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O potencial trilionário da economia circular
Além de uma boa prática ambiental, conceito deve ser um guia para o mercado nos próximos anos
Daniel Izzo
Daniel Izzo, sócio-cofundador da Vox Capital | Ilustração: Julia Padula

Para o capital privado efetivamente contribuir com as transformações de que o mundo precisa, cada vez mais serão necessários novos modelos de negócios e diferentes formas de lidar com o impacto do crescimento das empresas. Nesse contexto, é preciso falar sobre economia circular e sua relação com nosso jeito de consumir e viver. 

Muito além de uma boa prática ambiental, o conceito de economia circular deverá ser um guia para o mercado nos próximos anos. Soluções nessa linha acrescentarão 4,5 trilhões de dólares à economia até 2030, prevê a Accenture. Ou até mais.  A McKinsey estima ganho de 1,8 trilhão de euros por ano até 2030 — só na Europa. 

Por enquanto, no Brasil já se destacam Santa Luzia, no segmento de coleta e isopor, Boomera e Ambipar. Lá fora, a gestora de venture capital Circularity Capital foca em empresas nascentes de economia circular. 

O potencial é enorme, dada a demanda por inovação, integração entre setores e ampliação de mercados, em especial os de coleta e reciclagem. Agora, o que vai destravar a economia circular de fato é a mudança na maneira como a sociedade entende seu próprio consumo e investimento, como destacou a especialista Beatriz Luz em entrevista ao podcast Conversas de Impacto.

A seguir listo quatro pontos que ajudam no entendimento do cenário da economia circular e o quanto de valor financeiro, social e ambiental é possível gerar com ela. 

Maior controle sobre preço da matéria-prima, custo de produção e externalidades. Os recursos naturais já são finitos e as commodities, usadas na produção global, são negociadas em dólar. Na prática, qualquer choque de oferta, aumento abrupto de demanda (como se tem visto no caso do petróleo) ou tensão geopolítica (como a invasão russa à Ucrânia) afeta o custo da cadeia de produção e, claro, o bolso dos clientes. A economia circular é uma alternativa porque amplia as possibilidades de matéria-prima para indústrias, reduzindo o impacto da alta dos preços para todas as partes. Além disso, as empresas precisam conhecer profundamente todo o ciclo do produto para, assim, saber quando e como reintegrar o item reciclado ao sistema, cuidando de suas externalidades. É nesse aprofundamento que a companhia mapeia a jornada do produto e consegue fazer a gestão do impacto que ele gera junto a colaboradores, parceiros e comunidade. 

Redução das emissões e estímulo ao mercado de crédito de carbono. Um reporte de 2021 da Circulatiry Gap mostra que cerca de 70% das emissões de gases poluentes vêm da produção e do uso de materiais. Já a aplicação da economia circular e as mudanças na forma de acessar recursos, fabricar e distribuir produtos têm potencial para reduzir essas emissões em cerca de 40%. Um exemplo prático do potencial de redução possível é dado pela OCTA, empresa criada por Arthur Rufino e que atua no estágio final da cadeia automotiva para aumentar a circularidade do sistema de desmanche e do reúso de peças de veículos automotores inutilizados. Com base no percentual reciclável dos veículos e do metal, a empresa concluiu que a cada tonelada de aço de automóvel reciclada, cerca de 1,82 tonelada de CO2 é economizada — mais que um crédito de carbono. 

Estímulo para as economias emergentes.Nos países emergentes, onde o avanço da renda ainda tende a impulsionar o consumo, um ponto de atenção é como cuidar do descarte. Mas, nessas economias, inclusive no Brasil, a gestão dos descartes acabou ficando relegada à economia informal — basta se lembrar dos catadores, em sua maioria autônomos e sem registro. Ocorre que há uma importância econômica e social na gestão dos resíduos, e essa informalidade precisa ser revista. Abordagens mais formais, industriais e com capacidade de atrair talentos têm muito a somar no sistema circular, na medida em que atraem mais negócios e investidores. Um sistema mais integrado estimula, inclusive, uma mudança de nosso comportamento e perfil de consumo. Por exemplo, na África do Sul, ao se oferecer opção mais formal, a coleta de pneus inutilizados aumentou de 3% para 70% em 18 meses, criando espaço para pequenas e médias empresas no setor. 

Novos mercados, novas funções, mais emprego.Ao ampliar as frentes de operação e inovação, a economia circular aumenta também a demanda por novos postos de trabalho para profissionais com baixa e alta qualificação. Novas formas de produzir e acessar recursos reciclados ou a reciclar tendem a criar demanda de mão de obra e espaço para pesquisadores, tecnólogos e outros estudarem e desenvolverem as fórmulas e processos para intensificar a eficiência e a produtividade das soluções.

Em suma, em meio a tantas questões socioambientais para serem resolvidas no Brasil e no mundo, não há dúvidas sobre o potencial de crescimento das soluções que sejam efetivas nessa direção. 

Por último, e não menos importante, as políticas econômicas e ambientais são igualmente importantes para oferecer mais segurança jurídica e metas para as quais os negócios devem contribuir. 


Daniel Izzo ([email protected]) é sócio-cofundador da Vox Capital

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