Relatórios de sustentabilidade como ferramenta de pressão
Stakeholders devem usar informações para provocar efetivas mudanças culturais nas empresas
, Relatórios de sustentabilidade como ferramenta de pressão, Capital Aberto

Gláucia Térreo | Ilustração: Julia Padula

Não se questiona que esta é a era da informação. Já se sabe, no entanto, que uma quantidade maior de informação nem sempre resulta em melhores decisões — veja-se, por exemplo, a desenfreada disseminação de notícias falsas ou distorcidas, que tem efeitos negativos sobre a política, a economia e até sobre a saúde das pessoas. Mais do que nunca é preciso considerar o modo como as sociedades consomem informação. De nada adianta a divulgação de mais dados sem a garantia de que sejam contextualizados, fáceis de entender e conectados à vida real.

Essa avaliação se encaixa perfeitamente aos relatos de sustentabilidade feitos pelas empresas. Em 1997, a Global Reporting Initiative (GRI) criou as primeiras diretrizes para essa prática e desde então as normas têm papel fundamental na promoção da cultura da transparência e na inserção de questões ambientais, sociais e de governança na agenda corporativa.

Nos últimos anos, escândalos de corrupção envolvendo governos e corporações, desastres ambientais e humanos causados por negligência na gestão de riscos no Brasil e no mundo colocaram à prova o discurso de responsabilidade social corporativa. Por isso, cabe lembrar que o relato de sustentabilidade não é um meio em si mesmo: é um instrumento para mudança de comportamento corporativo, e que poderia ser mais utilizado pelos diferentes stakeholders para cobrar mudanças nas empresas.

Recentemente, as pesquisadoras Belén Fernandez-Feijoo, Silvia Ruiz Blanco e Silvia Romero1 estudaram o poder de influência de stakeholders sobre a transparência das empresas em questões ambientais, sociais e de governança. Elas trabalharam com uma amostra de 1.047 companhias globais de diferentes origens, incluindo 160 brasileiras. Os resultados mostram que a pressão exercida por alguns grupos de stakeholders (consumidores, clientes, funcionários e pessoas ligadas à defesa do meio ambiente) aumentou a transparência dos relatos de sustentabilidade. Os resultados do trabalho indicam que, entre os stakeholders, investidores e funcionários têm o maior nível de influência sobre o que é relatado.

Há um esforço das áreas de sustentabilidade das empresas para divulgar informações, mas ainda existe pouca interação corporativa com os stakeholders. Às vezes, a própria alta liderança não presta atenção à utilidade e aos objetivos dessas divulgações, fazendo com que os relatórios abordem apenas dados positivos. Contudo, se as argumentações e questionamentos externos (de investidores, consumidores, da comunidade e dos demais stakeholders) chegam às empresas, criam-se mais condições para se integrar questões ambientais, sociais e de governança à estratégia.


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Diante das múltiplas crises que se enfrenta hoje — de caráter financeiro, ambiental, social e ético —, vale relembrar as palavras de Louis Brandeis, juiz da Suprema Corte americana: “A luz do sol é o melhor desinfetante”. Transparência faz bem para a economia e para a sociedade. O exercício proporcionado pela elaboração de relatórios de sustentabilidade é, sobretudo, de transparência. Atribuir a essa ferramenta a responsabilidade por condutas ruins das empresas é como culpar o bisturi pelo erro de um cirurgião.

O uso efetivo das informações divulgadas pelas empresas e o questionamento das práticas corporativas pelos diferentes stakeholders são fundamentais para a mudança do comportamento corporativo. Investidores, consumidores, comunidades locais, formadores de opinião e governos podem — e devem — se apropriar dos relatórios de sustentabilidade para cobrar condutas mais responsáveis e coerentes das companhias.

Essa articulação é necessária para que se promova as transformações necessárias nos modelos de negócios e nas políticas corporativas e, assim, se avence no sentido do real desenvolvimento sustentável.


1“Effect of Stakeholders’ Pressure on Transparency of Sustainability Reports within the GRI Framework”, publicado no Journal of Business Ethics


Gláucia Térreo ([email protected]) é diretora da GRI no Brasil


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