A ignorância de Jim Simons acerca de certos princípios do mercado financeiro lhe permitiu explorar ineficiências marginais que escondiam verdadeiras pepitas de ouro
Para uma brilhante mente matemática, não é difícil perceber que a probabilidade não joga a favor de quem é demitido aos 40 anos para embarcar em sua quarta carreira diferente. Nos idos de 1978, o professor Jim Simons, fundador da , parecia estar mais próximo de sua aposentaria do que do estrelato no mercado financeiro. “Fast forward” para 2020, e o principal fundo da empresa (Medallion) o consagra como o gestor de maior sucesso da história — acima de ícones como Soros e Buffett —, com um retorno composto anualizado de 66% desde 1988. A empresa gerou 100 bilhões de dólares de resultado no período, dos quais 23 são do próprio Simons.
Essa é a incrível história de um matemático amplamente reconhecido no mundo acadêmico, cuja curiosidade, perseverança e crença no método científico para lidar com grande quantidade de dados literalmente criou um segmento na área de gestão de recursos, os chamados “gestores quantitativos” (“quants”, para os íntimos). Contada em tempo cronológico a partir da trajetória de vida de Simons, a história escrita pelo jornalista Greg Zuckerman (The Wall Street Journal) em The man who solved the market: How Jim Simons Launched the Quant Revolution valeu-se de várias entrevistas com ex-funcionários e uns poucos contatos com Simons (que por muito tempo se opôs a qualquer exposição) para montar o quebra–cabeça desta jornada típica de tentativa e erro.
Simons iniciou sua carreira no como professor em Harvard, e acabou migrando rapidamente para o governo, participando de um grupo que analisava mensagens criptografadas no meio da Guerra Fria. Essa experiência de coletar enormes quantidades de informação e aplicar matemática para descobrir padrões em dados aparentemente aleatórios seria de grande utilidade no futuro.
Após deixar sua experiência em quebra de códigos, Simons aceitou uma posição na área de matemática da Universidade de Stony Brook e montou um departamento com renome internacional, devido aos talentos que conseguiu atrair. Esse é o segundo pilar de sucesso dessa história: como ele dizia, “sempre recrute pra melhorar o QI da empresa”, mesmo que significasse gente sem formação financeira.
Faltava ainda um elemento a ser aperfeiçoado para domar os mercados: processo. Simons e seu time investiram muito tempo em pesquisa para estabelecer em quais mercados operar, quando operar, qual o tamanho dos lotes para entrar e sair com segurança, qual o prazo de maturação de cada “trade” etc. Em outras palavras, não basta separar o sinal do ruído dos mercados, é ainda mais importante saber como operar para capturar o fugaz “alfa”.
Curiosamente, por não ter uma formação ou vivência profissional no mercado financeiro, o protagonista não tinha conceitos preconcebidos sobre a teoria da eficiência do mercado, segundo a qual é muito difícil vencer o mercado de forma consistente. A ignorância a respeito desse princípio lhe permitiu explorar ineficiências marginais que escondiam verdadeiras pepitas de ouro — bastava saber onde e como garimpar.
A história em geral é contada pelos vencedores. Mas, nesse caso, a narrativa é de um “sobrevivente”, pois certamente há muitos “quants” que tentaram e ficaram pelo caminho. Como diz o ditado: “não sabendo que era impossível, foi lá e fez”.
The man who solved the market: How Jim Simons Launched the Quant Revolution
Gregory Zuckerman
Editora Portfolio
382 páginas
1a edição ― 2019
Peter Jancso é sócio da Jardim Botânico Investimentos e conselheiro independente
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