Pesquisar
Close this search box.
Qual será o compromisso pós-coronavírus?
No contexto do stakeholder capitalism, um embate entre visões de curto e longo prazos
Colunista Luciana Antonini Ribeiro

*Luciana Antonini Ribeiro | Ilustração: Julia Padula

Ainda imerso em incertezas, surge um novo cenário econômico global, e com valores de humanidade despontando no horizonte. Afinal, depois de covid-19 ter escancarado as desigualdades e fortalecido a solidariedade, a compaixão e o agir com responsabilidade  vale acompanhar o movimento de empresários no Brasil e no mundo com doações, revisão de modelos de operação e oferta de crédito para as necessidades de agora —, haverá novos drivers a guiar negócios, investimentos e políticas públicas. O viés positivo é o caminhar para compromissos de longo prazo com a saúde, a educação, a vida e o planeta, o que é coerente para se evitar até mesmo novas pandemias e desastres, como os relacionados às ameaças climáticas. 

No entanto, há forças contrárias, como em toda dinâmica. Porque no isolamento social (que se mostra eficaz para frear o contágio) tudo o que não era considerado essencial parou. Pararam, de uma só vez, 80% da economia mundial. E quando algo abrupto ocorre, quando somos ameaçados, instintivamente vem a reação. Questão de sobrevivência. 

Por isso, num cenário de economias à beira do colapso, em que 25 milhões de pessoas podem ficar sem emprego no mundo, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), há também uma pressão sem precedentes por resultados de curto prazo. Práticas mais conscientes que estavam na agenda recente correm o risco de serem substituídas pela preocupação com a retomada imediata do PIB mundial. Vale lembrar que os prognósticos do Fundo Monetário Internacional (FMI) dão conta de contrações neste ano de 3% para o mundo de 5,3% para o Brasil. 

Antes da pandemia, a sustentabilidade e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da ONU pautavam 2020. O termo stakeholder capitalism se fortaleceu no Fórum Econômico Mundial em Davos, em janeiro. Além disso, práticas ESG (sigla em inglês para aspectos ambientais, sociais e de governança) se tornaram tema obrigatório nas conversas de investidores institucionais e, por conseguinte, de gestores de patrimônio  concordassem ou não com o conceito. Mas mesmo desafiadas pela busca por retorno financeiro imediato, essas mudanças de mindset e de ação ainda seduzem positivamente, entre outros motivos porque têm bom desempenho mesmo em rupturas. De acordo com análise da Bloomberg, durante a crise desencadeada pela pandemia de covid-19 (dados até abril), na média os portfólios com práticas ESG performaram melhor no S&P 500 em comparação com os fundos comuns. 

Uma explicação está na resiliência de negócios desenhados para ir além do lucro. Aliás, a resiliência é a grande exigência dos tempos atuais em todas as relações — familiaressociais e econômicas —, emergindo como um dos principais temas financeiros da nova década. Essa capacidade rápida de adaptação garante a sobrevivência de forma sustentável, atendendo necessidades básicas e lacunas estruturantes e abrindo espaço para o cuidado com as externalidades, cada vez mais cobradas. 

covid-19 é um teste ácido para o stakeholder capitalism, ao mesmo tempo em que o fortalece, porque são as empresas aderentes a esse modelo que têm prontidão e agilidade para se reorientar nas crises e buscar soluções emergenciais. Isso por contarem com modelos de negócio mais robustos e colherem os resultados de alianças fortes com seus atores sociais, entre eles governos e o público em geral. 

É o caso da gigante Microsoft, que se tornou parceira do hospital Johns Hopkins, em Nova York, no rastreamento do novo coronavírus, e que junto com outras empresas de tecnologia se comprometeu a pagar os colaboradores integralmente apesar da diminuição nas operações. 

Este é o momento de revelar coerência com o que preconiza o ESG — ou não. Empresas, preparem seus discursos para a verdade! E estejam prontas para atender investidores questionando sobre planejamento para resiliência e contingência. 

A pandemia jogou luz em outros aspectos do ESG — além do ambiental, que continua essencial, sem dúvida. O comprometimento com o social se fortaleceu e a necessidade de as empresas adotarem planos de continuidade e de atenção com os colaboradores e com as comunidades com as quais atuam virou fator de risco. 

A transformação nos valores a guiar negócios e investimentos segue o ritmo da desconstrução da nossa antiga forma de viver. Em evidência, depois desse primeiro grande teste para a resiliência humana global, estarão urgências sociais, cuidados de saúde e gerenciamento de riscos. O convite é para refletir sobre os efeitos de cada uma de nossas escolhas. 


*Luciana Antonini Ribeiro ([email protected]) é sócia-fundadora da EB Capital


Leia também

Pandemia abre espaço para primeiras assembleias digitais

O dia seguinte dos negócios pós-pandemia

Os desafios macroeconômicos da pandemia


coronavírus, Qual será o compromisso pós-coronavírus?, Capital Aberto


Para continuar lendo, cadastre-se!
E ganhe acesso gratuito
a 3 conteúdos mensalmente.


Ou assine a partir de R$ 34,40/mês!
Você terá acesso permanente
e ilimitado ao portal, além de descontos
especiais em cursos e webinars.


Você está lendo {{count_online}} de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês

Você atingiu o limite de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês.

Faça agora uma assinatura e tenha acesso ao melhor conteúdo sobre mercado de capitais


Ja é assinante? Clique aqui

mais
conteúdos

APROVEITE!

Adquira a Assinatura Superior por apenas R$ 0,90 no primeiro mês e tenha acesso ilimitado aos conteúdos no portal e no App.

Use o cupom 90centavos no carrinho.

A partir do 2º mês a parcela será de R$ 48,00.
Você pode cancelar a sua assinatura a qualquer momento.