“Phishing” (uma corruptela do inglês fishing, que significa pescaria) é um termo criado no mundo da computação e identifica tentativas de se “fisgar” os dados de um indivíduo por meio de fraudes eletrônicas. Em Phishing for Phools, os ganhadores de prêmio Nobel George Akerlof e Robert Shiller expandem o conceito para o campo da economia e para nossa realidade diária, de maneira a expor como o capitalismo de livre mercado dá espaço para a manipulação e a enganação.
A humanidade nunca viveu uma época de tanta bonança e avanço na qualidade de vida geral da população em toda a história. Desde Adam Smith, aprendemos que não é pela generosidade do padeiro que temos acesso a pão, mas sim por causa do seu desejo individual de obter renda e lucro. Extrapolando do indivíduo para a sociedade, lembramos da famosa “mão invisível” dos mercados, que forma a pedra fundamental do pensamento econômico capitalista há cerca de 200 anos. A despeito da indisputável solidez do argumento, Akerlof e Shiller jogam luz sobre o lado obscuro dos mercados ao enumerar distorções a que estamos sujeitos todos os dias. Desde que se possa lucrar com algo, alguém vai explorar nossas fraquezas psicológicas ou nossa ignorância com truques e ilusões e vamos acabar sendo “pescados”. Muitos de nós vivem à beira de um desespero silencioso e reprimido; gastamos no limite para manter um padrão de vida de que não precisamos — e depois nos descabelamos para pagar as contas.
Os autores são rotulados como iconoclastas por seus pares da academia americana, mas sua rebeldia estimula o ceticismo em relação ao pensamento convencional, que aceita passivamente os desvios de comportamento do capitalismo. O campo da economia comportamental, da qual Shiller é fervoroso devoto, tem desafiado alguns preceitos da economia moderna com o objetivo de não apenas aperfeiçoar modelos acadêmicos, mas em especial para auxiliar na compreensão das falhas do capitalismo e oferecer ideias para consertá-las. Invariavelmente, uma das soluções clássicas para a sociedade lidar com esses problemas consiste em monitoramento e regulação por parte dos governos — algo que entra em choque frontal com a teoria libertária, segundo a qual “o governo atrapalha, e o Estado deveria ter tamanho mínimo”.
Apesar de demonstrarem enorme respeito pela teoria clássica dos mercados, os autores não se conformam com a manipulação e as trapaças do mundo dos negócios moderno. Os setores financeiro, de tabaco, farmacêutico e de bebidas alcoólicas, entre outros, são amplamente discutidos na obra como expoentes desses desvios.
Um exemplo em particular captura a essência da obra. Os autores brincam que a primeira “tola” a ser fisgada (“phished”) da história foi Eva. Afinal, a serpente a convenceu a pegar algo que ela não queria, de que não precisava, e que ela sabia de antemão que não deveria pegar, pois o custo seria muito elevado. Em outras palavras, o pecado original ainda se manifesta no dia a dia da humanidade, e está à espreita de nossas fragilidades psicológicas e de nossa ingenuidade. Como consumidores e membros da sociedade, só nos resta encarar o bombardeio de mensagens a que estamos sujeitos diariamente sob o olhar cético do caveat emptor — expressão latina que significa
“comprador, cuidado”.
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