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Empresas brasileiras negligenciam combate ao desmatamento
Apesar da crescente preocupação com questões ambientais, companhias pecam em não ter metas orientadas para a preservação das florestas
Empresas brasileiras negligenciam combate ao desmatamento
Dos 500 grupos empresariais avaliados globalmente pela Canopy, 43% não possuem qualquer compromisso com a preservação florestal | Imagem: freepik

Na tríade ESG, o fator ambiental é um dos pilares que mais recebem atenção das companhias, diante da pressão dos stakeholders para que elas não se omitam no combate à emergência climática. No entanto, pesquisas recentes revelam que um tema crucial — e bastante óbvio — dentro desse espectro continua sendo negligenciado pela maioria das empresas. Um levantamento da consultoria Luvi One com as 384 empresas listadas na B3 mostra que apenas 16% têm algum tipo de meta voltada à preservação de florestas. O grupo de companhias que definem prazos para colocá-las em prática é ainda menor — corresponde a 5%.

Na opinião do presidente da Luvi One, Felipe Gutterres, os números refletem a crença equivocada de muitas empresas que a redução do desmatamento é responsabilidade dos governos, e que a iniciativa privada tem papel de figurante nessa discussão. Porém, com os consumidores e investidores exigindo que as organizações adotem iniciativas voltadas à preservação das florestas, a tendência é que esse cenário se modifique. O problema é a demora para essa mudança acontecer — e as consequências da lentidão.

Dados do Instituto Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) mostram que um ano após atingir a maior derrubada da floresta amazônica em pelo menos 14 anos, o Brasil caminha para um novo recorde de desmatamento em 2022. Apenas em fevereiro deste ano, foram destruídos 303 quilômetros quadrados de mata nativa na Amazônia Legal, o que equivale ao tamanho de Fortaleza. Em relação ao mesmo mês de 2021, a destruição aumentou quase 70%.

Fora do combinado

Na COP26, conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, que aconteceu no ano passado, em Glasgow, o Brasil e mais cem países assinaram o “Forest Deal”. O acordo prevê 19,2 bilhões de dólares em recursos públicos e privados para zerar o desmatamento no mundo até 2030. A preservação das florestas é fundamental para a ambição global de limitar o aumento da temperatura do planeta a menos de 2°C em relação aos níveis pré-industriais. Porém, apenas em 2020, o mundo perdeu 258 mil quilômetros quadrados de floresta, segundo a iniciativa de rastreamento Global Forest Watch. Para se ter uma ideia, essa área é maior do que o Reino Unido.

E essa perda ocorre apesar do desenvolvimento de soluções cada vez mais eficazes para o combate ao desmatamento. Atualmente, com o auxílio de ferramentas baseadas em satélite, as empresas já podem rastrear, quase em tempo real, o que ocorre na sua cadeia de suprimentos. O monitoramento da cadeia de custódia de commodities igualmente tem se tornado mais fácil, inclusive para produtos como o óleo de palma, que é despejado em contêineres gigantes em navios e pode ser misturado com óleo de vários produtores.

“Uma das principais razões para o fracasso do combate ao desmatamento é simplesmente a falta de ação ou de investimento das empresas nas mudanças necessárias”, sintetiza Sarah Draper, gerente do programa de desempenho corporativo da ONG Global Canopy, em entrevista à Fast Company. Criada em 2001, a organização britânica compila e analisa dados de companhias que atuam em cadeias de abastecimento com risco de desmatamento, como óleo de palma, soja, carne, papel, madeira e couro.

Um dos principais trabalhos da ONG é a publicação do ranking Forest 500, no qual atribui notas a 350 companhias e 150 grupos do setor financeiro. A pontuação leva em consideração os compromissos que as empresas adotam contra o desmatamento, as ações implementadas com esse objetivo e o nível de transparência das iniciativas. No ranking divulgado no começo deste ano, das 26 companhias brasileiras avaliadas, 17 registraram pontuação ligeiramente inferior em relação à publicação passada, 7 tiraram nota zero e apenas duas melhoraram suas notas. A empresa brasileira mais bem colocada foi a multinacional do ramo do agronegócio Amaggi, seguida de Suzano, JBS, Minerva e SLC.

O desempenho decepcionante do setor privado com relação ao desmatamento, entretanto, não é uma exclusividade do Brasil. Dos 500 grupos empresariais avaliados globalmente pela Canopy, 43% não possuem qualquer compromisso com a preservação florestal. Outro dado alarmante é que dos 150 bancos analisados, apenas 20 adotam políticas que observam questões relacionadas a avanços no desmatamento na hora de conceder empréstimos. Não à toa, a ONG classificou as descobertas como “decepcionantes”. “A maior parte do progresso feito até agora foi por meio de iniciativas voluntárias e individuais. Isso significa que apenas algumas empresas líderes estão efetivamente atuando no combate ao desmatamento”, observa Draper. Por isso, ela considera que propostas legislativas que exijam que todas as companhias se engajem nessa causa são cruciais.

Dono da maior floresta tropical do mundo, o Brasil rema contra a maré. Usando a guerra na Ucrânia como pretexto, o presidente Jair Bolsonaro pediu urgência na tramitação, na Câmara dos Deputados, do PL 191/2020, que prevê a regulamentação da mineração em terras indígenas. Na visão dele, a norma poderia diminuir a dependência nacional de fertilizantes da Rússia, como o potássio. A iniciativa, entretanto, têm sido amplamente criticada pelo seu potencial de ampliar o desmatamento. Foi rechaçada, inclusive, pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), que conta com 127 empresas associadas, entre elas Vale, Votorantim, Samarco, Gerdau, Alcoa e ArcelorMittal. Se aprovado, o projeto será mais um duro golpe na preservação da floresta amazônica. E um sinal de alerta para todos os países que acreditaram no compromisso do Brasil com o Forest Deal.

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