhar com o Roger”.

Inglês naturalizado brasileiro, Roger Wright já tinha construído uma sólida carreira no mercado de capitais — era considerado uma das principais revelações sob a tutela do financista Jorge Paulo Lemann. Quando conheceu Fernanda, estava montando a Arsenal Investimentos. “Você quer ser o braço direito dos empresários deste País?”, ele perguntou. “A conversa com Roger mudou tudo”, diz ela. Entre ensinamentos e valores que Fernanda replica hoje na Wright Capital como um legado, há uma regra: não ter ou vender nada, a fim de estar sempre ao lado do cliente. “Achei maravilhosa a ideia de não precisar enganar ninguém vendendo produtos ou cobrando taxas escondidas.”

Em 2007 e 2008, ela acompanhou de perto o envolvimento de Wright para viabilizar financeiramente a candidatura brasileira à Olimpíada de 2016. “Ele acreditava que trazer os jogos para o Brasil seria uma forma de o setor privado entender como o esporte transforma uma nação.” Quando o Rio de Janeiro passou à segunda fase do processo seletivo, os empresários foram excluídos da gestão do projeto, a partir dali encampado pelo governo. “Ele ficou muito chateado.”

Depois do acidente que vitimou Wright e sua família, Fernanda descobriu que a iniciativa relacionada à Olimpíada não era um caso isolado. O empresário ajudava numerosas ONGs, em silêncio. Foi assim que a economista decidiu assumir o seu lado idealista e ativista. Em 2010, fundou a LiveWright, uma organização de sociedade civil de interesse público com o objetivo de ajudar a formar atletas de alto rendimento. Com o apoio de amigos e do irmão de Wright, a organização colecionou vitórias expressivas (a conquista de medalhas em esportes como ginástica olímpica, ciclismo e atletismo), mas enfrentou muitas resistências políticas e acabou “congelada” no ano passado.

Nada, porém, que esmoreça a “busca de propósito” de Fernanda. Todo o aprendizado que teve sobre gestão e política no esporte ela aplica hoje como conselheira da ONG Atletas pelo Brasil. “Com os atletas na linha de frente é mais fácil enfrentar os lobbies”, avalia. Da mesma forma, ela comemora o fato de ter conseguido levar o conceito de investimento de impacto social para o modelo de negócios da Wright Capital. “Assinamos o contrato com o primeiro cliente no Natal, numa favela em que ele mantinha um projeto social, com as crianças cantando em volta. Eu pensava: não é possível, o Roger está mandando isso de algum lugar. Chorei durante cinco dias.”

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Rotina – Ela “mistura tudo” no trabalho da Wright Capital. “Os amigos acabam virando clientes; os clientes, amigos. E carrego tudo o que dá para o lado espiritual.” O trabalho na ONG, porém, não é full-time. “Ajudo apresentando empresas, conversando com CEOs, levantando recursos.”

Uma crença – “Estudei muito a cabala e aprendi que a vida é como um receptor. Quem doa se transforma num canal e recebe o infinito. Mas, para ter esse desprendimento, é necessário um trabalho espiritual.”

Esporte – Fernanda pratica natação, na piscina ou em travessias no mar, e está aprendendo a surfar, por causa do namorado e sócio Alexandre Lindenbojm. “Nos fins de semana vamos para praias com onda, em geral Maresias (SP)”.

Uma vitória – Quando conseguiu, em 2013, junto com atletas como Ana Moser e Raí, a aprovação pelo Congresso Nacional do artigo 18-A da Lei Pelé. O texto limita a reeleição nas confederações esportivas e exige transparência nas prestações de contas das entidades. “Não adianta formar heróis olímpicos se não mudarmos o sistema nacional de esportes.”

Momento difícil – Depois da morte de Wright, enfrentou um dilema quando a Gávea Investimentos, em fusão com a Arsenal, teve o controle vendido para o banco J.P. Morgan. “No contexto de quem cuida das famílias e as protege dos bancos, eu não poderia continuar lá. Tive que abrir mão da minha participação, porque pelo contrato precisava ficar quatro anos. Foi uma decisão maluca, só pelos princípios. Foram noites sem dormir.”

Um cuidado com a saúde – É o “terror da nutricionista”, porque intercala sucos “detox” com temporadas de “enfiar o pé na jaca”. Em compensação, faz retiros espirituais regularmente, não bebe nem fuma. “Só um cigarrinho de cravo de vez em quando.”

Uma inspiração
– Roger Wright. “Uma pessoa espetacular, que deixou um vazio imenso.”

Conselho para quem está começando – “Além de buscar um propósito, a nova geração precisa ser mais paciente. Na vida profissional a gente não faz só ‘coisa legal’. Tem que fazer ‘coisa chata’ também.”

Uma vaidade – Foi à dermatologista depois de oito anos sem consultas. “Se pegassem 10% do que gastam em botox e colocassem em um projeto social, as mulheres ficariam muito mais felizes e bonitas, por terem ajudado outras pessoas.”

Viagem marcante
– A caminhada que fez sozinha, durante 30 dias, em Santiago de Compostela, na Espanha. “É uma metáfora da vida”.


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