
O Banco Central, por fim, deu início ao aguardado ciclo de alívio. Na quinta reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 2023, realizada terça-feira passada, a taxa básica de juros da economia foi reduzida pela primeira vez em três anos. A magnitude do corte era esperada em certa medida, mas não a principal aposta dos agentes financeiros. A taxa caiu 0,50 ponto percentual, para 13,25% ao ano.
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A média das projeções dos economistas apontava para uma queda de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros — e esse também era o desejo de quatro diretores do BC. Mas outros quatro membros do Copom votaram pelo ajuste de 0,50 ponto, decisão acompanhada pelo presidente da autoridade monetária. O mercado se surpreendeu com a forma como Roberto Campos Neto, que sempre adotou um tom mais duro sobre o controle da inflação e grande dose de parcimônia com a redução de juros, desempatou a votação.
“Agora a ata da reunião terá a tarefa de deixar mais claras as visões diferentes desses dois grupos”, afirma Marcos de Marchi, economista-chefe da butique de investimentos Oriz Partners. A minuta do encontro sairá na terça-feira desta semana. O BC não só iniciou o ciclo de redução da Selic com um corte mais robusto da taxa básica de juros, como apontou para quedas de mesma intensidade nas próximas reuniões, no comunicado que acompanhou sua última decisão.
Após a mensagem, os economistas começaram a revisar para baixo suas projeções para os juros ao final deste ano. Agora, o Itaú acredita que a taxa básica terminará 2023 em 11,75% — e não mais em 12%, como previa anteriormente.
Até quando?
“O comitê indicou, por unanimidade, que vai manter o ritmo de corte em 50 pontos-base nas próximas reuniões, mas não se deve descartar uma aceleração ao final do ano ou até antes disso”, diz Mário Mesquita, ex-diretor de Política Econômica do Banco Central e hoje economista-chefe do Itaú. Mesquita observa que os mandatos de dois membros do comitê que votaram pela redução mais branda terminam no final deste ano. Assim, caso haja substituição dos diretores, as chances são maiores de o Copom se tornar mais dovish, ou seja, mais disposto a baixar juros.
O economista André Perfeito, entretanto, acredita que o BC tende a agir rápido e acabar com o ciclo de alívio já no início do ano que vem. “A autoridade monetária deixou claro que pretende ainda deixar a taxa básica de juros no campo contracionista, para assegurar a convergência das expectativas de inflação”, diz Perfeito. Sua previsão é de que o Copom interrompa a sequência de cortes quando a Selic atingir 10,75% ao ano.
Rumo a ativos com mais risco
Mesmo que mais baixos, juros na casa de dois dígitos continuam a fomentar a preferência dos investidores pela renda fixa, que ainda vai prover retornos robustos com baixo risco. Mas a tendência de queda já pavimenta o caminho para uma retomada das ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) após um jejum de dois anos. “Não há dúvida nenhuma de que o ciclo de redução de taxa de juros está contratado”, disse Octavio de Lazari, presidente do Bradesco. O executivo falou a investidores em teleconferência sobre os resultados trimestrais do banco, divulgados na última semana. Segundo ele, há ânimo para algumas operações de renda variável ainda este ano.
A taxa básica de juros alta não só diminui o apetite por risco do investidor como também eleva os custos de captação, seja por meio de emissão de ações ou títulos de crédito privado. Torna, assim, o financiamento das empresas mais caro e impacta negativamente os planos de investimento.
Nos últimos meses, os emissores vêm se preparando para o início do ciclo de alívio. E a atual onda de ofertas subsequentes de ações (follow- on) é um exemplo disso. Uma recente oferta de certificados de recebíveis do agronegócio (CRA) pela trading internacional de commodities Engelhart captou 3,5 bilhões de reais. Mostrou, dessa forma, a sede do investidor do varejo em meio à escassez de ofertas de ativos com essa natureza. Elas haviam se tornado mais onerosas para os emissores diante de uma Selic alta por tempo prolongado.
Crédito privado
Os juros elevados aumentam o prêmio exigido pelos investidores para carregar títulos privados. E escândalo contábil envolvendo a Americanas no começo deste ano piorou o cenário, estimulando resgates dos fundos do mercado de crédito. Mas, com a inflação mais moderada e após o primeiro corte na Selic, novas emissões como a da Aegea tendem a se repetir. A companhia captou 5,5 bilhões de reais com debêntures simples no último mês de junho.
Por enquanto, é possível dizer que o Banco Central deu uma resposta à altura dos segmentos do mercado de capitais que se preparavam, desde a primeira metade do ano, para um ciclo de queda de juros. Resta saber se o comportamento da inflação vai ajudar a manutenção do ritmo de cortes. Os emissores conhecem os ventos contrários e, ainda que pareçam cautelosos, se mostram animados com a perspectiva de uma retomada. A conferir.
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