Em 28 de maio de 1854, vicejava a primeira bolha especulativa no Brasil, que pode ser atribuída à criação de inúmeras empresas pelo Barão de Mauá. Imenso era o otimismo com o futuro; o desenvolvimento estava à vista. Naquela data, o Jornal do Commercio do Rio de Janeiro publicava artigo não assinado, com o nome “Ao jogo, cidadãos”. Vale a pena conhecer um trecho, observando que, no português da época, “praça” significava “bolsa”:
“À praça […], cidadãos! Já soaram as nove da manhã; nada de perder-se tempo. Quem sabe se a esta hora não se fará alguma transação fabulosa? Devorai o almoço, devorai o caminho, devorai o tempo. Entrai de roldão, acotovelai os vossos competidores, regalai os olhos, afinai os ouvidos, preparai o bote. A como estão as ações? […] banco comercial, banco hipotecário, banco nacional, estrada de Mauá, iluminação a gás, Ponta da Areia, navegação do Paraguai, tudo serve; podem representar no baralho da especulação como damas, valetes ou reis”.
Poucos meses depois, a atmosfera e o burburinho são confirmados em artigo de ninguém menos que o romântico José de Alencar, patriarca da literatura brasileira. Uma crônica publicada no Correio Mercantil de 21 de janeiro de 1855 — e, posteriormente, na compilação em livro Ao correr da pena — aborda a alma da época:
“Ide à praça. Vereis que agitação, que atividade espantosa preside às transações mercantis, às operações de crédito, e sobretudo às negociações sobre os fundos de diversas empresas. Todo mundo quer ações de companhias; quem as tem vende-as; quem não as tem compra-as. As cotações variam a cada momento […]. Não se conversa mais sobre outra coisa. Os agiotas farejam a criação de uma companhia; os especuladores estudam profundamente a ideia de alguma empresa gigantesca. Enfim, hoje já não se pensa em casamento rico, nem em sinecuras; assinam-se ações, vendem-se antes das prestações e ganha-se dinheiro por ter tido o trabalho de escrever o seu nome”.
O período final descreve fenômeno tão comum e característico das orgias especulativas: os lançamentos de novas ações, hoje conhecidos como ofertas públicas iniciais ou simplesmente designados pela sigla em inglês, IPO. Bastava subscrever e vender no dia inaugural na bolsa, quando os preços explodiam pela demanda reprimida.
Montagem com fotos extraídas da Wikipédia, Transferr blog e do site Freeimages.
Para continuar lendo, cadastre-se!
E ganhe acesso gratuito
a 3 conteúdos mensalmente.
Ou assine a partir de R$ 9,90/mês!
Você terá acesso permanente
e ilimitado ao portal, além de descontos
especiais em cursos e webinars.
User Login!
Você atingiu o limite de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês.
Faça agora uma assinatura e tenha acesso ao melhor conteúdo sobre mercado de capitais
Ja é assinante? Clique aqui