A forma de remuneração dos conselheiros, principalmente os independentes, é um tema ainda sem consenso nas discussões sobre governança corporativa. Recentemente, a área de serviços aos investidores da Moody’s publicou uma resposta negativa ao uso de pacotes de incentivo aos conselheiros independentes baseados na valorização de curto prazo das ações. Segundo Kenneth Bertsch, diretor executivo da Moody´s, “a utilização de pacotes de incentivo aos conselheiros com base em métricas de desempenho pode minar sua independência na fixação da remuneração dos executivos e na supervisão dos relatórios financeiros. Ademais, esta prática pode fazer com que o conselho mude seu foco para um horizonte de curto prazo”.

Como exemplo, tem-se o caso da Coca-Cola, que recentemente converteu toda a remuneração dos seus conselheiros não executivos (montante em dinheiro mais remuneração variável) para uma quantia de US$ 175 mil a ser paga em ações. Estas ações, entretanto, deverão ser concedidas aos conselheiros apenas após três anos e em caso de cumprimento de metas pré-definidas de lucro por ação (caso as metas não sejam alcançadas, toda a remuneração dos conselheiros será perdida). De acordo com o comentário da Moody’s, a utilização de medidas de incentivo aos conselheiros com base na métrica de lucro por ação, como é o caso da Coca-Cola, poderia tornar os conselhos menos vigilantes nas decisões tomadas pelos executivos e leva-los a manipular os lucros do período (earnings management), confundindo os investidores sobre a real situação financeira das empresas.

A agência de classificação de risco também afirma que a adoção de medidas de desempenho ligadas exclusivamente ao preço das ações, como o lucro por ação ou o retorno total para os acionistas, poderia encorajar os conselheiros a tomarem decisões a fim de aumentar a alavancagem da companhia, o que seria contrário aos interesses dos detentores de títulos de dívida das empresas, público-alvo da Moody’s.