Educação: com Fies equacionado, retração econômica é próximo obstáculo
Ilustração: Grau 180.com.

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O setor de educação, queridinho dos investidores nos últimos anos na Bolsa, enfrenta um duro revés, com fortes quedas dos preços das ações. A situação dos quatro grupos de escolas listados é peculiar: ainda há uma grande demanda reprimida por ensino superior, mas o público-alvo já não tem tanto dinheiro no bolso. Ao mesmo tempo, o programa federal de financiamento estudantil (Fies) está minguando: em 2015, o governo cortou pela metade o número de vagas elegíveis para o programa, para 310 mil. Além disso, em vez de 12, o Ministério da Educação (MEC), responsável pelo Fies, fez apenas oito repasses e ficou devendo R$ 1,5 bilhão a essas quatro empresas.

Nos últimos 12 meses, as ações das companhias de serviços educacionais listadas na Bolsa acumulam quedas expressivas: Anima (46%), Ser Educacional (38%), Estácio (30%) e Kroton (17%).

Elas ganharam uma batalha contra o MEC, que recuou e decidiu voltar a pagar 12 parcelas mensais. A dívida de 2015 será paga de forma parcelada em quatro anos. Para a Ser Educacional, o governo devia R$ 240 milhões até setembro, segundo o diretor de relações com investidores (RI), Rodrigo Alves. A Kroton não informou o tamanho do crédito que tem a receber.

Pelo Fies, o governo paga as mensalidades dos matriculados e eles devolvem os recursos depois de formados. Os financiamentos variam de 50% a 100% das mensalidades. O programa, que foi muito importante para as quatro empresas de educação desde que entraram na Bolsa, é uma maneira de o governo incluir mais alunos no sistema de ensino.

Há critérios para credenciamento e número de vagas para cada escola e para aceitação dos alunos que se inscrevem (como notas no Enem e renda). Alguns mudaram neste ano. O governo decidiu conceder mais vagas a escolas que estão em regiões com índice de desenvolvimento menor, como o Nordeste. Por isso, a Ser Educacional, com forte atuação na região, foi beneficiada, enquanto a Kroton, mais forte no Sudeste, ficou com menos vagas.

A quantidade de vagas para 2016 continuará em torno de 310 mil. A Kroton tem cerca de um milhão de alunos e para 2016 conseguiu autorização para oferecer 29,7 mil vagas pelo Fies — menos do que as 42 mil do primeiro semestre de 2015. A Ser Educacional tem 140 mil alunos e obteve 19,1 mil vagas para este ano (10,5 mil em 2015). A Estácio tem 100 mil alunos e foi autorizada a ofertar 17.563 vagas no ciclo de captação do primeiro semestre de 2016, menos do que as 20 mil que teve em 2015. A Anima tem 79 mil alunos e ficou com 29,8 mil vagas para o Fies (44 mil no ano passado).

Com a questão-chave do Fies equacionada, o setor poderia até voltar a brilhar na bolsa neste ano, não fosse a piora macroeconômica. Carlos Lazar, diretor de RI da Kroton, admite que este não será um ano tranquilo, mas acredita que será positivo para a companhia. Um dos recursos que a Kroton pretende usar é a oferta de financiamento em parceria com um banco privado. “O Brasil tem 7,5 milhões de matriculados no ensino superior e 20 milhões de pessoas com ensino médio, sem faculdade. É um grande potencial a se explorar, mas financiamento é muito relevante para esses alunos.” O grupo começou a conceder um financiamento parcial em 2015, com recursos próprios (o estudante paga 10% do valor da mensalidade e financia os demais 90% sem juros).

Lazar cita iniciativas para melhorar a eficiência e perspectivas de crescimento com novas aquisições e aposta mais forte no ensino a distância, onde está 40% da base do grupo. “A Kroton tem baixa alavancagem, posição de balanço privilegiada e caixa forte”, resume.

A Ser Educacional adotou uma série de medidas para se adequar às mudanças do mercado de ensino superior, diz Alves. “Destaco a finalização da integração das aquisições realizadas recentemente [Unama e UNG], a implantação de uma unidade de captação e de um sistema preditivo de evasão de alunos, melhorias na matriz curricular, aperfeiçoamentos na régua de negociação com alunos, redução de custos e despesas operacionais e revisão da estrutura organizacional”, enumera.

Mudança de cenário

“As informações mais recentes são positivas, pois haverá normalização do pagamento do Fies neste ano, após um conturbado 2015”, diz Bruno Giardino, analista do Santander. “O ponto é que o Fies ajuda, mas não é suficiente. O País passa por uma recessão e, se não fosse por isso, haveria mais demanda”, acrescenta.

Daniel Liberato e Felipe Silveira, analistas da Coinvalores, concordam. Segundo eles, houve uma mudança importante no cenário macroeconômico. “Nos últimos anos a atividade estava expandindo com a queda da taxa de desemprego, que no final de 2014 estava muito baixa. Isso é muito importante para o setor”, diz Liberato. “Agora em 2016, as escolas precisam ficar atentas à inadimplência dos alunos que continuam na base e à taxa de evasão da graduação.”

Estácio e Anima foram procuradas pela reportagem, mas não tinham porta-vozes disponíveis.


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