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Crédito pronto para novo ciclo de expansão
Cenário esperado para 2019 permite expectativa de elevação do saldo dos empréstimos em 10%
Evandro Buccini

Evandro Buccini*/ Ilustração: Julia Padula

O impeachment da presidente Dilma Rousseff gerou uma recuperação aquém da esperada. O principal culpado foi o mercado de crédito, que continuou fraco enquanto empresas e famílias ainda digeriam os empréstimos tomados antes da recessão. O crédito bancário chegou a representar quase 55% do PIB no final de 2015, de acordo com dados do Banco Central; 35 meses depois, o saldo está em 46% do PIB, e ainda contraindo na comparação anual. Todas as categorias apresentaram retração: famílias e empresas, crédito livre e direcionado e bancos de controle público e privado. Passada a volatilidade eleitoral, já há algum sinal de melhora das expectativas para o crescimento nos próximos anos e o crédito será essencial para a aceleração do PIB em 2019. A oferta e a demanda por empréstimos parecem prontas para um novo ciclo de expansão.

A recessão que começou em 2015 chegou num momento em que famílias e empresas já tinham níveis recordes de alavancagem e as taxas de juros e projeções estavam extremamente altas. O endividamento de pessoas físicas chegou a 46% da renda disponível e o comprometimento da renda mensal com juros e serviços da dívida atingiu pelo menos 22%. Já as empresas, que nos anos anteriores haviam investido por acreditar que o crescimento da demanda continuaria forte, chegaram a ter dívida líquida equivalente a cinco vezes o Ebitda. Esse número foi influenciado por empresas cíclicas e pela Petrobras, mas mesmo desconsiderando esses efeitos a trajetória foi a mesma.

A política econômica adotada pelo governo Michel Temer conseguiu controlar a inflação e, por consequência, baixar a taxa de juros, o que ajudou a interromper a recessão. A renda real das famílias voltou a crescer e as empresas tiveram aumento do faturamento. A troca de governo também desencadeou a mudança na orientação de duas grandes empresas brasileiras, que passaram a ativamente reduzir o endividamento: Vale e Petrobras. O endividamento das famílias está hoje perto de 41% da renda disponível e o serviço da dívida próximo a 20% dela. Parece que a queda foi pequena, mas houve importante melhora na qualidade de crédito para pessoas físicas, com crescimento relevante do crédito imobiliário. Já as empresas chegam a este fim de 2018 com a razão entre dívida líquida e Ebitda próxima a 2,3, já em níveis pré-crise.


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Para a concessão de crédito crescer mais, os bancos têm que querer emprestar. A inadimplência na carteira dos bancos, segundo o Banco Central, passou de 4% em 2016 para 3% hoje (considerando somente o crédito livre, aquele sem direcionamento obrigatório — BNDES e créditos rural e imobiliário — a queda é de 5,9% para 4,1%), patamar próximo ao registrado antes da recessão.

Itaú e Bradesco estão com inadimplência perto de 3,5% nas carteiras. A contração dos bancos públicos, principalmente do BNDES, também contribui para a melhora do cenário, pois diminui consideravelmente o crédito subsidiado para grandes empresas, as que têm acesso a outros meios para endividar-se. O spread bancário continua alto, como sempre foi (como escrevi na coluna de maio deste ano), mas não será impeditivo para aceleração da concessão em 2019. O guidance que os bancos de capital aberto dão para 2019 ainda é de tímido crescimento da carteira — de 3%, 4%, próximo ao patamar deste ano —, mas já há evidências de que os bancos estão baixando a qualidade mínima exigida dos tomadores para emprestar.

A confiança dos empresários está se recuperando — o índice de confiança empresarial da FGV está no nível mais alto desde 2014. Para sustentar essa melhora, crucial para recuperação do crédito e para a aceleração do crescimento do PIB, é essencial que a política econômica indicada pelo futuro ministro da Economia seja implementada e que as medidas que necessitem de aprovação no Congresso tenham algum avanço ainda no primeiro semestre. O problema fiscal precisa ser endereçado, para que se dê maior previsibilidade aos empresários que fazem planos de longo prazo. Dois projetos importantes para o mercado de crédito precisam ser aprovados: o cadastro positivo e as mudanças da lei de recuperação judicial. Outra proposta relevante para o setor, a lei que cria duplicata eletrônica, já foi sancionada.

Com oferta e demanda de crédito em condições para o início de um novo ciclo de crescimento e ideias corretas de política econômica, o principal fator interno que determinará a velocidade da recuperação nos próximos anos será a aprovação das medidas de ajuste fiscal e das reformas no Congresso. Não é necessário excesso de otimismo para projetar um crescimento de 10% para o saldo de crédito em 2019. Será uma importante ajuda para setores sensíveis ao crédito e que ainda não experimentaram recuperação relevante, como a construção civil, e deve contribuir para um crescimento mais forte do Brasil, com maior geração de empregos.


*Evandro Buccini é economista-chefe da Rio Bravo Investimentos 


 

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