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Mercado privado quer criar portas de saída para o investidor
Setor de private equity e venture capital desenvolve soluções para antecipar resgate de investimentos e atrair bolsos menores
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Hoje, o investidor de private equity não tem liquidez por prazos que podem superar dez anos, o que se torna uma barreira de entrada | Imagem: Freepik

Uma das discussões prioritárias dos órgãos reguladores do mercado de capitais em 2022 é a mudança na classificação de investidores que podem fazer aportes em ativos mais sofisticados. Atualmente, essas aplicações costumam ser restritas ao investidor qualificado, que, pela definição atual da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), precisa ter entre 1 milhão e 10 milhões de reais em patrimônio financeiro. A Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) quer que esse conceito seja revisto. “Quantidade de patrimônio não deveria ser medida para afirmar que a pessoa tem conhecimento e entende de riscos”, defende Pedro Rudge, diretor da entidade e fundador da Leblon Equities.


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Uma eventual mudança regulatória nesse sentido poderia abrir o segmento de investimentos alternativos, como private equity, venture capital e distressed assets, para o varejo. “Em um país de juros altos e restrições de financiamento, a possibilidade de as empresas acessarem um bolso que hoje não está disponível seria muito boa”, ressalta Rudge.

Os investimentos em private equity e venture capital no Brasil saltaram de 23,6 bilhões de reais em 2020 para 53,8 bilhões de reais em 2021, segundo levantamento da AbvCap (Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital). A taxa básica de juros — de 2% ao ano na época — ajudou a fomentar esse mercado nos dois primeiros anos de pandemia. Mas mesmo com a Selic alcançando dois dígitos no primeiro trimestre deste ano, os investimentos direcionados ao capital de risco continuaram a crescer. Entre janeiro e março, eles somaram 11,5 bilhões de reais, montante 7,5% superior ao registrado no mesmo período de 2021. 

E a visão de especialistas é que a captação de recursos nesse segmento poderia avançar ainda mais se, além de permitir o ingresso de investidores não qualificados, um mercado secundário para negociação de cotas de private equity e venture capital se desenvolvesse no Brasil. Hoje, o investidor que aplica seus recursos nesse tipo de investimento não tem liquidez por prazos que podem superar dez anos, o que se torna uma barreira de entrada. “O IPO, que é uma das portas de liquidez para o investidor, não é acessível para todas as empresas. Por isso, a necessidade de um mercado secundário. Se em 1999 as empresas demoravam quatro anos para abrir o capital, em 2019 a média de tempo passou a ser de 11 anos”, observa Camila Nasser, CEO do Kria, plataforma que fomenta o investimento coletivo em startups (equity crowdfunding).

Cabe ressaltar que, a partir deste mês, esse tipo de captação passa a ser regulado pela Resolução 88 da CVM, que substituiu a Instrução 588. A norma ampliou os limites de valores dessas operações, dos aportes dos investidores e do tamanho das empresas que podem utilizar o instrumento. Porém, estabeleceu algumas amarras para o funcionamento de um mercado secundário. As plataformas, como a Kria, estão autorizadas a intermediar negociações de valores mobiliários já emitidos publicamente por startups, desde que a empresa tenha feito ao menos uma oferta pública em seu ambiente. A norma determina, ainda, que esse mercado de transações subsequentes esteja disponível exclusivamente para investidores registrados na plataforma que já tenham participado de pelo menos uma transação de crowdfunding.

Atualmente, duas plataformas que atuam nesse setor foram autorizadas pela CVM a testar um mercado secundário de ativos de startups por meio do sandbox regulatório da autarquia: SMU e BEE4. O sandbox é um “ambiente experimental”, em que alguns projetos selecionados ganham aval temporário para desenvolver inovações com o acompanhamento da CVM. “A autarquia vai trabalhar perto desses dois agentes para consolidar e construir uma estrutura básica de mercado secundário para todas as plataformas”, explica Camila.

Questão de competitividade

As gestoras de recursos também têm desenvolvido estratégias e ferramentas próprias para aumentar a liquidez do mercado de investimentos alternativos e atrair mais investidores. É o caso do fundo de fundos da Carbyne Investimentos, que estreou no ano passado, em parceria com a norte-americana Portfolio Advisors. Os recursos são aplicados em cotas de fundos de investimento em participação (FIPs) negociadas no mercado secundário de private equity dos Estados Unidos e da Europa. O lock-up, período em que o investidor é obrigado a manter o ativo em carteira, é de três anos — bastante inferior ao que se vê nos fundos tradicionais de capital de risco — e o investimento mínimo para ingressar no veículo é de 10 mil reais, ainda que ele seja exclusivo para investidores qualificados. “Não faz sentido que só os ricos tenham acesso às classes de ativos mais sofisticadas. Precisamos da ajuda do regulador para mudar isso”, frisa Filipe Caldas, sócio-fundador da Carbyne.

Com uma base de 40 mil clientes que investem em fundos alternativos, a XP criou uma plataforma que permite a negociação de cotas de fundos de private equity, venture capital e outras classes de ativos que têm ciclos longos de investimento. A ferramenta foi pensada com o objetivo de fomentar o mercado secundário e, assim, oferecer uma porta de saída para os investidores antes do prazo de resgate. Na visão da XP, essa possibilidade pode, inclusive, ajudar a destravar ofertas primárias e atrair alocações maiores.

Já em maio deste ano, a gestora Catarina Capital lançou o “Secundus”, um fundo que compra participações de acionistas em startups maduras. O público-alvo são investidores-anjo, sócios-fundadores, fundos de investimento e detentores de stock options que queiram se desfazer de sua parte, de forma total ou parcial, sem ter que esperar por um evento de liquidez, como a venda da companhia para um sócio estratégico ou sua abertura de capital.

Iniciativas como essas mostram que o mercado tem buscado ativamente formas de prover liquidez para os investimentos alternativos. A estratégia é também uma questão de competitividade. Afinal, com investimentos de curto prazo rendendo acima de 12% — com risco mínimo — gestores de private equity e venture capital precisam encontrar caminhos para tornar essa classe de ativo mais atrativa.

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