Os investimentos em infraestrutura no Brasil, particularmente oriundos do setor privado, vêm ganhando corpo nos últimos anos com maior acesso ao mercado de capitais e uma regulação que favorece a atratividade dos investimentos via emissão de debêntures. De outro lado, há desafios importantes como garantir a modicidade tarifária, em setores essenciais como saneamento básico e energia, assim como buscar um modelo de desenvolvimento ambientalmente sustentável. Este foi o foco do painel “Explorando os rumos do saneamento e da energia: um debate crucial para o progresso” conduzido pela ex-diretora de Mercado de Capitais e Finanças Sustentáveis do BNDES Natália Dias, parte do 25º Congresso do IBGC. O maior acesso a recursos via mercado de capitais foi destaque no debate, porém com queixas em relação aos custos das operações, considerados altos.
Os investimentos em infraestrutura no Brasil chegaram a quase R$ 214 bilhões no ano passado, um crescimento próximo a 20% sobre o ano anterior, segundo dados da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib). O expressivo aumento, na visão de Natália Dias, que hoje é membro dos conselhos consultivos da Din4mo, Imagine Brasil e Estímulo, é importante mas ainda aquém da necessidade. “Representa apenas 2% do PIB, enquanto o ideal seria 4,3% e em alguns setores, como o de logística e saneamento. Temos avanços regulatórios, como o de saneamento, que atraem investidores, mas com desafios como modicidade tarifária importantes, além das mudanças climáticas”, comenta Natália.
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A ex-diretora do BNDES lembrou a importância da busca por funding para promover investimentos e a transição para um modelo socioambiental sustentável, mas ponderando que no mercado de capitais os prazos melhoraram, mas o custo é alto. “Quando falamos de financiar transição temos que mencionar o avanço do mercado de capitais. As debêntures cresceram muito, mas 70% do volume emitido é para financiar capital de giro, pouco para projeto. Financiar com equity também é difícil porque precisa atrair estrangeiros. Os mais ativos hoje são os fundos de Private Equity”, comenta.
A visão de Karla Bertocco, presidente do Conselho de Administração da Sabesp e conselheira independente na Orizon Valorização de Resíduos, sócia na Jive, sobre as operações com debêntures foi na mesma direção. “Boa parte do financiamento vem em grande medida de banco de fomento, agências de fora, da Caixa e do BNDES, mas as debêntures vêm cumprindo um importante papel”, comenta Karla. “No setor de saneamento, mais de 95% é empresa pública, o que está mudando agora. O acesso ao mercado de capitais é maior e já rivaliza com o BNDES em termos de prazo, mas o custo é alto. Todas as empresas estão muito alavancadas, o que faz o custo de capital aumentar muito.”
Em sua participação no painel do Congresso do IBGC, Karla lembrou que a privatização apenas não agrega, é necessário um bom modelo de governança, citando a Sabesp, que foi desestatizada recentemente e passou a contar com um acionista de referência. “A Sabesp pública não chegaria na universalização tão rapidamente, por isto o processo de venda. O modelo escolhido preserva a modicidade tarifária, que é importante. A escolha por se tornar uma Corporation, pelo menos até a universalização dos serviços, é a mais adequada”, explica a executiva. “A opção de encontrar um acionista de referência trouxe menos recurso para o tesouro do que vender a totalidade das ações em bolsa, mas hoje, dado o volume de investimento a ser feito, é o mais adequado.”
A Conselheira Independente da Vinci Partners, Profarma, Pontal Energy e Oceânica Engenharia Ana Marta Veloso lembrou, sem citar nomes, de processos que participou que deram e não deram certo dentro do modelo de Corporation, mas defendendo que é uma boa opção ao permitir “acesso ao mercado de equity e dívida”. “Um dos processos no início deu errado e um grupo estrangeiro abandonou concessão, assumida por novos sócios que promoveram mudanças e funcionou”, lembra. E acrescenta: “para dar certo, usando o mesmo conceito de dono, tem que ter cultura organizacional, política de remuneração adequada para todos trabalharem juntos, ter horizonte de planejamento”.
Na visão da executiva, Conselho é como seleção brasileira. “Não adianta ter grandes jogadores, grandes nomes, se todos não trabalharem juntos, não houver diversidade nas escolhas. O segredo não é privatização pura e simples, mas como se deixa de ser estatal se organiza de forma perene para ser sustentável no futuro.”
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