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Pandemia fomenta uma nova corrida do ouro
Busca por proteção motivou o movimento, mas é provável que a valorização do metal seja temporária
Pandemia fomenta uma nova corrida do ouro

*Paulo Bioni | Ilustração: Julia Padula

O ouro se tornou um dos ativos mais demandados diante dos efeitos avassaladores da pandemia de covid-19 sobre os mercados financeiros e a economia global. Apesar de essa verdadeira “corrida do ouro” ter se intensificado a partir de meados de julho, para se entender esse movimento de uma forma mais clara é necessário voltar a março, quando ainda não se imaginava a extensão da crise. A pouca previsibilidade dos agentes do mercado sugeria uma queda pronunciada no PIB global e, como resultante, uma pressão deflacionária ao menos no curto prazo, com uma lenta retomada do crescimento nos próximos anos. Assim, a perspectiva de juros reais muito baixos — ou até negativos — para estimular a economia global praticamente surgia como uma das poucas certezas.

No momento mais agudo da crise, o ouro teve queda, como os demais ativos de risco, em contraposição à alta das moedas consideradas portos seguros — dólar, franco suíço e iene. A partir de março, os principais bancos centrais do mundo reagiram de forma rápida e com magnitude jamais vista nos estímulos monetários, o que criou um certo suporte para os mercados de ações e uma leve melhora na previsibilidade. Isso indica que o momento mais intenso para os mercados nesta crise, o “fundo do poço”, deve ter ocorrido em meados de março.

O lado real das economias aparentemente se encaminha para um cenário de inflação baixa, com crescimento lento e dúvidas em relação à volta da expansão do PIB global. Por mais que os balanços dos BCs tenham crescido muito e a expansão de liquidez seja abissal, os gastos fiscais dos mais diversos governos também foram elevadíssimos e ainda há dúvidas sobre a recuperação global. Ao mesmo tempo, essa junção de fatores levou os juros reais das principais economias para patamares negativos.

Ao se falar do dólar, a injeção brutal de liquidez liderada pelo Federal Reserve gerou uma pressão adicional para o enfraquecimento da divisa, alimentando suspeitas sobre a permanência da moeda de reserva mais relevante do mundo — fato que contribuiu muito para a corrida pelo ouro. O metal tem uma aderência muito forte aos juros reais das principais economias desenvolvidas (principalmente quando estão em níveis baixos), em especial com a dos EUA. Dessa forma, observa-se que os investidores preferem carregar o ouro como se fosse caixa.

Essa nova corrida do ouro nos fez questionar se esse metal é realmente a melhor opção para proteção em um cenário em que as taxas de juros reais permanecem baixas por muito tempo. A relação do ouro com o cobre geralmente é utilizada para se observar o sentimento de aversão ao risco global e, nessa linha, identifica-se que o ouro no longo prazo tem uma forte aderência a uma cesta de commodities: em momentos de aversão a risco extremos, todas as commodities, inclusive o ouro, apresentam quedas. Já em um segundo momento ambas tendem a se valorizar — o ouro tende a caminhar na frente por ser um ativo considerado seguro, enquanto as demais precisam de crescimento econômico sedimentado para ter uma alta consistente.

Se esse crescimento realmente acontecer, o ouro tende a perder valor, diminuindo o prêmio em relação às demais commodities. No momento atual, os estímulos elevados e concomitantes dos BCs (em adição aos gastos fiscais dos governos) devem escoar para a economia real assim que voltar a confiança do consumidor — seja por conta do arrefecimento da pandemia ou da manutenção do seu nível de renda. Em se confirmando o crescimento econômico global, essa diferença entre o preço do ouro e as demais commodities deve diminuir.

De qualquer forma, traçando um paralelo com a corrida do ouro de séculos atrás, o desafio continua sendo o mesmo: não necessariamente encontrar o metal valioso, mas vender as pás, picaretas e roupas para as pessoas que vão garimpar o metal. Nessa linha, a relação do prêmio do ouro em relação a outras commodities está muito assimétrica.

Portanto, por diversas métricas, o ouro está relativamente muito caro, situação agravada por todo o estímulo fiscal feito ao redor do mundo, e que em algum momento será convertido em crescimento econômico. Além disso, as taxas de juros orbitando próximas de zero fornecerão um suporte adicional para a retomada da economia. Nesse contexto de recuperação global, conforme o ambiente econômico for ficando mais calmo e previsível, os investidores buscarão rendimentos com taxas mais altas nos países emergentes dentre os que tiveram suas economias menos destruídas. Ou seja, por mais que o preço do ouro tenha apresentado uma aceleração muito forte, pode ser que o movimento seguinte — a venda de pás e picaretas — seja visto na aceleração das demais commodities ou de ativos de economias emergentes de commodities intensivas.


*Paulo Bioni ([email protected]) é trader de moedas na Infinity Asset Management


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