O chamado “sonho americano” encontra-se sob risco de extinção. Na visão do renomado economista Luigi Zingales, da Universidade de Chicago, a relação pouco saudável entre as grandes empresas e a política produz efeitos nefastos sobre a livre concorrência, a meritocracia e as oportunidades disponíveis para o americano comum. Temos sido levados a acreditar que o sistema capitalista provocou a crise recente. No entanto, o autor de A capitalism for the people: Recapturing the lost genius of American prosperity faz um excelente trabalho ao diferenciar “capitalismo” de “capitalistas”.
Existe ampla evidência micro e macroeconômica para sustentar a supremacia desse sistema econômico como promotor do desenvolvimento e do bem-estar da sociedade. Mas os próprios capitalistas, em sua batalha pela dominância do mercado, têm descoberto atalhos, a exemplo do lobby e outros mecanismos de captura política, que minam os pilares da livre concorrência e da meritocracia do capitalismo. Quando a livre concorrência é ameaçada pela busca de vantagens individuais para este ou aquele segmento ou empresa, há um custo que inevitavelmente pesa no bolso de toda a população.
O incentivo para a busca de vantagens leva à prática de lobby e promove o que os economistas chamam de “captura” das agências regulatórias e dos políticos, por mantê-los cativos dos interesses particulares. Trata-se de uma situação que inevitavelmente acaba limitando a livre concorrência. Em outras palavras, o efeito global dessas práticas disseminadas nos faz perder a fé nas regras do jogo, porque cada um tenta legalizar o seu próprio gol de mão. O compadrio, assim, compromete a crença no capitalismo como sistema econômico, pois a concorrência e a meritocracia beneficiam primordialmente os grupos próximos do poder.
Ademais, é interessante registrar que o autor não fica apenas na confortável área da análise do problema. Além de apontar com clareza as evidências e os efeitos corrosivos da modalidade atual de capitalismo nos Estados Unidos, Zingales se aventura no campo das soluções, apresentando uma série de sugestões práticas para promover políticas e escolhas pró-mercado, em lugar daquelas pró-empresas específicas.
Nascido na Itália, o autor vivenciou o poder do sonho americano. Quando ainda morava em sua terra natal, o então professor universitário cansou-se das regras da sociedade italiana. Emigrou para os Estados Unidos na década de 1980, fugindo de um sistema em que, para evoluir na carreira, é mais importante o círculo de contatos do que o nível de esforço individual. A partir dessa perspectiva particular, Zingales produz uma série de exemplos e comparações entre as normas sociais dos dois países e analisa os seus efeitos sobre os incentivos individuais na busca do bem-estar econômico e social.
A sociedade baseada nos fundamentos econômicos do capitalismo deveria oferecer igualdade de oportunidades, não de resultados — isso seria socialismo. Subsídios especiais para setores agraciados, barreiras à importação em segmentos específicos, empréstimos de bancos oficiais com termos generosos e fora das práticas de mercado — tudo isso soa familiar? Infelizmente não estamos falando mais dos Estados Unidos. A obra do professor Zingales deveria ser leitura obrigatória para as lideranças empresariais e políticas de nosso país.
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