Recente estudo realizado por dois pesquisadores norte-americanos obteve evidências de que, quanto maior a importância do cliente para uma determinada firma de auditoria, mais agressivas são as práticas contábeis reportadas pela empresa auditada e maior a probabilidade de a independência da firma ser comprometida. O estudo foi feito com cerca de 5.500 companhias norte-americanas listadas no período de 1999 a 2004.

Inicialmente, os autores fizeram o cálculo da relação entre o valor total pago pelo cliente e o faturamento da auditoria no período. Em seguida, criaram uma métrica para avaliar o grau de agressividade das práticas contábeis adotadas pelas empresas, baseada nas provisões apresentadas e no cálculo do nível de provisão “anormal” (atraso do razoável). Por fim, realizaram testes associando essas duas medidas e chegaram a três conclusões principais: i) quanto mais importantes eram as empresas-clientes para os escritórios de auditoria, maior o nível anormal de provisão apresentado pelas mesmas (que indicam uma prática contábil mais agressiva); ii) esta relação se mostrou mais forte para uma sub-amostra de empresas com práticas de governança consideradas fracas (com menor proporção de independentes no conselho e menor presença de investidores institucionais); e iii) após a instituição da Sarbanes-Oxley em 2002, houve um enfraquecimento da relação entre a importância do cliente e a agressividade das suas práticas contábeis — com manutenção, porém, da relação para a sub-amostra de empresas com práticas deficientes de governança.

Os resultados do estudo corroboram a tese de que o interesse econômico futuro em um cliente tende a reduzir a independência da auditoria. O estudo também acrescenta fortes evidências de que a adoção de boas práticas de governança pode mitigar substancialmente o problema decorrente da influência da empresa-cliente, assegurando a integridade e a precisão das demonstrações financeiras reportadas aos investidores.