Cidades do futuro
Prefeituras brasileiras se preparam para adotar projetos baseados na internet das coisas
Ilustração: Rodrigo Auada

Ilustração: Rodrigo Auada

Os projetos dedicados ao desenvolvimento das chamadas cidades inteligentes — nome dado aos grandes centros urbanos que adotam a tecnologia para aprimorar sua infraestrutura de serviços — devem ganhar impulso nos próximos meses. Em parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) contratou a consultoria McKinsey para fazer um diagnóstico que resultará na proposição de um plano de ação estratégico para o País relacionado à chamada internet das coisas (IoT), tecnologia em que dispositivos dotados de sensores são conectados em rede para que possam trocar informações e efetuar ações sem interferência humana.

O documento deve ser entregue em novembro e irá nortear as linhas de atuação do banco e do governo entre 2018 e 2022. Há, inclusive, a perspectiva de abertura de uma linha de crédito voltada à viabilização de projetos que tornem as cidades inteligentes. “Hoje, o BNDES já apoia inciativas de georreferenciamento e de modernização da iluminação pública, vetores de novas tecnologias para as cidades inteligentes e que podem ser estruturados por meio de parcerias público-privadas [PPPs]”, afirma Eduardo Kaplan Barbosa, coordenador da frente de cidades do estudo de IoT do BNDES.

De olho no que vem sendo desenvolvido nessa área, a prefeitura de São Paulo trabalha na estruturação de projetos para modernização da iluminação pública, mobilidade urbana, saúde e segurança. Prefeituras de cidades localizadas nos estados do Espírito Santo, do Rio Grande do Sul e de Pernambuco também se mostram interessadas em firmar PPPs para o desenvolvimento de projetos apoiados em inovação tecnológica. “Quanto mais automatizados e inteligentes forem os serviços, melhores eles serão e será mais rápido acessá-los. Precisamos de governos que descompliquem a vida das pessoas”, enfatiza Daniel Annemberg, secretário de tecnologia e inovação da cidade de São Paulo.

Gerente de inovação da AES Brasil, Ricardo Kahn diz acreditar que as cidades inteligentes e a internet das coisas causarão um impacto profundo sobre os negócios das concessionárias. Não à toa, a AES criou um braço, a AES Ergos, especializada em projetos de eficiência energética e em soluções para diminuição de perdas, construção e manutenção de plantas de geração distribuída. Segundo estudo feito por uma consultoria a pedido da AES, esses serviços devem movimentar 19 bilhões de reais até 2020. “Os medidores inteligentes são uma parte visível da internet das coisas, e vamos começar a instalá-los ainda neste ano, em Barueri”, afirma Kahn. Na Califórnia, onde o uso da tecnologia na infraestrutura urbana é mais disseminado, 40% dos medidores de energia já são inteligentes — leem o consumo e ainda informam se o cliente está gerando sua energia por meio de placas fotovoltaicas (que transformam a radiação solar em energia elétrica).

Entraves

Um dos principais obstáculos ao avanço das cidades inteligentes é crise fiscal que atinge as prefeituras. Com o caixa depauperado e a arrecadação em queda, elas têm dificuldades em assegurar contrapartidas para PPPs. Uma forma de saírem do marasmo, curiosamente, seria a adoção de tecnologias que tornassem a arrecadação tributária mais eficiente. “Hoje, as prefeituras cobram apenas 30% dos tributos que deveriam por falhas”, constata Leonardo Luchiari, sócio da área de infraestrutura e direito público do BSH Law. “Para termos cidades inteligentes precisamos pensar em governos inteligentes”, destaca.

A visão é compartilhada por Romulo Horta, diretor de marketing da Huawei Enterprise. “Infelizmente, hoje há poucos gestores públicos capacitados para executar projetos voltados às cidades inteligentes”, lamenta. Na visão de João Thiago Poço, gerente de desenvolvimento de negócios da Microsoft Brasil, a tecnologia pode ser aliada na mudança dessa realidade. “Não tenho dúvida de que o big data [termo que designa uma grande quantidade de dados, organizados ou não] pode contribuir para a capacitação do gestor”, afirma.

Na opinião de Alessandro Hidalgo, gerente da Suez, os contratos de desempenho, muito comuns no setor de saneamento, poderiam ajudar as prefeituras a viabilizar iniciativas que tornassem as cidades mais inteligentes. Esses contratos funcionam da seguinte forma: por meio deles, o ente público contrata uma empresa privada para solucionar algum problema, como, por exemplo, perdas na rede de distribuição de água. Essa empresa então adota uma solução — que pode ser tecnológica — para atingir esse objetivo. Se ela for bem-sucedida, a tendência é que a receita operacional da concessionária pública aumente. Como contrapartida a essa melhora, ela divide parte desses ganhos com a contratada.


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