Defendendo as finanças dos capitalistas
Mercado financeiro deveria voltar a trabalhar para a melhoria de vida de todos, diz autor

, Defendendo as finanças dos capitalistas, Capital AbertoDesde a crise financeira de 2008, temos testemunhado poucas e tímidas tentativas de defender o papel das finanças, ou do setor financeiro, na sociedade moderna. Para a maioria, as finanças têm um papel social semelhante ao aconselhamento legal, uma vez que não cria riqueza, apenas a redistribui. Professor da prestigiosa universidade de Princeton, nos Estados Unidos, há mais de 25 anos, Robert Shiller ensaia, em seu livro Finance and the Good Society, uma absolvição total do segmento e parcial de seus praticantes. Na visão do autor, em vez de condenar e desterrar as finanças e o mercado financeiro, a sociedade deveria colocá-los de volta a trabalhar para a melhoria do padrão de vida de todos.

Segundo a definição elegante de Shiller, “finanças é a ciência da arquitetura das metas”. Ou seja, o campo das finanças não existe com um fim em si mesmo, mas como a infraestrutura para viabilizar o alcance de metas tangíveis pela sociedade. Hipotecas, por exemplo, são instrumentos inventados para as pessoas ganharem acesso à casa própria; já as bolsas de valores, para reduzir os custos de transação de operações de balcão. Seguros, fundos de ações e renda fixa, contas bancárias, etc., são, de acordo com Shiller, inovações que têm trazido benefícios à sociedade, embora estejam sujeitas a abusos quando a regulamentação baixa a guarda.

O livro é dividido em dois blocos principais. O primeiro descreve a taxonomia dos participantes do mercado financeiro e discute os papéis e as responsabilidades desses grupos. O segundo cobre os aspectos comportamentais das finanças, principalmente assuntos como a propensão ao risco, o uso da alavancagem e os custos relativos à especulação. O argumento central é que instituições financeiras operando em mercados com boa regulação e liquidez são críticos para o progresso econômico e social, endereçando o desafio da criação de riqueza.

A distribuição de riqueza, por sua vez, é um campo mais nebuloso. Nessa seara, Shiller apresenta sugestões pouco ortodoxas e pragmáticas, como taxas de impostos progressivas e ligadas ao índice de desigualdade social. Outra recomendação é o de taxar a transmissão de patrimônio (heranças) como forma de realocar os ativos entre gerações. Por fim, ele rotula como “interessante” a experiência chilena com o uso das “unidades de fomento”, indicadores monetários indexados à inflação. Esse instrumento é semelhante a vários que tivemos no País quando das tentativas de debelar a inflação galopante. Nesse sentido, sua sugestão é sintoma de uma certa ingenuidade a respeito dos riscos de indexar a economia rigidamente.

A despeito dos inegáveis excessos e pecados excomungáveis de vários atores ligados ao mercado financeiro, o momento é propício para uma reflexão sobre o papel das finanças na sociedade moderna. Não é difícil, portanto, imaginar Shiller empunhando seu escudo solitário para proteger “Geni” das pedras atiradas pelo público ávido por culpados. Como sociedade, é fundamental que tenhamos vozes dissonantes que discordem do preconceito e provoquem a reflexão. Senão corremos o risco proverbial de atirar no mensageiro.


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