A combinação de escassez de caixa com travamento do acesso das empresas ao crédito, configurada pelos efeitos econômicos da pandemia no Brasil, pode abrir espaço para os investimentos nos chamados distressed assets.
O distressed investing se concentra em ativos “problemáticos” de empresas em extrema dificuldade financeira, à beira de processos de recuperação judicial ou de falência. Pois, com a pandemia, não faltam candidatos a oferecer aos investidores dessa categoria ativos que, por seu elevado risco, podem gerar bons retornos no futuro.
Em evento promovido pela CAPITAL ABERTO, Salvatore Milanese, sócio da Pantalica Partners, afirmou que a quantidade de empresas em dificuldade financeira no País deve continuar em alta, salvo se elas responderem bem a eventuais medidas mitigadoras do problema. “Considerando as experiências em outros períodos de crise, como 2014 e 2015, estimamos que de 2,5 mil a 3 mil empresas devem pedir recuperação judicial no Brasil neste ano”, destacou.
Os setores mais atingidos são os que não têm condições de faturar adequadamente nos períodos de distanciamento social — casos notórios de academias, hotéis, companhias aéreas e de transporte rodoviário de passageiros. Vale lembrar também, como observou Guilherme Ferreira, sócio da Jive Investiments, de alguns setores menos óbvios, mas que igualmente sofrerão os impactos negativos da pandemia. “As concessionárias de rodovias são um exemplo. Altamente alavancadas, acabaram ficando com o balanço muito prejudicado pela redução de usuários nas estradas”, afirmou.
Na avaliação de Ferreira, mesmo sendo esta uma crise sem precedentes, o mercado de distressed está apto a encarar os ativos que ela coloca na mesa. “Os investidores de distressed assets já estão acostumados a tomar decisões baseados em informações incompletas ou imperfeitas, assumindo um risco maior. A falta de dados, no entanto, não mina a eficiência do negócio: é um tipo de capital que dificilmente realiza operações sem garantias”, pontuou.
Desafios para o distressed investing no Brasil
Mas o desafio, de fato, é maior agora. Em situações de normalidade, o risco que as empresas em dificuldade financeira representam é precificado por meio da análise dos números de uma projeção do caminho de recuperação da empresa a longo prazo. A pandemia, entretanto, impõe um problema adicional ao desenho desse longo prazo — afinal, não há elementos para se prever minimamente como a economia mundial vai se reerguer —, dificultando a precificação dos ativos.
Para Eugenio Marschner, diretor de investimentos da Highland Capital Brasil, a situação é de tal maneira crítica que muitas empresas são “ininvestíveis”, apesar de apresentarem características compatíveis com o distressed investing.
“O momento é tão nebuloso que o prêmio requerido é muito significativo, diante do risco extremamente alto. Mas à medida que se vislumbrar como será a retomada da economia, o mercado de distressed estará mais apto a assumir por completo o grande volume de ativos que estará disponível”, observou.
Para as empresas brasileiras potencialmente fornecedoras de distressed assets, uma questão adicional é a concorrência. Nesse período de pandemia, muitos investidores estrangeiros preferiram voltar suas atenções para as oportunidades nos Estados Unidos e na Europa, mercados com menos insegurança jurídica e sem grande volatilidade cambial.
“Embora tanto os distressed assets quanto o capital para capturá-los tenham aumentado, as oportunidades surgem em grande proporção em todo o mundo. Isso significa que o investimento estrangeiro fica diluído, e pode não fluir diretamente para o Brasil”, completou Marschner.
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