No início do ano, o Conselho Monetário Nacional (CMN) ajustou os prazos de vencimento das Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), fixando novas regras para a renda fixa. As mudanças impactaram o mercado e resultaram numa diminuição do interesse do investidor e uma queda nas emissões dos títulos, especialmente para as LCIs, que tiveram seu prazo mais alongado. Em meados de agosto, a autoridade governamental decidiu voltar atrás: igualou os prazos (para 9 meses) na intenção de corrigir a assimetria entre as letras. No entanto, segundo agentes do mercado, o efeito deve ser menor que o esperado (por quem) – e surgir mais a médio prazo.
“Essa diferença de prazo criou uma situação em que as LCIs se tornaram menos atrativas para os investidores, visto que a necessidade de manter o investimento por um período maior impactava a liquidez e, consequentemente, a preferência do mercado”, comenta Lucas Pereira, analista de renda fixa da AMW Asset by Warren.
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Luciano Diaferia, superintendente de produtos do Itaú Unibanco, também comenta que a ampliação do prazo mínimo impactou o ritmo da negociação do produto. “A produção, as emissões de LCA e LCA no mercado, deu uma recuada importante desde a mudança da norma. Porque, obviamente, para um pequeno investidor, principalmente, foi alterada a condição de liquidez.”
Em janeiro, o volume de registro de LCIs era de R$ 30,7 bilhões, mas em fevereiro, após a divulgação das mudanças do CMN, recuou para R$ 11,2 bilhões. Já as LCAs apresentavam R$ 44,7 bilhões, e foram para R$ 20,7 bilhões.
O efeito inicial das regras publicadas em fevereiro foi que, aqueles que precisavam de liquidez, migraram para produtos que tinham essa condição. Depois, o mercado se acomodou. “Todo mundo entende, e se encontra aquele pedaço da demanda, em termos do volume de investimentos, que o cliente está confortável com aquela carência mínima”, diz Diaferia.
Já em agosto, o CMN decidiu reduzir o prazo de resgate das LCI de 12 para nove meses, considerando que “os investidores possuem preferência por liquidez e que os prazos diferenciados trariam condições desfavoráveis para as instituições com atuação voltada para o mercado imobiliário”.
“Isso tem como objetivo tornar as LCIs, que perderam mais mercado, mais competitivas em relação às LCAs, corrigindo a distorção gerada anteriormente. Ainda que os efeitos totais dessa alteração não tenham sido plenamente sentidos no mercado, a expectativa é que a demanda por LCIs seja retomada para a razão que os dois papéis tinham anteriormente”, comenta Pereira, da Warren.
Apesar da mudança ser vista como positiva, os maiores impactos já haviam sido sentidos pelo mercado no início do ano. Para Diaferia, do Itaú, a alteração mais recente que equiparou LCI à LCA causou pequeno efeito no mercado. “O efeito não foi tão impactante porque o investidor já tinha a alternativa da LCA”, comenta.
A visão do banco é que o ajuste melhora o cenário das letras, mas o investidor pequeno não diferencia tanto se é LCI ou LCA, pois o atrativo do investimento é mais o risco de crédito do banco em que ele está investindo e por ser um título isento. “Para a vida do pequeno investidor, principalmente, ficou melhor. Mas isso não acarretou um aumento. Agora a LCI vai vender mais? Não necessariamente, porque já existia oferta da LCA nesse mesmo prazo.”
Para o investidor, sair de um horizonte de tempo de 90 dias para nove meses tem um impacto importante. Já a diferença que recua a LCI de 12 para nove meses, a mudança atual, não surte tanto efeito. “O investidor pensa: será que eu vou precisar de 9 meses? Será que preciso de um ano? A diferença fica pequena, via de regra é um investimento mais de longo prazo”, diz o executivo do Itaú. “Nós, que trabalhamos com os dois títulos, as duas linhas de negócio, como produção, como emissão para o cliente investidor, não sentimos muita diferença.”
Segundo o executivo, para o grupo de investidores cuja liquidez é importante, não é tão simples voltar para LCI e LCA, a menos que o mercado evolua por uma negociação muito ativa em mercado secundário, processo mais para longo prazo.
Mesmo após a igualação dos vencimentos dos títulos, que foi divulgada em 22 de agosto, o mercado parece ainda não ter reagido. O volume de registro de LCI em agosto foi de R$ 12 bilhões, passando para R$ 12,9 bilhões em setembro, uma diferença pequena. A expectativa é que, ainda que não voltem ao patamar anterior, as emissões melhorem um pouco ao longo dos próximos meses.
“Quanto às taxas praticadas, a convergência dos prazos de vencimento tende a ter um efeito indireto, pois ao aumentar a competitividade das LCIs, pode-se observar um ajuste nas condições oferecidas aos investidores”, diz Pereira, da AMW. No entanto, segundo o analista, é necessário tempo para que essas mudanças sejam refletidas de maneira clara no mercado. “Como as alterações são muito recentes, ainda não temos a sensibilidade dessas alterações.”
Cenário e perspectivas
O contexto macroeconômico é favorável ao produto. Selic mais alta traz mais atenção para produtos de renda fixa e, mais ainda para produtos isentos como as LCIs e LCAs, consequentemente, as perspectivas são positivas.
“São produtos que não têm uma colocação infinita, depende de ter os ativos, os empréstimos para o agronegócio, para o setor imobiliário, mas são segmentos importantes para a economia brasileira”, aponta Diaferia, do Itaú. “São produtos relevantes para nós, têm bastante valor para o banco e para os clientes. Para o investidor, é um produto interessante e é uma captação importante, porque nos ajuda a gerar funding e carteira, empréstimo para o agronegócio e para o setor imobiliário”.
O Itaú “sentiu um pouco o impacto de fevereiro”, disse o executivo, “mas vem conseguindo fazer o encaixe da oferta e vem aumentando a colocação desses produtos desde então.”
De forma geral, a equalização dos prazos de vencimento é vista como uma medida positiva e equilibra os dois produtos. “Espera-se que o volume de emissões de LCIs recupere um patamar mais próximo ao das LCAs”, acredita Pereira, da AMW.
Segundo o analista, vale notar que, apesar de ambas as modalidades terem sofrido uma redução de mais de 50% em comparação ao volume antes das mudanças estabelecidas no início do ano, “a mudança recente pelo CMN traz a expectativa de que as emissões possam se normalizar, mesmo que em volumes mais baixos, no médio prazo”.
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