Via Varejo se remodela e ações sobem
Mudanças na Via Varejo resultam em redução de despesas e aumento de eficiência
Via Varejp, Via Varejo se remodela e ações sobem, Capital Aberto

Ilustração: Rodrigo Auada

A Via Varejo protagoniza uma situação inusitada: embora seu controlador já não queira mais o negócio e há quase dois anos pene para achar um comprador, a empresa está hoje na sua melhor forma. Na bolsa, as ações da varejista registram alta de 33,74% nos 12 meses encerrados no último dia 13 de agosto, catapultadas por iniciativas da administração que contribuíram para a redução dos custos e o aumento da eficiência da companhia.

Enquanto um novo sócio não se dispõe a ficar com a rede que opera as 222 lojas do Ponto Frio e as 754 unidades da Casas Bahia (além do promissor comércio eletrônico do grupo), ela vem sendo tocada como se não estivesse à venda, com foco na melhoria de processos operacionais. A tarefa de encontrar um comprador não tem sido fácil, é verdade, mas não só para a companhia: a situação é desafiadora para todos as empresas de varejo que trabalham com produtos de maior valor agregado, como os eletroeletrônicos. Nada mais previsível em um cenário de recessão intensa e prolongada.

A retomada do crescimento da economia, ainda capenga, e a baixa visibilidade em relação à política econômica que o próximo governo adotará — qualquer que seja ele — afastaram investidores estratégicos do segmento. E os próprios controladores da Via Varejo já sinalizaram que não desejam vendê-la para investidores financeiros, como os fundos de private equity; querem atrair sócios estratégicos, que mantenham a companhia no rumo sem desmembrá-la.

No comando da Via Varejo está o Grupo Pão de Açúcar (GPA), controlado pelo francês Casino. Em outubro de 2016, o GPA anunciou que pretendia se desfazer das ações da Via Varejo, uma vez que o foco do seu controlador é o varejo alimentício — e não o de eletroeletrônicos. O GPA detém 62,5% das ações ordinárias e 23% das preferenciais, perfazendo 43% do capital total da Via Varejo. Já a família Klein (antiga controladora da Casas Bahia) tem 16,4% das ordinárias e 25% do capital total.

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*Em R$ milhares. Os dados de 30/4/2018 eram os últimos disponíveis até o fechamento desta edição.        Infografia: Rodrigo Auada |  Fonte: Economatica

Razões para a alta

Na bolsa de valores, as ações da companhia oscilam ao sabor de rumores sobre um possível comprador. Em março deste ano, o grupo Casino anunciou uma parceria com a Amazon para a venda de alimentos em Paris. Foi o suficiente para que surgissem boatos de que a gigante americana estaria de olho na Via Varejo e as ações subissem. “Parte do movimento de alta está relacionada à expectativa de venda da empresa”, observa Luís Gustavo Pereira, estrategista da Guide Investimentos. Para a infelicidade dos que acreditaram que a busca por um comprador tinha acabado, a Via Varejo negou a existência de qualquer negociação entre Casino e Amazon nesse sentido.

A valorização dos papéis também é decorrente do impulso vindo das cotações de outras empresas que operam no varejo online no País. As ações do Magazine Luiza, com presença forte em e-commerce, e da B2W subiram por causa da expectativa de recuperação da atividade no País no início deste ano. Acontece que os trancos da economia brasileira deixam os papéis da Via Varejo (e de todo o setor) bastante voláteis. Assim, depois de ter batido a marca de 35 reais em março, o preço das ações da Via Varejo recuou para a casa dos 20 reais no início de agosto. Um dos motivos da queda foi a greve dos caminhoneiros, em maio — o episódio foi um balde de água fria para todas as empresas do setor, extremamente dependentes de transporte. Em relatório sobre o resultado obtido pela companhia entre abril e junho deste ano, a analista Maria Paula Cantusio, da BB Investimentos, ressaltou que “após três trimestres consecutivos apresentando um crescimento de duplo dígito, as vendas aumentaram 5,1% no segundo trimestre, impactadas pela greve”.

De acordo com Alana Imaizumi, analista do Citi, a valorização dos papéis ao longo dos últimos meses está igualmente relacionada à melhora de aspectos operacionais. Em 2016, a Via Varejo incorporou a Cnova, também pertencente ao GPA, responsável por operar o comércio eletrônico de Casas Bahia e Ponto Frio, além dos portais Extra.com.br e Cdiscount.com.br. Com isso, deu fim à separação entre lojas físicas e online, que exigia a manutenção de estruturas duplicadas, como equipe, logística, marketing e estoque para as mesmas marcas. A mudança contribuiu para a diminuição de despesas e o aumento na eficiência. “As sinergias foram capturadas ao longo de 2017”, afirma Imaizumi.

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*Em R$ milhares. Os dados de 30/4/2018 eram os últimos disponíveis até o fechamento desta edição.        Infografia: Rodrigo Auada |  Fonte: Economatica

Aposta no e-commerce

Para Pereira, da Guide, o trabalho de controle de custos é fundamental, uma vez que as margens são pequenas no segmento de varejo de eletroeletrônicos. O consenso de mercado apurado pela Bloomberg para a Via Varejo é de uma receita de 28,5 bilhões de reais neste ano e de um Ebitda de 1,9 bilhão de reais, o que resulta numa margem Ebitda de 6,6%, considerada baixa em relação a outros setores. Nesse segmento, reforça o estrategista, a obtenção de boas margens depende bastante da contenção de despesas.

Outro ponto considerado positivo pelos analistas é o avanço da Via Varejo no mundo virtual. Se antes o foco estava na recuperação das operações, agora a estratégia é caminhar na direção da estruturação de uma empresa digital. Na Via Varejo, 80% do faturamento vem das vendas de lojas físicas e 20% do site.

Para incrementar as vendas online, a empresa implementou o conceito multicanal (“omnichannel”), que integra as vendas feitas nas lojas físicas e no mundo virtual e constitui um importante apelo para a atração de clientes. Com essa integração, o consumidor pode fazer uma compra no site e retirar o produto na loja física — expediente que dá mais segurança àqueles ainda receosos com as compras pela internet. A empresa busca também conquistar clientes por meio de um aplicativo e pelo envio de ofertas por e-mail e celular.

Em relação ao fechamento de 2017, Imaizumi projeta um aumento de 7,5% no faturamento da Via Varejo neste ano (para 31 bilhões de reais) e um incremento de 100% no lucro líquido (para 400 milhões de reais). A duplicação do lucro, considera, torna-se factível diante da redução das despesas financeiras, que estão caindo por causa da trajetória de queda dos juros na economia. Esse cenário representa uma evolução e tanto: em 2016 a Via Varejo havia registrado prejuízo de 500 milhões de reais.

Fato importante para a companhia foi o anúncio, feito no fim de julho, de sua migração do Nível 2 de governança da B3 para o Novo Mercado. A notícia foi bem recebida pelos analistas, pois pode facilitar a venda da empresa. De acordo com Imaizumi, do Citi, embora a Via Varejo já atendesse a várias exigências do mais alto nível de governança da Bolsa — como a concessão de tag along de 100% e presença de independentes no conselho de administração —, o fato de negociar units (certificados que, em seu caso, englobam 1 ação ordinária e 2 preferencias) é confusa para os estrangeiros.

O consenso de mercado dos analistas, levantado pela Bloomberg, projeta o preço alvo de 30,45 reais para a ação da Via Varejo em dezembro de 2018, o que corresponde a uma valorização da ordem de 40% em relação ao preço de fechamento do último dia 8 de agosto, de 21,74 reais. O potencial de alta reflete o bom momento da companhia. Ponto para o GPA que agora tem um ativo muito mais valioso para vender em suas mãos.

 

Via Varejp, Via Varejo se remodela e ações sobem, Capital Aberto

*Em R$ milhares. Os dados de 30/4/2018 eram os últimos disponíveis até o fechamento desta edição.        Infografia: Rodrigo Auada |  Fonte: Economatica

 

 


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