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O ministro capiau
Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda: “O acaso beneficia quem se prepara”

retrato2Quando visita a mãe em Cruz do Espírito Santo, no interior da Paraíba, o economista Mailson da Nóbrega costuma observar os garotos que caminham pelas ruas da cidadezinha de 3 mil habitantes. Entre eles, despontará um “novo Mailson”?, pergunta-se. Ele já sabe a resposta: sua trajetória pessoal permanece como exceção. “Minha cidade ainda é muito pobre”, conta. “E nem existe mais aquela possibilidade de passar no concurso público para o Banco do Brasil como quem ganha na loteria.” Ao conquistar a vaga de escriturário, o jovem Mailson (junção de “Ma”, da mãe costureira Maria, com “ilson”, do pai alfaiate Wilson) foi saudado como herói e tornou-se o arrimo dos nove irmãos menores.

Mas que ninguém imagine Mailson defendendo a volta dos bons tempos das estatais e das carreiras no serviço público. Nos últimos anos, o ex-ministro da Fazenda e atual sócio da consultoria Tendências vem justamente se dedicando a professar as ideias liberais, como palestrante e colunista, além de participar em conselhos de administração de empresas privadas. “Sou um exemplo de que a cultura antiliberal do Brasil pode mudar”, diz. “Durante muito tempo, acreditei que a Petrobras e o Banco do Brasil deveriam ser estatais. Porém, as leituras e o contato com outras realidades me fizeram perceber que só entraremos para o grupo de países ricos se vencermos a nossa mentalidade anticapitalista.”

Mailson estende seu raciocínio ao Projeto de Lei 4.330, que regulamenta a terceirização da mão de obra (“precisamos vencer a barreira da legislação trabalhista”); comenta que a Tendências é contra a ideia de pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff (uma reunião semanal sobre conjuntura uniformiza o discurso da consultoria); e explica as análises macroeconômicas que o levaram a escrever em abril uma coluna intitulada “Longe do colapso”, na revista Veja. Embora crítico ferrenho da gestão do PT, o ex-ministro mantém-se um otimista. “O meu temperamento pode contar, mas o que realmente ajuda nessas análises é a experiência de ter vivido o governo em momentos de grande crise. Por qualquer aspecto econômico que se observe, o Brasil está melhor hoje.”

Em seus primeiros passos no Executivo, porém, Mailson estava longe de ser o intelectual autodidata que cita com frequência a história da Inglaterra e o prêmio Nobel de Economia Douglass North. Era um burocrata. “Naquela época, o governo precisava mais de operadores que de formuladores”, justifica. Em dezembro de 1987, depois de uma carreira repleta de saltos e tecnicamente impecável, tanto no Banco do Brasil como nos Ministérios da Fazenda e da Indústria e Comércio, Mailson seria convidado pelo presidente José Sarney a assumir a Fazenda, no lugar do demissionário Luiz Carlos Bresser-Pereira. Era a pessoa certa no lugar exato — no caso, a secretaria-geral do Ministério. “Nunca poderia imaginar um capiau do interior da Paraíba em um posto que era exercido por grandes nomes de prestígio nacional e acadêmico. Não estava no meu cenário.” Ele tocou a pasta, num dos períodos mais turbulentos da história econômica brasileira, até o fim do governo, em 1990.

“Cada vez que repasso minha trajetória, em depoimento ou entrevista, percebo que vivi uma história de sonho”, afirma ele. Mailson tem feito reflexões pessoais com alguma frequência, desde que se aproximou dos 70 anos. Em 2010, aos 68, lançou sua autobiografia, Além do feijão com arroz, título que remete à “política do feijão com arroz” adotada por ele no ministério sem lançar mão de artifícios como congelamento de preços. Em 2013, idealizou o documentário O Brasil deu certo. E agora?, dirigido por Louise Sottomaior e exibido no cinemas em 11 capitais. O filme relembra os avanços econômicos e discute os rumos do País. No ano passado, foi a vez de dar seu depoimento à coleção O que a vida me ensinou, da editora Saraiva.

Na análise da própria trajetória, Mailson parece atribuir o sucesso daquele capiau sem chances a uma série de acasos que pontuaram cada etapa de sua vida. Na infância, por exemplo, uma suposta vocação sacerdotal vislumbrada pelo padre da cidade levou a família a prolongar os estudos do filho mais velho em João Pessoa. Seu destino natural, depois de completo o ensino primário, seria trabalhar nas usinas de cana da região. Já no auge da carreira no serviço público, ocupando um cargo de pouco destaque em Londres, foi beneficiado pela necessidade política de nomear um nordestino como secretário-geral do ministério da Fazenda. Era uma compensação ao veto imposto ao então governador do Ceará Tasso Jereissati para o posto principal.

Então, foi pura sorte? Mailson sabe que não: “O acaso beneficia quem se prepara”, reflete, assumindo o próprio mérito. E se houve algo que ele diligentemente fez, nos 73 anos a se completar em 14 de maio, foi se preparar. Os nove irmãos e a mãe de 92 anos, que ele reencontra periodicamente na Paraíba, como a esposa Rosa e os cinco filhos de dois casamentos, com idades entre 21 e 50 anos, são testemunhas.

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Foto: Régis Filho


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