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O outro lado do coronavírus
Além de fortalecer a economia digital, crise tem resgatado a confiança das populações em cientistas e na imprensa tradicional
  • William Salasar
  • abril 9, 2020
  • Bolsas e conjuntura, Papo Aberto
  • . papo aberto, Coronavírus
João Paulo Cândia Veiga fala sobre o lado bom do coronavírus

João Paulo Cândia Veiga | Ilustração: Julia Padula

Com toda a cautela que a Ciência exige, o professor doutor João Paulo Cândia Veiga, pesquisador do Centro de Estudos das Negociações Internacionais e do Instituto de Relações Internacionais da USP, observa que são muitas as “opiniões” sobre o que virá passada a pandemia do novo coronavírus. Elas transitam do fim do neoliberalismo e do resgate do papel intervencionista do Estado ao revigoramento do multilateralismo em contraposição ao isolacionismo nacionalista; vão da renovação da confiança na Ciência e o consequente apequenamento do anticientificismo populista até a valorização dos meios tradicionais de imprensa em detrimento de blogueiros, youtubers e tuiteiros anabolizados por robôs. 

“Sendo muito rigoroso: não temos pesquisas para responder cientificamente se isso tudo vai acontecer, se é que é possível uma resposta científica, nesse caso. O que há são opiniões”, sustenta Veiga.  

Ele reconhece que entidades multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e, principalmente, a Organização Mundial do Comércio (OMC) perderam muito da importância e do protagonismo neste milênio. Por outro lado, o pesquisador chama a atenção para as iniciativas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) conclamando os líderes mundiais à promoção de uma agenda de ajuda mútua e coordenação de políticas econômicas e sociais de resposta aos efeitos diversos da pandemia, além do trabalho da Organização Mundial da Saúde (OMS). O Banco Central Europeu (BCE), apesar da aparente fragilização da União Europeia por causa do Brexit, também tem feito sua parte: está destinando 750 bilhões de euros para a compra de títulos públicos dos países do bloco, o que equivale a uma injeção de recursos diretamente na veia dos governos — que poderão, assim, socorrer bancos e empresas afetados pela pandemia.  

Comparando a crise atual com a grande recessão de 2008-2009, o aspecto mais importante, na avaliação do professor, reside na carência de líderes à altura do desafio. “As medidas hoje são desencontradas pela falta de liderança. Vemos isso já há alguns anos. Esse déficit é muito ruim, porque o mundo precisa de alguém que aponte a direção, de forma consequente, ponderada”, adverte.  

Um sinal perturbador dessa falta de estadistas, especificamente no caso da Europa, foi a aprovação, pelo Parlamento da Hungria (e em meio à pandemia), de poderes praticamente ditatoriais para o primeiro-ministro do país, Viktor Orbán. “É de assustar, na medida em que a Hungria faz parte da União Europeia e é uma liderança na região dos Bálcãs. Da Sérvia à Polônia, ele é visto como uma referência”, diz Veiga. 

Ao mesmo tempo, no entanto, vários dirigentes populistas — nacionalistas, de direita e de esquerda — estão vendo seu espaço de manobra se estreitar na crise do novo coronavírus.  Basicamente porque a pandemia tem resgatado a confiança das populações em cientistas, técnicos, especialistas e na imprensa tradicional — confiança que os governantes autoritários, personalistas e movidos por ideologias fanáticas trataram de minar na última década. Veiga cita como exemplos os recuos dos presidentes do México, Andrés Manuel López Obrador, na ponta esquerda, e do americano Donald Trump, na ponta direita, em relação a medidas de isolamento social para mitigar a propagação da covid-19. Os dois tiveram que se render às evidências científicas e à própria adesão dos mexicanos e americanos às recomendações dos profissionais da saúde e dos cientistas. 

“Se é provável que líderes autoritários respondam à crise com medidas para ampliar seus poderes, não está claro quantos serão bem–sucedidos”, nota o pesquisador. 

 

Nessas horas, as nações precisam — e pedem — líderes que saibam conduzi-las. “É isso que indicam as pesquisas que mostram a baixa popularidade do presidente Jair Bolsonaro”, sublinha o professor, comentando as sondagens do Instituto Datafolha divulgadas no início de abril. Ao mesmo tempo, elas evidenciam que a maioria (59% dos entrevistados) não quer impeachment ou renúncia.  

Bolsonaro vem sendo duramente criticado pelo seu ataque ao isolamento social recomendado pelas autoridades médicas, tendo como pano de fundo um dilema entre cuidar da economia ou da saúde. “O negacionismo do presidente e de seu núcleo duro, o chamado ‘gabinete do ódio’, visa, justamente, dividir o ônus dos efeitos econômicos da pandemia com os governadores, o Legislativo e o Judiciário. E não estão conseguindo porque estão radicalizando demais”, avalia Veiga.   

Ele analisa Bolsonaro em três níveis. O primeiro é o do gabinete do ódio, com sua forma atabalhoada de negacionismo da pandemia, mas com uma certa racionalidade por trás, cujo intuito é manter a mobilização de sua base a fim de chegar a 2022 com alguma chance de reeleição. Esse primeiro patamar segue os conselhos de Steve Bannon, ex–estrategista político de Trump e arauto do populismo de direita. O segundo nível é o governo Bolsonaro, em que coabitam um Sergio Moro tentando sobreviver como ministro da Justiça e ganhar espaço político, com dificuldades, e um superministro da Economia, Paulo Guedes, cuja agressiva agenda econômica ultraliberal e privatista foi atropelada pela pandemia. 

Por fim, há o âmbito da sociedade, no qual Bolsonaro ainda tem muito apoio. O presidente escora-se sobre as redes de televisão SBT e Record e a faixa do empresariado que sustenta a tese de que a economia não pode parar (descartada até pelo FMI). Mas nem só por isso um impeachment seria difícil de ocorrer, observa Veiga, salientando a fragilidade de Bolsonaro, hoje dependente dos presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, David Alcolumbre (DEM-AP). “Não há impeachment com um presidente que o Congresso, entre aspas, já governa. É diferente do caso da Dilma [Rousseff]. Pedir impeachment neste momento é uma inutilidade”, reforça. 

 

O pesquisador tampouco vê condições para Bolsonaro empalmar novos e maiores poderes, à moda Orbán, simplesmente porque o húngaro foi apoiado pelo Legislativo — o que está longe de acontecer por aqui. E a situação do presidente pode piorar se Trump não se reeleger em novembro em razão da magnitude da recessão econômica mundial derivada da pandemia, que Veiga vislumbra já no final do segundo trimestre. “Embora meus amigos americanos digam que é muito cedo para dizer que Trump está morto, ele vai ter dificuldades para vencer o candidato democrata Joe Biden*, que tem tudo para ganhar”, diz. 

Nem mesmo o “imperador” Xi Jinping está livre do contágio político do novo coronavírus. A blindagem de seu governo autoritário apresenta rachaduras, com o questionamento por parte dos chineses do modo como seu governo ocultou a gravidade da epidemia no início e com o incremento das ferramentas de censura. A base de seu poder, o crescimento econômico, também foi abalada pela pandemia, mas não se trata de um abalo profundo, acredita Veiga. “Em pouco tempo o crescimento chinês retorna”.  

O Partido Comunista e o governo chinês, observa o professor, têm informações de 1 bilhão e 300 milhões de chineses que todos os dias fazem compras com QR Code no celular. Essa massa de informação inigualável no mundo confere à China uma vantagem competitiva em termos de capacidade de processamento e utilização via algoritmos, inteligência artificial e aprendizado das máquinas que ninguém vai desafiar pelos próximos 10, 20 anos. “E os chineses já estão há algum tempo numa ofensiva nas organizações multilaterais visando a adoção mundial de seus padrões de tecnologia e telefonia 5G. Estão trabalhando pela adoção de um novo padrão ISO incorporando os padrões tecnológicos chineses”, adverte pesquisador.  

É precisamente no campo da economia digital que Veiga assinala que a pandemia está acelerando as mudanças profundas. Ele vislumbra um movimento capitaneado pelas gigantes de alimentos e bebidas, como Nestlé e Ambev. “Tenho amigos donos de bares e eles me contaram que a Ambev, por exemplo, está criando sites para cadastrar os estabelecimentos que são seus clientes e adiantando recursos para se manterem. E faz o mesmo com fornecedores”, relata. Essa estratégia, explica o pesquisador, não só reduz a dependência da Ambev dos distribuidores, como ajuda na criação de um vínculo muito estreito e forte da empresa com clientes e fornecedores. 

Não é um esquema absolutamente inovador — a dinâmica já funciona na relação entre megafabricantes de insumos agrícolas e produtores rurais. A novidade é a utilização intensiva do meio digital. “Tudo é resolvido via internet: as compras, o adiantamento dos recursos. E os aplicativos de entrega de refeições estão todos envolvidos nesse processo, que não vai sumir quando a pandemia acabar”, sublinha Veiga, que está iniciando uma pesquisa para entender as implicações econômicas e sociais da aceleração das mudanças na economia digital. “Os agentes econômicos estão se mobilizando no sentido de uma economia digital mais profunda, com implicações para emprego, perfil profissional, entre outras. São mudanças não só econômicas, como também sociais.” 

O mundo pós–pandemia é, hoje, um quebra–cabeça gigante do qual se percebe o esboço geral, mas ainda não se consegue enxergar os detalhes. A única certeza é que amanhã nada será como antes. As grandes epidemias derrubaram reis e impérios, extinguiram populações, mudaram costumes e economias. Como escreveu o biólogo evolucionista Jared Diamond em Armas, Germes e Aço, “por terem sido as maiores assassinas, as doenças também moldaram de forma decisiva a história”. Por que a pandemia do novo coronavírus seria diferente? 

 *No dia 8 de abril o senador Bernie Sanders anunciou a saída da disputa das prévias do Partido Democrata para as eleições de novembro. Assim, o caminho ficou aberto para a oficialização do nome de Joe Biden, vice-presidente nos dois mandatos de Barack Obama (2009-2017), como candidato para enfrentar Donald Trump. 


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