O que mudou no mercado com o afastamento da presidente?
, O que mudou no mercado com o afastamento da presidente?, Capital Aberto

Evandro Buccini*/ Ilustração: Julia Padula

O afastamento da presidente Dilma tirou um peso extraordinário da confiança dos consumidores e dos empresários. Mesmo que poucas medidas tenham sido anunciadas, a mudança de linguagem e de objetivo do governo, expressa na nomeação da equipe econômica, superou as expectativas. O Brasil tem muitos problemas com soluções complexas e demoradas — por isso, uma dose de cautela e uma xícara de chá de camomila são recomendadas. Entretanto, é possível tirar o País da recessão e levar os juros para patamares menos obscenos. Neste artigo vamos avaliar o que os dados econômicos, financeiros e de fluxo de recursos mostram e o que ainda pode melhorar.

É possível mensurar a mudança de perspectiva por muitos indicadores. A expectativa de crescimento para 2017 medida pela pesquisa Focus caía consistentemente desde junho de 2015; com a possibilidade de impeachment, subiu para 1,1%. Já a projeção de Selic para o final de 2016 passou de 15,25% para 13,5%. Os ativos, como normalmente ocorre, se anteciparam ao fato: enquanto a bolsa caía 13% nos 12 meses anteriores a janeiro passado, agora já sobe 13% na mesma janela — quase 35% no ano. Os juros futuros, em janeiro de 2016, apontavam taxa de juros média de 16,8% até 2021, tamanho era o pessimismo. Agora, para esse mesmo prazo, a taxa está em 12,1%. Reação semelhante pode ser encontrada nas taxas de juros reais de longo prazo, que caíram de 7,2% em janeiro para 5,7% hoje.

Passando para a economia real, os dados apresentam defasagens relevantes, mas os índices de confiança e de expectativa, calculados pela FGV, têm rápida coleta e divulgação. Eles estão longe do patamar pré-2014, mas permitem que se vislumbre a manutenção do otimismo. O índice de confiança do consumidor já sobe 20% desde o final de abril e a confiança da indústria aumentou 12% em três meses.

Mas ainda há muito para melhorar. Caso o mercado de juros e os economistas estejam certos, a queda da Selic vai permitir um alívio muito esperado para o mercado de capitais, que ainda não deu sinais de recuperação. O ano de 2016 teve o pior primeiro semestre em termos de captação das companhias brasileiras por instrumentos do mercado de capitais desde 2010. E esse resultado só não foi pior por causa das captações externas de algumas empresas que aproveitaram a melhora da percepção internacional do País pós-impeachment. Ainda vale ressaltar que não houve, até julho, nenhuma oferta pública de ações.

O fluxo para fundos de investimento melhorou ligeiramente. No primeiro semestre, a captação (sempre em termos líquidos) somou R$ 38,1 bilhões, cifra superior à registrada em iguais períodos dos dois últimos anos. Ainda assim, os volumes estão aquém dos apurados em 2012 e 2013. E os investidores continuam aplicando majoritariamente em fundos de menor risco, em especial os de renda fixa, que apresentam no ano captação de R$ 20,7 bilhões. Para se ter uma ideia, os fundos de ações acumulam resgates de R$ 6,1 bilhões e os multimercados têm entrada de R$ 2,8 bilhões. Esse movimento de aversão a risco se reflete no market share dos fundos de ações em comparação com 2012 — queda relevante de 8,9% para 4,7%.

Além disso, duas importantes classes de investidores ainda não se movimentaram. Os fundos de pensão, que administram cerca de R$ 700 bilhões, e os investidores estrangeiros, com US$ 400 bilhões no País, estão ainda tímidos e com foco em renda fixa. As taxas de juros baixas no mundo ainda vão incentivar procura por retornos elevados no exterior e o Brasil, com a perspectiva de estabilidade institucional, deve receber parte maior desses recursos do que no passado.

Obviamente há numerosos desafios — entre eles o problema fiscal e a contração do crédito bancário. Não esperamos rápida recuperação do resultado primário, apesar da mudança de governança e das melhores perspectivas para a dívida pública. Já o crédito deve continuar fraco, especialmente para as empresas que, em média, estão muito alavancadas.

O Brasil nunca foi um país livre de problemas graves. A produtividade nunca cresceu de forma sustentada, as contas públicas sempre foram alvo de críticas, a economia é muito fechada e a poupança é baixa. Por isso não há crescimento sustentável. Se a confiança continuar melhorando, no entanto, o Brasil pode voltar a crescer a taxas moderadas para uma economia emergente e caberá mais à sociedade do que ao governo discutir os problemas fundamentais para se permitir um crescimento mais rápido e sustentável.


*Evandro Buccini ([email protected]) é economista da Rio Bravo Investimentos. Colaborou Daniel Pettine ([email protected]), gerente de produtos da Rio Bravo Investimentos


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