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Uma vida dedicada à memória das bolsas brasileiras 
Mercado de capitais perde o ex-operador e historiador Ney Carvalho 
, Uma vida dedicada à memória das bolsas brasileiras , Capital Aberto

Imagem: Freepik

Faleceu no último dia 17 de novembro, no Rio de Janeiro, o historiador e escritor Ney Carvalho. Referência nos trabalhos de pesquisa sobre o mercado de capitais brasileiro, Carvalho foi operador da antiga Bolsa do Rio por 25 anos, a partir do fim dos anos 1950, e depois se dedicou às letras. 

Sempre interessado pelos episódios marcantes que moldaram o mercado no País, escreveu livros como O Encilhamento: Anatomia de uma bolha brasileira (que descreve um caso do século 19), Bolha especulativa de 1971Três episódios marcantes das Bolsas e A guerra das privatizaçõesdentro outros títulos. 

Paralelamente aos trabalhos como historiador, Carvalho durante muitos anos foi colaborador desta CAPITAL ABERTO, como titular de colunas como “Histórias” e “Análise”. Há pouco mais de um ano, em um de seus últimos textos para a revista, Carvalho tratava do que chamou de “vício brasileiro em Estado”. 

A seguir, uma homenagem de Roberto Teixeira da Costa, primeiro presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ao seu colega de militância no mercado de capitais. 

In memorian — Ney Carvalho  

Meu convívio de muitos anos com Ney Carvalho foi motivado pelo nosso interesse comum pelo desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro. 

No final dos anos 1950, quando ingressei nesse mercado, não éramos muitos os interessados na área, e poucos ainda se davam conta dimportância da bolsa de valores como instrumento de desenvolvimento econômico e como elemento fundamental de liquidez para o investidor. 

Atuando na corretora da família, tradicional no mercado carioca, Ney esteve muito ligado à Bolsa do Rio, que na época era destacadamente a bolsa brasileira de maior relevância, rivalizando com a Bolsa de Buenos Aires. 

Quando fui convidado por Mario Henrique Simonsen para assumir a presidência da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e estruturá-la, decidi que necessitava de um colegiado representativo de diferentes segmentos do mercado. Para representante dos operadores de mercado escolhi exatamente Ney Carvalho — que, ao lado de Jorge Hilário Gouvêa Vieira, Antônio Milão Rodrigues Lima e Geraldo Hess formou o primeiro colegiado da CVM. 

Mas passados alguns meses do início de nossos trabalhos (estávamos no anexo do MAM, onde funcionava o Ibmec), Ney enviou-me uma carta pedindo que o dispensasse. Com elegância, deixou claro que não se sentia confortável em exercer o papel de polícia do mercado — a CVM era chamada de “xerife do mercado  e concluiu dizendo que “cabrito não pode tomar conta da horta”. 

Saiu pela porta da frente e só deixou amigos na CVM. Foi substituído por Emanuel Sotelino Schifferle, que levava ao grupo sua experiência como banqueiro de investimentos e com sua atuação na corretora do grupo Crefisul. 

Mesmo com Ney fora da CVM, nossos contatos não foram interrompidos. Um pouco mais tarde, ele passou a se dedicar com grande afinco ao trabalho como historiador, com ênfase no mercado de capitais. E o fez com muita competência, sabendo explorar agentes do mercado que tiveram relevância numa visão retrospectiva, fornecendo informações de valor indiscutível para entendermos como ocorreram alguns episódios marcantes na história do mercado brasileiro. 

Vale citar O Encilhamento: Anatomia de uma bolha brasileira, de 2004, editado pela então Bovespa e pela Comissão Nacional de Bolsas. Um comentário na introdução: O encilhamento foi o mais importante episódio na vida das Bolsas e do mercado livre do Brasil, e marcou os primeiros passos da República, nascida em 1889. 

Também escreveu Bolha especulativa de 1971para o qual me convidou a redigir o prefácio. É leitura obrigatória para os interessados na história do mercado de capitais brasileiro. E, mais do que isso, retrata o Rio de uma época que, olhando retrospectivamente, nos traz muitas saudades. Esses e outros momentos das bolsas estão reunidos, ainda, em Três episódios marcantes das Bolsasde 2018. Vale uma menção adicional ao excelente A guerra das privatizações, de 2009, com prefácio de Fernando Henrique Cardoso. 

E o autor Ney não se limitava ao mercado de capitais: escreveu um livro (O Turfe no Estado do Rio de Janeiro, de 1999) sobre o Jockey Club Brasileiro, com texto e apresentações excelentes do esporte dos reis. 

Retornando a São Paulo encerrada minha passagem pela CVM, passei a acompanhar os artigos de Ney publicados em jornais e revistas. 

Num país que não valoriza sua história, Ney ocupou um espaço relevante e nos deixou um excelente legado. Sentiremos saudades! 


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