Mesmo tendo assumido compromissos públicos para neutralizar as emissões de gases do efeito estufa até 2050, instituições financeiras continuam a direcionar uma enxurrada de dinheiro para o financiamento de companhias de combustíveis fósseis, em especial as de carvão. Segundo relatório elaborado por 28 organizações não governamentais (ONGs), os bancos emprestaram, mundialmente, mais de 1,5 trilhão de dólares para essa indústria entre janeiro de 2019 e novembro de 2021.
O problema é que a redução do uso de carvão é peça-chave para que as economias alcancem o chamado “net zero” — ou seja, a neutralização de suas emissões de carbono — até 2050. Hoje, o setor é responsável por quase um quarto das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera. Não à toa, na COP26, realizada em Glasgow em novembro passado, mais de 40 países assumiram o compromisso de acabar com o uso desse combustível fóssil. Grandes consumidores como China, Índia e Estados Unidos, no entanto, não assinaram o acordo.
Além dos governos, empresas e instituições financeiras assumiram publicamente seu compromisso com o net zero. Mas o que o estudo das ONGs mostra é que os bancos continuam a financiar mais de 1 mil empresas envolvidas com mineração, venda e transporte de carvão. Ainda de acordo com a pesquisa, mais de 85% dos empréstimos foram feitos por instituições de seis países: China, Estados Unidos, Japão, Índia, Reino Unido e Canadá.
De acordo com Katrin Ganswind, líder de pesquisa do grupo alemão Urgewald, responsável pelo estudo, os bancos argumentam que os financiamentos ajudam as empresas da indústria de carvão a fazerem a transição energética. Porém, na sua visão, quase nenhuma das companhias que recebeu recursos está promovendo as mudanças necessárias. “E elas têm pouco incentivo para fazer isso, uma vez que os banqueiros continuam oferecendo financiamentos para elas”, disse Ganswind, à agência Reuters.
Entre janeiro de 2019 e novembro de 2021, os empréstimos diretos para companhias de carvão somaram 373 bilhões de dólares. Os bancos japoneses Mizuho Financial e Mitsubishi UFJ Financial, ambos membros da Net Zero Banking Alliance, foram identificados como os maiores financiadores. Já os aportes feitos por investidores institucionais em empresas de carvão somaram 469 bilhões de dólares no período. A gestora de recursos americana BlackRock liderou o ranking, com 34 bilhões de dólares investidos.
Em janeiro, o presidente da BlackRock, Larry Fink, se pronunciou dizendo que parar de investir em setores inteiros de uma só vez não iria levar o mundo a cumprir as metas de carbono zero. “As companhias de setores responsáveis por muitas emissões de carbono estão transformando seus negócios e suas ações são fundamentais para a descarbonização”, escreveu o executivo na sua carta anual para CEOs.
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