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O desapego transformador que leva empresários a doar seus negócios
Movimento anunciado por fundador do Grupo Gaia é grande e ousado, mas não inédito
O desapego transformador que leva empresários a doar seus negócios
Os Chouinards doaram 98% da empresa para a Holdfast Collectiva, uma organização sem fins lucrativos que atua no combate às mudanças climáticas | Imagem: Freepik

A Patagônia é famosa pelos seus coletes de lã utilizados por operadores do mercado financeiro e empreendedores do Vale do Silício. Uma moda que chegou, inclusive, aos escritórios da Faria Lima, em São Paulo. A empresa fatura mais de 1 bilhão de dólares por ano com a venda de roupas esportivas — e o hype garantiu ao seu fundador, Yvon Chouinard, um lugar na cobiçada lista de bilionários da Forbes. A conquista, contudo, não agradou o empresário, que manifestou irritação ao ver seu nome no ranking. 


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Chouinard já era conhecido por suas façanhas como montanhista profissional quando fundou a Patagônia, em 1973. O negócio surgiu do hobby de produzir o próprio equipamento para escaladas. Antes de se tornar empresário, Chouinard vivia como nômade, morando dentro do próprio carro e se alimentando de ração para gatos que comprava por poucos centavos, conforme contou ao The New York Times. E ele fez questão de manter hábitos simples depois que enriqueceu. Chouinard não mora em mansões, não tem computador, nem celular.  

Desde a década de 1980, a Patagônia reservava um percentual de suas vendas para financiar grupos ambientais dos Estados Unidos. Logo se tornou uma das principais representantes do capitalismo consciente, enxergando o negócio além do aspecto financeiro. Foi uma das primeiras varejistas de moda no mundo a utilizar somente algodão orgânico na fabricação de suas peças.  

A Patagônia chegou a fazer propaganda contra seus próprios produtos, na tentativa de desestimular o consumo desenfreado. Pagou fiança de funcionários presos por protestarem a favor de causas ambientais e sociais. Processou o então presidente Donald Trump, que pretendia retirar a proteção do governo norte-americano sobre importantes sítios arqueológicos do país. Uma vez conhecido, seu histórico parece justificar o gesto mais “radical” assumido por Chouinard no mês passado. 

Excêntrico ou consciente? 

O empresário tem sido chamado de “ex-bilionário” desde que decidiu, em conjunto com a família, colocar o total de lucros da Patagônia a serviço de causas ambientais. Os Chouinards doaram 98% da empresa para a Holdfast Collectiva, uma organização sem fins lucrativos que atua no combate às mudanças climáticas. Os outros 2%, incluindo todas as ações da empresa com direito a voto, foram transferidos para um trust, cuja missão é garantir que o negócio se mantenha socialmente responsável.  

“É um grande alívio ter organizado minha vida. Para nós, foi a solução ideal”, diz o comunicado da Patagônia, escrito por Yvon Chouinard. No texto, em tom de desabafo, ele também afirmou que nunca quis ser empresário e falou do incômodo em fazer parte de uma lista de bilionários. “Não tenho 1 bilhão de dólares na minha conta”, disse ele.  

A experiência escandinava 

A mesma Forbes que alçou Chouinard ao status de um dos homens mais ricos do mundo publicou reportagem afirmando que o movimento do fundador da Patagônia é grande e ousado, mas não inédito. Em países da Escandinávia, é comum grandes empresas serem geridas por fundações, que utilizam os lucros das companhias de acordo com a decisão de um conselho independente. Ikea, Rolex e Carlsberg estão nessa lista. Na Dinamarca, 25 das 100 maiores empresas têm esse perfil. De acordo com a reportagem, a farmacêutica Novo-Nordisk, por exemplo, contribui com mais de 10% da pesquisa e do desenvolvimento médico do país, por conta dessa estrutura. 

Privilégios para o bem 

A Forbes reconhece que Chouinard estabeleceu um precedente para outras empresas dos Estados Unidos e seus líderes. Sugere, inclusive, que o megainvestidor Warren Buffett siga pelo mesmo caminho. Em 2006, Buffett se comprometeu a doar 99% de sua fortuna. Até agora, já distribuiu metade.  

No Brasil, o empresário João Paulo Pacífico tomou decisão semelhante à de Chouinard. Divulgou na semana passada que vai doar o Grupo Gaia, do mercado financeiro, a uma ONG de impacto social, criada para assumir o controle da empresa. O patrimônio dessa nova estrutura já começou a ser constituído, com os recursos obtidos na venda da Planeta, subsidiária da Gaia, em março deste ano.  

“Reconhecer os privilégios que nos deram poderes e usá-los com responsabilidade é o mínimo que quero fazer”, disse Pacífico, em publicação nas redes sociais. A atitude do empresário foi celebrada por seus seguidores, mas alguns acharam a decisão drástica.  

“De um lado vejo monstruoso desapego. Acredito que transformador. Contudo, eu acredito em investidores, investimentos que patrocinam o crescimento através do crescimento”, escreveu um usuário.  

Fato é que a própria Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece que uma fração da fortuna dos bilionários solucionaria o problema da fome no mundo. E enquanto alguns preferem torrar montanhas de dinheiro lançando foguetes que não decolam, outros parecem dispostos a abrir mão de suas fortunas em nome de causas relevantes para a humanidade. Visões de mundo que estão deixando de ser apenas nobres para se tornarem urgentes.  

 

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