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O quinto elemento
Fotos: Régis Filho

Fotos: Régis Filho

Assim que completou 50 anos, em 2007, o economista e advogado paulistano Leo Figueiredo começou a ser tomado pela sensação de que estava na hora de mudar de carreira. Era um momento de inquietude pessoal e de vontade de dar outro significado à própria trajetória no mercado financeiro, que começara em 1980 na Griffo Corretora de Valores — anos mais tarde transformada na Hedging-Griffo e, em 2006, adquirida pelo Credit Suisse. A transação, fechada por 295 milhões de dólares, previa que os sócios da Hedging-Griffo — um deles, Figueiredo — continassem no negócio por mais cinco anos, quando teriam a opção de vender suas ações. “Como já tinha planos de trilhar um caminho diferente, decidi iniciar um processo de transição e antecipei em dois anos minha saída”, conta Figueiredo.

Nesse período, o executivo refletiu sobre suas aspirações. Sem um plano concreto do que gostaria de fazer, tinha apenas uma certeza: queria construir um legado ligado à área social. O desejo vinha dos tempos de juventude, quando vivenciou a ditadura militar. “Quem foi criado antes dos anos de 1980 não escapou do debate sobre questões ideológicas. Era impossível não ter certo envolvimento com teses socialistas. Cresci num ambiente em que se achava que havia alguma coisa errada”, destaca Figueiredo. Ávido por mudanças que pudessem ajudar a sociedade, o executivo pensou então como poderia transformar a realidade do País a partir dela mesma. Foi aí que veio a ideia de atingir esse propósito por meio do apoio ao empreendedorismo. “As pessoas são a peça-chave dos negócios e precisam ser mais valorizadas”, defende.

Assim nasceu o Instituto Quintessa, criado em 2009, o mesmo ano em que Figueiredo deixou a Hedging-Griffo. O nome escolhido tem origem na palavra quintessência. Nada corriqueira ou superficial, ela significa “quinta essência”, ou quinto elemento — aquilo que vem depois dos fundamentais terra, ar, fogo e água. Aplicada ao universo do Quintessa, ela lembra que o trabalho do instituto é “ir além do conhecimento técnico e do que é explícito e ter atenção ao invisível e às relações intangíveis que estão por trás dos negócios”, na definição de Figueiredo.

A primeira dificuldade do executivo nessa empreitada foi escolher o nicho de atuação do instituto. De 2009 a 2011, o Quintessa se dedicou a apoiar empreendedores da base da pirâmide social. “Como gosto de iniciativas transgressoras, vislumbrei a possibilidade de impulsionar projetos em comunidades carentes. Mas infelizmente descobri que nesses locais a capacidade empresarial é muito baixa”, lamenta. Durante o período inicial, o instituto tinha caráter filantrópico e era mantido exclusivamente por doações provenientes do bolso de seu fundador. “Me sentia constrangido em mudar isso, mas o modelo não era sustentável financeiramente. E a verdade é que eu não acredito em investir dinheiro sem gerar resultados”, confessa.

“Queremos ressignificar o papel das empresas e estimular a gestão consciente”

Essa percepção foi o gatilho para que transformasse o Quintessa, a partir de 2012, em uma aceleradora de negócios de impacto, cujo intuito é garantir o sucesso de empresas que resolvam desafios centrais da sociedade. Nessa nova fase, o retorno financeiro produzido pelos projetos impulsionados pelo instituto passou a ganhar relevância. Para ajudá-lo, Figueiredo se cercou da nova geração. “Contratei jovens com cabeça mais objetiva e com ideias para fazer o instituto se sustentar.” Duas contratações importantes foram as de Anna de Souza Aranha e Gabriela Bonotti. Neste ano, elas se tornaram as duas principais executivas do Quintessa.

“Os anos de 2012 a 2015 foram bastante desafiadores para o instituto. No início, como não tínhamos visibilidade, precisávamos caçar projetos. Foi aí que começamos a entender a mecânica da mentoria para projetos de impacto e como podíamos nos diferenciar”, recorda Figueiredo. Uma iniciativa bastante conhecida apoiada pelo Quintessa e que ajudou a construir sua reputação foi o Catraca Livre, portal que divulga atividades e eventos acessíveis e de qualidade em áreas como cultura, educação, esportes e entretenimento.

“Com o amadurecimento do nosso modelo de atuação, passamos a reverberar e a gerar resultados”, diz Aranha. Nesse processo, a ampliação do escopo do Quintessa de uma para quatro frentes foi crucial. A atividade mais antiga do instituto — e ainda a principal — é denominada “Programa de atuação”. Com duração de 12 meses, tem os objetivos de estruturar a gestão e impulsionar o crescimento de negócios de impacto com base em um diagnóstico sobre as prioridades que precisam ser trabalhadas para garantir êxito.

As outras três frentes são “Aceleração focada”, “Assessoria para captação de investimentos” e “Parceria com empresas”. A primeira, com duração de quatro meses, foi criada para responder ao desafio específico de um negócio em estágio inicial ou para catapultar o crescimento de uma empresa em fase mais avançada. Já a segunda visa apoiar negócios que já tenham passado por um processo de aceleração a captar investimentos. Por fim, a parceria com empresas conecta empresas e startups de impacto para que possam ser parceiras em iniciativas que gerem alto valor agregado para ambas.

“Quando nos vimos diante do desafio de viabilizar o instituto financeiramente, abrimos a cabeça para pensar sobre produtos que poderíamos oferecer ao empreendedor e que não pesariam demais no caixa de curto prazo de uma empresa que está começando”, explica Bonotti. Em 2016, confiante de que o Quintessa estava pronto para andar com as próprias pernas, Figueiredo parou de colocar dinheiro no instituto. A receita provém agora somente do valor pago pelos empreendedores para participar dos programas oferecidos. “Este foi o primeiro ano com resultado positivo”, comemora o fundador.

Uma característica do trabalho do instituto, destaca Aranha, é investir um tempo maior do que outras aceleradoras no fomento de um negócio — a maioria, afirma, destina de três a seis meses à aceleração de um grupo de startups (geralmente de 20 a 30), enquanto o instituto se dedica por um ano a cada empresa. “Nenhuma dessas aceleradoras entra na cozinha do negócio, para arrumar o que é preciso na gestão. Optamos por seguir um caminho diferente justamente por entender que os empreendedores careciam de um suporte mais profundo”, diz Bonotti. “Faltava um programa que os ajudasse nos desafios do dia a dia, como, por exemplo, desenvolver um pacote de remuneração variável para engajar o time ou elaborar um controle financeiro, já que a maioria dos projetos chega sem fluxo de caixa estruturado e os empreendedores conhecem muito mais do seu produto do que de gestão”, observa.

Os números indicam que o instituto está no caminho certo. Das 42 empresas com que atuou nesses oito anos, só quatro não deram certo. No portfólio do Quintessa estão iniciativas de caráter social como a 4YOU2, escola focada no ensino de idiomas a pessoas das classes C, D e E, a Hand Talk, que promove a inclusão de pessoas com deficiência auditiva por meio de uma tecnologia que traduz automaticamente o português para a linguagem de libras, e a Courrieros, que faz entregas ecologicamente corretas em São Paulo com bicicletas. São iniciativas que, como sonhou Figueiredo, ajudam a transformar o Brasil. “Cada vez mais queremos ressignificar o papel das empresas como geradoras de impacto e estimular que tenham uma gestão consciente e humana. O Quintessa foi um grande presente que a vida me deu”, avalia. No dia 24 de novembro, o trabalho do executivo foi reconhecido pela revista Trip. Ele recebeu o Prêmio Trip Transformadores, oferecido às pessoas que mais se destacaram por suas ações para melhorar a realidade à sua volta.


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