Em quinta marcha
Estratégia de crescimento por aquisições faz disparar ações da Locamerica
Ilustração: Rodrigo Auada

Ilustração: Rodrigo Auada

A recém-concluída combinação de negócios com a Unidas parece ser o ápice da exitosa estratégia empreendida pela Companhia de Locação das Américas (Locamerica) para ganhar terreno no mercado nacional de locação de veículos, terceirização e administração de frotas. Foi em 2016, quando a companhia comprou a paranaense AutoRicci e a Panda (de Itu, no interior de São Paulo), que essa inclinação ao crescimento por aquisições passou a ser notada pelo mercado. As compras já sinalizavam a aposta da Locamerica — líder em terceirização de frotas para clientes corporativos — na diversificação de seus negócios, principalmente no segmento de aluguel de veículos por diárias (rent a car). O movimento aconteceu exatamente num período em que a Movida, importante nome da concorrência nesse segmento, desagradou os investidores com resultados ruins. De acordo com dados da Economatica, as ações ordinárias da Locamerica (companhia listada no Novo Mercado) tiveram a impressionante valorização de 407,28% nos 12 meses anteriores ao último dia 6 de março. No mesmo período, as ações da Movida caíram 5,65%.

A junção entre Locamerica e Unidas — aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em 23 de janeiro e ratificada pelos acionistas de ambas as companhias em 12 de março — cria a maior prestadora de serviços relacionados a veículos para empresas do País e a vice-líder no segmento rent a car. A conclusão da operação deixa a Locamerica com cerca de 100 mil veículos (antes eram 45 mil), 72 revendedoras de automóveis seminovos e pouco mais de duas centenas de pontos de atendimento para locação por diárias — o que estende para todo o território nacional a presença da Locamerica, antes restrita a 13 estados. “A Locamerica era forte nas frotas, assim como a Unidas no rent a car. A união amplia ainda mais a escala de atuação da Locamerica nos serviços para pessoas físicas”, observa Álvaro Frasson, analista de investimentos da Eleven Financial.

Poder de barganha

E escala, nesse mercado, é palavra-chave, destaca Frasson. Afinal, quanto maior a frota de uma prestadora de rent a car, maior poder de barganha ela tem na aquisição de veículos novos das montadoras; ficam também mais favoráveis as negociações de preços e as condições de pagamento, com consequente efeito positivo no caixa. Além disso, se a Locamerica consegue comprar os veículos por bons preços garante margem maior de lucro na revenda em suas próprias lojas. Uma curiosidade: a combinação de Locamerica e Unidas deu origem à segunda maior compradora de veículos do País.

O interesse dos investidores pelas ações da Locamerica tem muito a ver com as atitudes da companhia, que mudaram após alguns tropeços. Em 2014, por exemplo, a empresa perdeu muitos negócios, relembra o analista Felipe Silveira, da Coinvalores. O baque disparou um processo de reorganização. A Locamerica se conscientizou da necessidade de diversificação, processo que desencadeou uma atenção maior às lojas de seminovos — atividade que evoluiu e, no ano passado, já representou 50% da receita.

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Mais ou menos na mesma época chegou à companhia um sócio importante, que passou a contribuir com a estratégia de expansão. “A entrada do Pátria no capital levou à empresa uma ‘visão financista’. O novo acionista ajudou a aperfeiçoar procedimentos internos, com resultados positivos para a geração de caixa”, diz Frasson, da Eleven. Isso deu fôlego para a Locamerica avançar sobre seus pares. Mas não se trata apenas de expansão, ressalva Luis Fernando Porto, diretor presidente da empresa. “Pensamos também em rentabilidade. Sem margens ou retornos elevados fica difícil investir”, afirma.

Obstáculos e sinergias

A junção com a Unidas representa um salto no tamanho da frota do grupo, mas quantidade pode significar pouco nesse mercado se a taxa de utilização de cada veículo não estiver dentro de um percentual adequado — à semelhança das companhias aéreas, que precisam elevar as taxas de ocupação das aeronaves para garantir boa rentabilidade. De acordo com o balanço da Locamerica do terceiro trimestre de 2017 (último disponível até o fechamento desta edição), a taxa de utilização de sua frota era de 97% — acima da média de 90% do mercado. No caso da Unidas, o percentual estava em 85%. Os indicadores sugerem, portanto, que é mais difícil aumentar a utilização dos veículos no segmento rent a car, uma realidade que agora a Locamerica vai precisar contornar.

Há, ainda, o problema da sobreposição das operações de vendas de seminovos, observa Silveira, da Coinvalores. Essa atividade, no caso das duas empresas, tem peso relevante nos resultados e está incomodamente concentrada no Sudeste do País. Nos nove primeiros meses do ano passado, a revenda gerou receitas de 365,3 milhões de reais para a Locamerica, praticamente metade do faturamento total do período; na Unidas, a comercialização de seminovos correspondeu a 30% da receita de janeiro a setembro de 2017. “Não serão poucas as situações de pontos de vendas próximos”, avalia Silveira, destacando que a coincidência geográfica pode levar ao fechamento de unidades e a despesas extraordinárias.

Em compensação, há quem estime vultosos ganhos de sinergia advindos da fusão. Relatório do Bradesco BBI assinado pelo analista Victor Mizusaki calcula em aproximadamente 500 milhões de reais os benefícios — ele considera as condições mais favoráveis de aquisição de veículos e uma menor necessidade de endividamento relacionada a essas compras. Outro ponto positivo, este levantado pela própria Locamerica, é a possibilidade de expansão das operações internacionais. O fato relevante divulgado pelas empresas em dezembro por ocasião do anúncio da associação já destacava essa vantagem. “A [então] pretendida combinação de negócios possibilitará uma conexão internacional, considerando que a Unidas é a franqueada máster no Brasil do maior grupo de locação do mundo, o Enterprise. […] Adicionalmente, os clientes da Locamerica poderão ter acesso a uma rede de atendimento de aluguel de carros global”, informava o comunicado.

Diante dessas novidades, não é de se estranhar que as ações da Locamerica tenham subido tanto, mas para que esse movimento ganhe força os analistas enxergam a necessidade de ampliação da liquidez. O free-float da companhia — considerando as ações efetivamente negociadas no mercado — está em cerca de 14% do capital, percentual bem inferior ao da Localiza, de 75,63%. “Um aumento da liquidez poderia favorecer a valorização das ações”, comenta Frasson, da Eleven, que recomenda compra para as ações da Locamerica. A empresa, por sua vez, trabalha para equacionar a questão. “A liquidez diária já passou de 540 mil reais para os atuais 4 milhões de reais, como resultado de vendas de participações por alguns fundos e do próprio aumento do valor de mercado da companhia”, informa Porto.

Para ver esse valor multiplicado depois da associação com a Unidas, é possível que a Locamerica continue apostando em aquisições. E oportunidades não devem faltar, já que o setor de locação de veículos no Brasil ainda é muito pulverizado. Pelas contas do analista da Eleven, as três maiores em frotas (Localiza, com 19,6%; Locamerica, 14,2%; e Movida, 9,7%) respondem por pouco menos da metade do mercado brasileiro. A Associação Brasileira das Empresas Locadoras de Automóveis (Abla) estima que existam pelo menos 11 mil locadoras. Um prato apetitoso para participantes do setor que queiram estender seus domínios.

 


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