Plataforma de voto: novata surpreende ao lançar-se no mercado sem aval de companhias
Ilustração: Rodrigo Auada

Ilustração: Rodrigo Auada

Uma nova plataforma de representação de acionistas em assembleias surgiu no mercado brasileiro. No dia 1o de março, a BRF lançou um pedido público de procuração para sua assembleia geral ordinária (AGO) de abril e informou aos acionistas que poderiam enviar as procurações eletrônicas por meio da novata Centuriata. Além da BRF, até o fim do dia 7 de março, 62 companhias integravam o calendário de votação da plataforma, que disponibilizava uma espécie de ficha por empresa.

Em cada uma dessas fichas constava a data de realização da assembleia, o prazo para envio do voto e um botão com a inscrição “votar” [toque e confira a lista de assembleias disponíveis até 7 de março]. Ao clicar nele, o usuário era direcionado a uma tela de cadastro. A adesão massiva à plataforma chamou a atenção da reportagem de SELETAS, que entrou em contato com as áreas de relações com investidores (RIs) da maioria das empresas relacionadas — a lista inclui até companhias que fecharam capital, como a Bematech, cujo registro foi cancelado em fevereiro. Os RIs de 23 companhias retornaram com informação idêntica: não conheciam a Centuriata e não haviam contratado seus serviços.

A surpresa foi geral. Por meio de sua assessoria de imprensa, a BR Malls informou que “nunca contratou qualquer serviço da empresa mencionada e desconhece o motivo de seus dados constarem no link enviado [pela reportagem]”. A BR Insurance, além de ter afirmado desconhecer a Centuriata, esclareceu que ainda nem divulgou o material que subsidiará a assembleia — o mesmo foi dito por outras consultadas.

Votar

O surgimento de uma plataforma de voto desconhecida entre as companhias gerou desconfiança nas áreas de RI. “O risco é o meu acionista utilizar essa ferramenta achando que está participando da assembleia, quando não está”, disse o executivo de uma das empresas procuradas pela reportagem. “Não consideraremos esses votos”, declarou outro, antes mesmo de compreender como o serviço seria prestado.

Segundo Bruno Menichetti, fundador da Centuriata, um dos serviços oferecidos pela empresa é o de procuração eletrônica (também conhecida como proxy voting). “Coletamos votos de investidores pessoa física para incentivar a participação em assembleias”, afirma. Para usar o sistema, o acionista precisa pagar R$ 99 ao ano. Por esse valor, terceiriza a contratação de um procurador que o representará em todas as assembleias incluídas na plataforma e para as quais comprove ser o titular de ações.

Os outros serviços que a Centuriata afirma prestar são indicação de conselheiros independentes; consultoria de voto (proxy advisory), serviço mundialmente dominado por ISS e GlassLewis; e boletim de voto (cédula padronizada que antecipa votos para as AGOs). Em seu site, a Centuriata diz oferecer “serviços para custodiantes e escrituradores, na gestão do boletim de voto a distância”. O mecanismo, cabe ressaltar, ainda não foi adotado pelo mercado. Será testado, voluntariamente, por seis companhias nas assembleias ordinárias deste ano e, por ora, sem a participação dos bancos custodiantes e escrituradores. Somente em 2017 a adoção pelas integrantes do IBrX-100 será obrigatória e, no ano seguinte, a regra valerá para as demais companhias. Quando a reportagem perguntou a Menichetti como pretende explorar o serviço de boletim de voto, ele desconversou. “Não sei, ainda não presto esse serviço”, respondeu, avisando que retirará o item do rol de soluções oferecidas.

O site da Centuriata foi atualizado ao longo da apuração desta reportagem. O serviço de proxy advisory deixou a lista de soluções ofertadas pela empresa, assim como a relação de todas as assembleias incluídas sem o conhecimento das companhias. No dia 10 de março, data de fechamento desta edição de SELETAS, apenas a assembleia da BRF integrava o calendário de votação.

A BRF confirmou a contratação da Centuriata. Por meio de sua assessoria de imprensa, a companhia disse que a plataforma “auxiliará na obtenção de procurações de forma a facilitar a participação de seus acionistas na assembleia geral”. Por cerca de oito anos, a BRF foi a empregadora de Bruno Menichetti, que atuou na área de relações com investidores e governança.

A Centuriata foi oficialmente constituída em outubro de 2015. Mas, até hoje, não prestou nenhum dos serviços que oferece em seu site. Questionado sobre a ousadia de lançar um site para captação de votos em assembleias de 63 companhias abertas, Menichetti afirmou que pretendia tão somente “fazer um bem ao mercado”: “Na BRF, percebi a dificuldade de atrair pessoas físicas para os encontros e resolvi estimular isso”.


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