A imagem da sétima arte que vem à cabeça sobre os mortos-vivos irremediavelmente remete aos comedores de cérebros que ressurgem após perderem a pulsação. Aproveitando que uma imagem vale mais que mil palavras, o aclamado economista Paul Krugman aplica sua irreverência e humor seco ao rótulo de seu último livro, Arguing with Zombies. A partir de uma curadoria de artigos próprios sobre 18 (!) temas a partir de 2004, o autor descreve a dificuldade do debate de ideias com base em argumentação técnico-científica quando se trata de políticas públicas: assuntos que já deveriam ter sido pacificados acabam “voltando dos mortos” com virulência, atrapalhando as escolhas em momentos de polarização.
Na introdução do livro, Krugman indica claramente um grande desafio enfrentado no momento atual. Por causa do ressurgimento do populismo em vários cantos do mundo, a ideologia tem suplantado a argumentação baseada em evidências, que deveria guiar a evolução da teoria econômica para sustentar o desenvolvimento social. Em outras palavras, quando a ciência se aproxima da política, ela corre grande risco de comprometer sua independência e objetividade. Daí a ampla proliferação de terraplanistas, negacionistas e outros “istas” com teorias e agendas próprias.
Dentre os 18 temas escolhidos para agrupamento dos artigos, destacam-se seguridade social, sistema de saúde público, cortes em impostos, euro e política fiscal. A linha que procura costurar essa colcha de política públicas consiste na função-objetivo estabelecida pelo autor para o campo da economia: aumentar a qualidade de vida e o bem-estar da população.
A partir dessa lente, Krugman aborda as discussões e as escolhas de políticas nos Estados Unidos sob liderança de democratas e republicanos, contrastando o modus operandi dos partidos, especialmente durante os anos de Donald Trump como presidente. O autor se vale de sua grande reputação acadêmica e capacidade para simplificar assuntos densos para estabelecer uma comunicação eficaz com os leitores, fazendo o uso elegante de matemática, história e filosofia.
Embora o livro aponte vários temas como “zumbis” na política pública americana, é interessante notar como o próprio autor parece ter sido atacado pelo vírus que assola o mundo. Seu posicionamento é bastante dogmático e carregado de viés progressista — isto é, as ideias “dos outros” é que são os zumbis… Quando a lógica e a teoria acadêmica são colocadas a trabalhar por uma causa, os “argumentos” devem ser analisados com olhar crítico. O caminho para a luz é conhecido: retornar à raiz da teoria econômica, com evidências empíricas e conclusões sobre dados sólidos. Afinal, deve-se reconhecer que existem zumbis à espreita, tanto de esquerda quanto de direita, em qualquer sociedade.
Arguing with zombies
Paul Krugman
W. W. Norton & Company
460 páginas
1a edição ― 2020
Peter Jancso é sócio da Jardim Botânico Investimentos e conselheiro independente
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