Recordações de Alfried Plöger — idealista e apaixonado
De espírito afiado, era bom contador de histórias e animava rodas com seu humor

Recordações de Alfried Plöger

Quem, como eu, conheceu Alfried Karl Plöger de perto e privou de sua amizade sabe que ele tinha várias paixões, sendo as mais evidentes o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro e a Companhia Melhoramentos, onde iniciou seu trabalho em 1969, no mesmo ano em que obteve sua naturalização. Plöger nasceu na Alemanha, na cidade de Stettin, e veio para o Brasil em 1948, com 9 anos. Retornou para estudar na Alemanha, onde formou-se pela Escola Superior de Economia, em 1966. Morreu aos 80 anos, no domingo 12 de abril, em decorrência do terrível vírus mais conhecido como corona, que vem alarmando as sociedades e vitimando pessoas no mundo todo desde janeiro de 2020.   

Era alemão de nascimento, mas se comportava como um brasileiro engajado e empolgado. Além de ter sido eficiente colaborador, executivo e conselheiro da Companhia Melhoramentos (presidiu o conselho nas décadas de 1980 e 1990), cultivou hábitos nacionais — como torcer ardorosamente por um time de futebol, o Palmeiras, e frequentar estádios para ajudar a empurrar o clube do coração. Isso depois de, na juventude, ter atuado como goleiro do time composto por colegas de trabalho. De espírito afiado, era bom contador de histórias e sempre animava rodas com seu conhecido bom humor.  

Tive a honra de compartilhar de uma de suas grandes paixões, a Abrasca (Associação Brasileira das Companhias Abertas), entidade da qual foi presidente entre os anos 1997 e 2007, e cujo conselho diretor presidia quando de seu falecimento.  Mesmo nesses últimos anos, com uma idade que lhe permitia se dar ao luxo de diminuir o ritmo, mantinha atuação firme em entidades como o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), onde também fomos colegas na década de 1990 

Pude também acompanhar o desempenho de Plöger dos dois lados do balcão. Sempre fui seu parceiro nas lutas pelo fortalecimento e amadurecimento do mercado de capitais brasileiro. E, durante breve tempo, nos primórdios da década de 1990, pude conviver com seu empenho na condição de presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM)autarquia que monitora o mercado brasileiro de ações e de dívidas corporativas. O meu mandato de chairman da CVM foi recheado de desafios. O Brasil, para variar, passava por uma crise econômica agravada por uma incerteza política. No período, conseguimos aprovar as condições legais e estruturais para o lançamento das famosas ADRs no mercado americano. O apoio de Plöger e da Abrasca, por meio de seu conselho diretor, foi de suma importância. Havia fortes forças contrárias, vindas de importantes agentes do mercado brasileiro que acreditavam que a possibilidade de as empresas nacionais lançarem ADRs no exterior acabaria definitivamente com o mercado de capitais no Brasil. Ledo engano: ao longo do tempo comprovou-se o contrário. No augenos anos seguintes, pelo menos 70 empresas lançaram com sucesso ADRs na Bolsa de Valores de Nova York, capitalizando-se e trazendo recursos internacionais para o Brasil. 

Plögercomo empresário atuante na Abrasca, disse mais de uma vez que não se preocupava em ser politicamente correto (quem não se recorda da luta travada contra a publicação obrigatória de balanços no Diário Oficial da União?). O que valia mesmo para ele era a causa do mercado de capitais. E Alfredo Weiszflog, seu colega por 50 anos na Companhia Melhoramentos, retrata-o como pessoa muito cheia de vida, de opiniões, que gostava de entrar nos detalhes das questões. 

De minha parte, posso afirmar com segurança que Plöger foi um dos grandes responsáveis pelo salto em volume e qualidade que a Abrasca experimentou nas últimas décadas. A entidade, hoje, reúne de maneira voluntária as mais importantes companhias brasileiras de todos os setores; suas associadas somam 85% do valor de mercado das companhias abertas locais  sem dúvida, um feito a ser exaltado.  

A atual direção da Abrasca atribui a Plöger a criação de um legado de retidão e liderança. Também destaca que, na última gestão como presidente do conselho diretor, de 2017 até o momento de seu falecimento, teve atuação decisiva na condução da exitosa reorganização da entidade.  

No ponto em que estamos, é possível afirmar que o mercado de capitais brasileiro ainda precisa crescer e amadurecer, mas já avançou muito e caminha para se tornar um mercado maduro. Boa parte desse progresso tem a ver com a visão, garra e o empenho de Alfried Karl Plöger 

À Claudia, sua esposa, e aos seus filhos Tilo, Annette, Peter e Martina, bem como aos seus netos, manifesto meu mais profundo sentimento de pesar e solidariedade. 

Ao meu querido amigo Ingo e à Nina, forte e carinhoso abraço.  

Todos sabemos a falta que ele está fazendo.  


*Roberto Faldini foi presidente da Abrasca (1989 a 1991 e 1992 a 1993) e presidente da CVM (1992). É conselheiro honorário da Abrasca e membro de conselhos de administração de diversas empresas de capital aberto e fechado. 


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