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O Ibovespa vai encerrar 2020 acima dos 150 mil pontos?
Mudanças estruturais da economia brasileira sustentam cenário positivo para a bolsa, porém o período deve ser de ajustes da economia e de complicações no ambiente político
Pablo Spyer e Alvaro Bandeira discutem Ibovespa em 2020

*Pablo Spyer | Ilustração: Julia Padula

É de peito aberto que abraço essa aposta. Essa é minha opinião pessoal, não uma recomendação. A instabilidade das últimas semanas — decorrente das incertezas em torno da disputa comercial EUA-China, da reação a declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, e das intervenções do Banco Central (BC) no câmbio — confirmam o que já se sabe: a bolsa brasileira, assim como seus pares no mundo, reage a fatores econômicos e políticos pontuais sem, necessariamente, perder a tendência estrutural de médio e longo prazos.

Os ciclos das bolsas estão virtualmente associados ao desempenho e à qualidade das empresas e ao momento econômico. E não vejo qualquer espaço para retrocessos na agenda reformista que teve, na aprovação da nova previdência, o seu mais aguardado e representativo teste.

E com bons indicadores de atividade, queda brutal da Selic, perspectiva de aprovação do projeto de autonomia do BC e recomendações de compra de ações brasileiras por bancos internacionais forma-se um inequívoco cenário positivo para a bolsa. Quanto às empresas, não fosse o câmbio, os resultados positivos no terceiro trimestre seriam ainda melhores. Mas foram bons o suficiente para gerar expectativa mais favorável para 2020, que terá mudanças estruturais importantes, sobretudo no mercado de crédito.

Reforçam essa visão três fatores: a limitação do juro do cheque especial a 8% ao mês, a forte atuação das empresas varejistas e a expansão das fintechs de meios de pagamento. Em conjunto, eles vão consolidar a queda do juro para além da Selic. O País está em meio à construção de um cenário macroeconômico que restaura o consumo como motor do crescimento e condutor para novos investimentos.

Os efeitos da redução estrutural da taxa de juro, como nunca se viu, já aparecem nas estatísticas, que dão conta de uma migração também inédita de investidores para o mercado de capitais. E uma consequência para lá de saudável na mudança de foco do investidor local é o barateamento do custo do financiamento no Brasil — mais um propulsor de investimentos.

O reposicionamento dos locais, hoje uma realidade, deve alavancar o ciclo de crescimento que se avizinha. O Brasil já tem 1,5 milhão de pessoas físicas na bolsa, número que deve chegar a 2 milhões em 2020. Minha visão pode parecer excessivamente otimista, mas é fato que o mercado brasileiro nunca teve a atual configuração ou contou com tantas iniciativas de educação financeira.

Não faltam argumentos para se recomendar a compra de ações brasileiras e apostar que um Ibovespa em 150.000 pontos será realidade em poucos meses. Recomendações de grandes players — das quais compartilho — destacam que 2020 será um ano de avanço nas reformas sem obstáculos político-partidários ou embaraços legislativos.

Não podemos ignorar que a reforma tributária pode desmotivar grandes e pequenos investidores, mas tenho a convicção de que não faltarão sensibilidade e senso histórico de oportunidade ao governo para redefinir estruturas de arrecadação sem ferir regras estabelecidas e contratos.

Por fim, o mundo parece conspirar a nosso favor. O JP Morgan Chase abriu dezembro promovendo uma forte revisão de sua projeção para o PIB dos EUA no quarto trimestre — de 1,25% para 2%, um grande salto.


*Pablo Spyer (Instagram: @pablospyer; Twitter:@pablospyer) é diretor da Mirae Asset


Pablo Spyer e Alvaro Bandeira discutem Ibovespa em 2020

*Alvaro Bandeira | Ilustração: Julia Padula

Embora o cenário seja positivo, nas nossas simulações de tendência, que consideram os ambientes político e econômico, chegamos ao limite potencial do Ibovespa em 140.000 pontos em algum momento de 2020. Em relação aos números atuais (perto de 110.000 pontos), a alta aproximada é de 26% —valorização bastante importante.

Em 2020 haverá retomada do crescimento econômico, mas em bases ainda contidas, e por diferentes razões. A expectativa básica é de que a economia brasileira possa crescer perto de 2,2%, com inflação baixa e taxa Selic chegando à mínima de 4%, mais ou menos no final do primeiro trimestre. Os próximos 12 meses, entretanto, ainda serão um período de ajustes fortes para a economia e de muitas complicações no ambiente político — um cenário, portanto, desafiador.

De forma genérica, como as empresas abertas já se adaptaram para um quadro de baixo crescimento, reduzindo alavancagem e “limpando” seus balanços (com impairment, por exemplo), é possível intuir que haverá lucros maiores, aumento da produtividade e maior distribuição de resultados. Isso permite a estimativa de crescimento de lucros ao redor de 30%.

É crucial que o ambiente político permita a aceleração da tramitação de propostas de emendas à Constituição e de projetos de lei e de discussões sobre reformas, assim como a área econômica deve agilizar os ajustes necessários e as reformas micro — produzindo também marcos regulatórios palatáveis para investidores e governos. Importante lembrar que investimentos de retorno de longo prazo requerem segurança jurídica. E se essa situação não estiver suficientemente clara ao longo do primeiro semestre de 2020 não terá condições de avançar no segundo, já que o mundo político estará envolvido com as eleições municipais de outubro.

Ou são feitos os ajustes e encaminhamentos necessários ainda no início do ano ou quase tudo será adiado para 2021. Convém lembrar que muitas medidas que estão sendo propostas não são exatamente favoráveis à sociedade — e, isso, na visão de curto prazo dos parlamentares, acaba tirando votos. Mais dificuldades, portanto, para se aprovar mudanças.

A visão clássica de avaliação do mercado secundário de ações indica que dois fatores estão hoje completamente associados. De um lado, bons resultados de empresas reduzem preços relativos; de outro, existe forte fluxo de recursos disponíveis para ativos. Seria possível dizer que já houve grande transferência de investidores locais para ativos de risco em decorrência da fraca remuneração da renda fixa, que deve perdurar em 2020. Prevemos que essa migração ainda aconteça no início do ano. Mas vale ressaltar que houve saída recorde de recursos de investidores estrangeiros até novembro, próxima de 40 bilhões de reais.

Uma coisa é certa: estrangeiros só retornam se o Brasil tiver reformas bem endereçadas e rápidas. É necessário também que as incertezas globais sejam dissipadas, com um bom acordo EUA-China, redução de protecionismo e do risco geopolítico. A transferência de recursos para a renda variável continua, principalmente no primeiro semestre, mas a situação ainda exige muito cuidado, dadas as incertezas internas e externas. É por isso que não vamos além de 140.000 pontos para o Ibovespa em 2020.


*Alvaro Bandeira ([email protected]) é sócio e economista-chefe do modalmais


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