Os investimentos de impacto vêm ganhando força nos últimos anos, num avanço que se tornou possível graças à receptividade cada vez maior de diversos perfis de investidores e gestores. A tese de impacto sempre foi acolhedora, por motivos óbvios — mas, uma vez que ela se provou rentável e competitiva, não houve alternativa a não ser abraçá-la.
Hoje existem pessoas que investem apenas para gerar um impacto positivo na sociedade, outras que perseguem só o retorno financeiro e, por fim, as que se movem pelos dois objetivos.
A partir da confluência destes diferentes públicos e de seus perfis, é preciso reconhecer as sutilezas do investimento de impacto. De um lado, a categoria é capaz de neutralizar a dualidade histórica entre impacto e retorno, tão presente no mercado; de outro, ela evidencia um aspecto por muito tempo ignorado: a subjetividade.
Segundo o Global Impact Investing Network (GIIN), “investimentos de impacto são feitos com a intenção de gerar impacto socioambiental positivo e mensurável, além de retorno financeiro. Portanto, de acordo com o GIIN, os critérios “intenção”, “mensurável” e “positivo” podem ser interpretados como os mais importantes para o sucesso de um negócio que busca gerar impacto.
Mas como avaliar critérios tão subjetivos?
O ponto de encontro
Apesar de respirar essa pergunta dia após dia, foi andando em um museu de São Paulo e apreciando obras de arte que comecei a entender as sutilezas da resposta. Na ocasião, um grande amigo me ensinou que “a arte é o ponto de encontro entre a intenção e a ação”. Foi aí que a primeira ficha caiu.
Um trabalho artístico, para ser considerado bem-sucedido, depende de alguns fatores. O primeiro é a intenção do artista na criação da obra. O outro é o próprio espectador que, com um olhar constituído por seu histórico de vida, aprecia a obra e avalia a intenção por trás dela. As partes se juntam quando entendemos que a função de qualquer obra é provocar um sentimento e uma reflexão em quem a aprecia. Essa é a sua ação. Quando o artista consegue construir uma ponte entre sua intenção e a ação, a obra ganha significado na vida das pessoas e, por fim, gera valor.
Fazendo o paralelo com negócios de impacto: o empreendedor carrega a mesma intenção de gerar valor a quem mais precisa do seu produto ou serviço e o cliente final é quem testemunha e tem o poder de avaliar o efeito daquele negócio — ou seja, o seu impacto.
Assim como a arte, o investimento de impacto está em constante busca do ponto de encontro entre intenção e ação. Mas, afinal, por que ele é tão difícil de encontrar?
Acolhendo a dualidade
Na minha opinião, há alguns motivos principais para isso. Primeiro: somos mestres em reconhecimento de padrões e a dualidade existe justamente para a fácil categorização das coisas. Mas, ao se neutralizar falsas prioridades entre critérios de análise, como o investimento de impacto faz com impacto e retorno financeiro, é possível abrir espaço para identificar e melhorar as relações que existem entre eles.
O critério da intenção, por exemplo, pode ser avaliado por um padrão que mede o nível de conexão pessoal entre o empreendedor e seu público. O impacto gerado pode ser identificado pela métrica de NPS, que é uma forma padrão de mensurar a percepção do cliente. Mas um investimento que considere apenas esses fatores não significa, necessariamente, um investimento de impacto.
É preciso ir além e avaliar a relação entre a intenção e a ação, entre o empreendedor e o cliente final. O desafio é complexo porque tanto a intenção quanto o impacto devem ser permanentes, mas suas manifestações podem variar. Com essa premissa, aceita-se que um único padrão de avaliação não é suficiente para avaliar o critério da mensuração.
A Teoria da Mudança, por exemplo, é uma ferramenta que busca organizar a relação sistêmica entre intenções de um negócio e seu desejo de impacto. Além de mapear as manifestações da intenção e as formas pelas quais o impacto pode ser gerado, ela identifica os indicadores a serem mensurados para acompanhar o nível de impacto causado pelo negócio.
Geração de valor
Uma Teoria da Mudança bem-feita materializa as relações entre intenção e ação, e serve como a principal ferramenta para a criação de valor de um negócio de impacto. Pode-se dizer que ela é o canvas de uma obra de arte. Conforme as mudanças forem acontecendo, a Teoria da Mudança preserva a essência da obra e garante que a intenção e a ação possam se encontrar.
O que investidores de impacto precisam olhar não são os padrões, mas sim como eles se relacionam, o ponto de encontro. É necessária muita diligência para se encontrar o “canvas” certo e avaliar os critérios, que mudam de padrão conforme a empresa evolui. A competência do investidor de impacto deixa de ser apenas a gestão de ativos para ser também a gestão do significado desses ativos.
É verdade que um investimento de impacto não evita externalidades negativas por completo. Mas o uso de ferramentas que eliminam a negligência (como a Teoria da Mudança bem feita) cria oportunidades de aprendizado, em vez de uma externalidade infeliz.
Foi naquele dia no museu que comecei a entender que a resposta nunca será binária. Passei a entender também que as respostas, por serem relativas, só surgem a partir das perguntas certas. Como investidor de impacto, me pergunto constantemente qual é a minha intenção e a quem desejo servir.
Qual é a sua intenção? E por quê?
Arthur Esteves ([email protected]) é analista de venture capital na Vox Capital
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