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A corrida do setor de energia por alternativas sustentáveis
Combate à crise climática impulsiona M&As e investimentos em startups voltadas a energias renováveis
A corrida do setor de energia por alternativas sustentáveis
Cresce no Brasil o interesse crescente do mercado por companhias que explorem matrizes limpas de energia | Imagem: freepik

Principal conferência da ONU sobre o clima, a COP26 deixa uma mensagem clara para governos, empresas e investidores: sem a transição energética, será impossível brecar a crise climática e seus efeitos catastróficos sobre as economias. Um levantamento feito pela empresa de pesquisa Our World In Data mostra que o setor de energia é responsável atualmente por cerca de 75% das emissões de gases de efeito estufa decorrentes de atividades humanas. O carvão é o maior vilão, ao ser utilizado na produção de 37% da energia elétrica mundial. Atentas a esse cenário — e também compelidas por investidores focados em questões ESG (sigla, em inglês, para critérios sociais, ambientais e de governança) —, grandes companhias do segmento têm saído às compras em busca de ativos que tornem suas atividades menos perniciosas ao meio ambiente. Um exemplo emblemático desse movimento é a aquisição recente feita pela Equatorial. Na semana passada, a companhia fechou um acordo de compra da Echoenergia, que possui um dos maiores portfólios de energia eólica do País, por 6,7 bilhões de reais. O valor é o maior já pago no Brasil por uma empresa do setor de energia renovável.  

A operação é um claro indicador do interesse crescente do mercado por companhias que explorem matrizes limpas de energia. O Brasil, afirmam especialistas, tem vocação para liderar a transição energética no mundo. De acordo com dados do governo, 48% da energia produzida no País hoje vem de fontes renováveis. Não à toa, empresas estrangeiras também têm desbravado oportunidades por aqui. Poucos dias antes de a Equatorial anunciar a compra da Echoenergia, a canadense CPPIB e a Votorantim Energia resolveram unir suas operações numa joint venture avaliada em cerca de 8 bilhões de reais. A nova empresa, chamada VTRM, investirá incialmente 189,98 milhões de reais para colocar de pé um parque híbrido de geração de energia, unindo produção solar e eólica.  

Sócio da KPMG, Paulo Guilherme Coimbra acredita que os M&As no setor continuarão a crescer, uma vez que até mesmo empresas de outros segmentos estão adquirindo companhias de energia com foco em fontes sustentáveis. “Temos visto, por exemplo, empresas produtoras de alumínio, que usam uma grande quantidade de energia elétrica, incrementando seus portfólios com energia renovável”, destaca. 

Embora totalmente alinhado aos princípios ESG, o movimento é acompanhado com cautela pelos gestores de recursos. O receio é que, na ânsia de diversificarem suas matrizes de energia, as empresas do setor acabem adquirindo ativos a preços muito elevados. “Não adianta somente a diversificação em si. É preciso fazer isso com a melhor relação de risco e retorno para o acionista”, ressaltou Bernard Holcman, sócio e analista da Ibiuna Investimentos, no evento Money Week. 

Dinheiro abundante 

Apesar da ressalva, investimento não deve faltar para empresas bem estruturadas e com boas iniciativas no setor. Na última semana, a BlackRock anunciou que o seu novo fundo Climate Finance Partnership, destinado a financiar projetos de infraestrutura energética em mercado emergentes, superou a meta inicial de 500 milhões de dólares em captação de recursos. No total, foram arrecadados 673 milhões de dólares de 22 investidores, dentre eles governos, entidades filantrópicas e investidores institucionais. Segundo David Giordano, chefe global de energia renovável da BlackRock, o fundo privilegiará projetos de geração de energia renovável; de eficiência energética nos setores residencial, comercial ou industrial; soluções em transmissão ou armazenamento energético; e emissões ultrabaixas ou serviços de transporte e mobilidade eletrificados. O veículo tem lock-up (bloqueio de negociações) de 10 anos, com um período de investimento de cinco anos.   

Com a iniciativa, a gestora de recursos fundada por Larry Fink planeja ajudar os países emergentes a diminuírem suas emissões de gases de efeito estufa. Neste ano, apenas 150 bilhões de dólares foram investidos em descarbonização nesses mercados. Estimativas do BlackRock Investment Institute mostram que o planeta precisa de 1 trilhão de dólares por ano em projetos de baixo carbono para atingir a meta global de neutralidade de emissões até 2050.    

Nova chance para as climate techs 

O crescente apelo das fontes renováveis de energia também abre espaço para o florescimento das chamadas climate techs. Essas startups experimentaram um forte ciclo de investimentos entre 2006 e 2011, período em que investidores injetaram cerca de 25 bilhões de reais em projetos voltados a fontes renováveis, mas metade desse valor foi perdido devido à imaturidade do mercado, segundo estudo do MIT. Agora, com os olhares da sociedade voltados às mudanças climáticas, essas empresas têm uma nova chance de prosperar. 

Em 2020, mesmo com o impacto econômico da covid-19, gestores de venture capital direcionaram 17 bilhões de dólares para as climate techs, de acordo com dados da BloombergNEF. A quantia é três vezes maior do que a recebida por essas empresas quatro anos atrás. Essas startups se dedicam não só ao desenvolvimento de tecnologias revolucionárias, como a produção de hidrogênio verde (um combustível não poluidor obtido por meio de eletrólise), mas também de soluções que melhorem o fornecimento de fontes de energia já existentes. Alguns exemplos são o mapeamento de recursos solares, a criação de turbinas eólicas flutuantes e o desenvolvimento de linhas de transmissão que conduzam energia com mais eficácia. 

Inovações que tornem o segmento mais eficiente são fundamentais para que os países atendam a necessidade crescente da população por energia, sem ter que recorrer a fontes provenientes de combustíveis fósseis. Enquanto a oferta global de energia renovável deve crescer 35 gigawatts até 2022, o crescimento da demanda por energia elétrica de forma geral subirá 100 gigawatts no mesmo período. A estimativa é de Matthew Boyle, gerente da S&P Global Platts. 

Em relatório, a International Energy Agency (IEA) reforça essa preocupação. “O mundo não está investindo o suficiente para satisfazer suas necessidades energéticas futuras. Os gastos relacionados à transição energética estão aumentando gradualmente, mas permanecem muito aquém do que é necessário para atender à crescente demanda”, escrevem analistas da instituição. O aviso reforça o recado da COP26: a migração para fontes limpas de energia é urgente. E não pode mais ser negligenciada.  

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