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Vistas no futuro
Número de M&As deve bater novo recorde em 2015. Boas oportunidades podem ser encontradas nos setores de saúde, educação e tecnologia

vistas-no-futuroO mercado de fusões e aquisições (M&A) parece olhar a crise pelo retrovisor. Até mesmo um dos maiores escândalos de corrupção do País tem servido de fermento para essas transações (leia mais na p. 14). Segundo a PwC, o número de M&As no Brasil em 2015 deve cravar nova marca histórica, com crescimento de 10% a 15% sobre o recorde do ano passado, de 879 operações. “Há muito tempo eu não via tanta atividade nesse setor”, comenta Fábio Mourão, diretor da área de banco de investimento do Credit Suisse Brasil. A boa fase pode ser explicada pela própria característica dos negócios: focam investimentos de longo prazo e, por isso, são menos suscetíveis às oscilações da economia.

Além disso, a revisão para baixo das perspectivas de crescimento do PIB e da rentabilidade das empresas tem reduzido o o valor dos ativos à venda. Isso aconteceu em praticamente todos os setores, especialmente naqueles mais expostos a commodities e às fraudes investigadas pela operação Lava Jato. Diante do cenário de possíveis barganhas, a análise criteriosa dos ativos torna-se imperativa. “O mais importante agora é distinguir o que é fundamento do que é circunstância”, avalia Daniel Damiani, sócio da JK Capital.

Conforme bancos, consultorias e escritórios de advocacia ouvidos pela reportagem, três movimentos distintos se delineiam no segmento de M&A. O primeiro é a venda de ativos de empresas com necessidade de financiamento, porém com acesso restrito a capital devido às condições de mercado pouco favoráveis. “Empresas vão vender partes de seus negócios como forma de fazer caixa”, afirma Julian Chediak, sócio do Chediak Advogados. Há, em segundo lugar, a possibilidade de consolidar setores mais defensivos e, portanto, menos expostos aos ciclos econômicos, como o de tecnologia da informação e o de alimentos. Por fim, crescem as fusões e aquisições em áreas que passaram recentemente por mudanças legislatórias, a exemplo da saúde.

Caminho aberto
A Lei 13.097, de 19 de janeiro, deve fazer do segmento de saúde um dos mais ricos em M&As este ano. Ao alterar a Lei 8.080, de 1990, o texto permite a participação direta ou indireta de capital estrangeiro em empresas de assistência à saúde, abrindo espaço, inclusive, para que investidores internacionais se tornem controladores delas. Agora, eles podem aportar recursos em toda a cadeia do setor, como hospitais (inclusive os filantrópicos), clínicas, laboratórios e fornecedores de medicamentos e demais produtos. Até então, a participação dos estrangeiros se restringia às operadoras de planos de saúde.

Boa parte dos hospitais brasileiros enfrenta problemas. Para serem eficientes, precisam ter um porte mínimo, possuir número elevado de leitos e trabalhar com atividades médicas de grande complexidade. Essa, contudo, não é a realidade da maioria —aí entra o investimento estrangeiro, que pode dar fôlego para os hospitais profissionalizarem a gestão e investirem em áreas que os tornem mais rentáveis. “Há diversos grupos querendo entrar no Brasil. Devemos ver nos próximos dois anos um grande número de operações nesse setor”, prevê Luís Martins, sócio da JK Capital, que tem três mandatos de venda nesse ramo.

De acordo com dados da Confederação Nacional da Saúde (CNS), o Brasil possui atualmente 6.659 hospitais, dos quais 70% são privados. Já as unidades de serviços de saúde cadastradas no Ministério da Saúde chegam a cerca de 275 mil — mais de 70% delas, na iniciativa privada. “Veremos uma onda de consolidação no segmento de saúde com o private equity se associando a investidores-âncoras. A partir de 2016, 2017, teremos também alguns IPOs importantes nesse setor”, acredita Thiago Sandim, sócio do Demarest Advogados.

Uma prova do interesse dos estrangeiros pelo mercado de saúde é a aquisição de fatia da Rede D’Or de hospitais pelo fundo de private equity americano Carlyle. Foi a primeira compra de participação por estrangeiros em hospitais do Brasil depois da mudança da lei, em janeiro. O valor total do negócio não foi divulgado pelo Carlyle, mas há rumores de que a cifra seja R$ 1,75 bilhão. A rede pretende usar o aporte para construir novos hospitais, ampliar os já existentes e financiar aquisições.

No campo das operadoras de planos de saúde, as oportunidades para M&A também são vastas. O maior desafio delas é a pressão de custos. Essa situação decorre do aumento da expectativa de vida da população e do avanço da medicina, que permite diagnósticos mais precisos. Deve-se, ainda, à postura da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) de incrementar, cada vez mais, a lista de procedimentos que os planos são obrigados a oferecer. Os gastos crescentes, entretanto, só podem ser repassados de forma limitada aos pacientes, por indicação da própria ANS. “Quem antes fazia um raio X para detectar um problema hoje realiza também uma ressonância, uma tomografia. Há 15 anos, a realidade era diferente”, recorda Martins, da JK.

Apesar desses desafios, o potencial de crescimento dos planos de saúde no Brasil é inegável. Num país com 200 milhões de habitantes, 50 milhões são beneficiários de planos privados de assistência médica, apontam dados da ANS.
É de olho nessa disparidade que os M&As devem ocorrer. A consolidação começou há alguns anos, entre empresas nacionais. Em 2009, a Amil comprou a Medial Saúde num negócio estimado em R$ 600 milhões. Três anos depois, a própria Amil foi adquirida pela americana United Health, numa transação de quase R$ 10 bilhões. Em março do ano passado, outro fundo estrangeiro de private equity investiu pesado: a Bain Capital levou a operadora de planos de saúde Intermédica por quase R$ 2 bilhões. “Os planos precisam resolver problemas de escala, e quem vai fazer isso são os estrangeiros”, afirma Gollo, da PwC.

O interesse externo por ativos brasileiros tem se intensificado nos últimos meses. Desde janeiro, os estrangeiros estão presentes na maioria das transações de M&A realizadas no Brasil, conforme levantamento da PwC. Participaram de 51% do total de negócios anunciados no primeiro trimestre; no mesmo período do ano passado, abocanharam 45%. Foi a primeira vez desde 2005 que eles superaram os investidores nacionais. “A proporção deve ultrapassar 60% com facilidade”, estima Rogério Gollo, sócio e líder de fusões e aquisições da PwC.

Cabe ressaltar que os grupos internacionais estão muito mais capitalizados do que os nacionais para ir às compras. Enquanto a economia americana, por exemplo, cresceu 2,8% no ano passado e o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta expansão de 3,1% para 2015, o PIB brasileiro ficou estagnado em 2014 e deve encolher em torno de 1% neste ano, segundo o próprio FMI e o boletim Focus. Soma-se a isso a desvalorização recente da taxa de câmbio, que torna os ativos nacionais mais baratos em dólares. “Num ambiente em que melhorar a governança corporativa é uma necessidade, o estrangeiro, que tem essa cultura, vê oportunidade de ingressar no País”, observa Bruno Luiz de Miranda Santos, gerente sênior de fusões e aquisições da EY.

Muito a consolidar
Outro setor que deve acelerar o mercado de M&A é o de educação. As perspectivas continuam positivas, apesar do corte nos recursos de programas de financiamento estudantil (Fies e Pronatec), proposto pelo governo Dilma Rousseff para auxiliar o ajuste fiscal. Há alguns anos, o segmento tem protagonizado grandes fusões e aquisições.
E a tendência deve se manter, pois ainda há muita pulverização — são mais de 2 mil instituições de ensino superior no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). “Algumas instituições pequenas com dificuldade de financiamento podem continuar a promover a consolidação”, diz Luís Motta, sócio líder da área de fusões e aquisições da KPMG no Brasil.

A JK Capital tem seis mandatos de venda de ativos de ensino superior e um de compra. Sem revelar nomes, seus sócios dizem que todos os bens à venda são instituições com pelo menos 4 mil alunos e tíquete médio da mensalidade acima de R$ 700 mensais. “Os negócios tendem a ser mais estratégicos, visando o alcance de um posicionamento robusto”, analisa DamianiK. A empresa assessorou a venda da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG), fundada em 2003 em Caxias do Sul e frequentada por mais de 10 mil alunos, para o fundo de private equity Advent International, que entre 2009 e 2013 foi sócio da Kroton. A transação, concretizada em março, marcou a volta da gestora ao segmento de educação.

Há também oportunidades de nicho, como o de educação premium. Ele é formado por empresas com marcas consolidadas em suas regiões de atuação e mensalidade acima da média regional. “Esse setor tem margem Ebitda de 25% a 30%. Difícil achar percentuais tão atrativos como esses”, considera Damiani.

Tecnologia e agricultura
Apesar do otimismo com outras áreas, a de tecnologia e informática deve continuar a liderar as transações em 2015. Ela reuniu 27% das 213 operações anunciadas no primeiro trimestre do ano, de acordo com levantamento da Transactional Track Record, empresa que mapeia compras e vendas de empresas no Brasil. No ano passado, a parcela foi de 25%.

Na opinião de Wagner Rodrigues, gerente de business inteligence da TTR, nesse setor tradicionalmente ocorre o maior número de fusões e aquisições. Os valores, contudo, costumam ser mais baixos, devido à natureza desses negócios, em grande parte investimentos em startups.

Outro segmento que deve registrar operações interessantes é o agronegócio, cuja extensa cadeia produtiva atrai o interesse de fundos estrangeiros. “O desafio é encontrar empresas preparadas para receber esse tipo de participação. Há algumas muito grandes que precisam de mais sofisticação e profissionalização para a entrada de um sócio estrangeiro”, constata Guilherme Bolina, sócio do Brasil Plural responsável por M&A. Ele acredita que a cadeia de fornecimento tem mais probabilidade de receber investimento do que a de produção agrícola. “A participação de estrangeiros deve crescer nas áreas de fertilizantes, máquinas e insumos agrícolas”, concorda Gollo, da PwC.

Como se vê, há opções de investimentos nos mais variados ramos de negócio. “Quem conseguir tirar a cabeça da água vai ver que existem ativos prontos para crescer no momento da retomada econômica”, afirma Damiani, da JK Capital. A temporada, pelo visto, tem tudo para registrar um novo recorde no número de transações de M&A.


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