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Pandemia do novo coronavírus é ponto da virada para healthtechs
Crise sanitária pode ser primeiro passo para destravar potencial do uso da tecnologia na saúde
Pandemia do novo coronavírus é ponto da virada para healthtechs

Imagem: studiogstock | Freepik

O novo coronavírus já infectou dezenas de milhões de pessoas ao redor do mundo e se tornou a maior crise sanitária dos últimos 100 anos. Não sem surpresa, a circunstância impôs a necessidade de reinvenção dos serviços médicos, tanto para contenção dos danos da covid-19 quanto para o atendimento das outras milhares de doenças em meio a um isolamento social sem precedentes. Foi a deixa para a consolidação do crescimento das healthtechs, designação dada principalmente às startups do segmento de saúde, negócios disruptivos por natureza. A situação inédita da pandemia permitiu a validação, por profissionais de saúde e pacientes, dos serviços dessas empresas, que ainda têm pela frente um enorme potencial de crescimento.

Um ótimo exemplo dessa dinâmica está na popularização da telemedicina — popularização, porque a ferramenta já existe há muito tempo. Sua criação remonta à necessidade do acompanhamento da saúde dos astronautas que a Nasa, a agência espacial americana, começava a enviar para o espaço. Assim, consultas com um médico de um lado (da linha ou da tela, de um celular, computador ou tablet) e paciente de outro já são realidade desde os anos 1960. Na década de 1970, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu a prática como a oferta de serviços de cuidados com a saúde nos casos em que a distância ou o tempo são um fator crítico. A OMS não especificou, no entanto, quais condições fariam do distanciamento uma justificativa para o exercício remoto da medicina. Além da falta de diretrizes claras, existia uma desconfiança das partes envolvidas em relação à eficácia do atendimento remoto. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFM) alegava que a prática configuraria desrespeito ao artigo 37 do Código de Ética Médica, que veda a prescrição de “tratamento e outros procedimentos sem exame direto do paciente”. A resistência, porém, caiu por terra com a pandemia. Diante do perigo do contágio, o CFM autorizou, em março, o uso da telemedicina em caráter temporário. Agora, a entidade estuda regulamentar a atividade em definitivo.

Novo paradigma

“Não há mais como voltar atrás”, afirma Caio Soares, diretor médico da Teladoc Brasil, braço da empresa americana que é líder mundial no atendimento virtual em saúde. “A desconfiança de médicos e pacientes vai diminuindo conforme eles têm acesso ao modelo e se tornam usuários recorrentes. Não é uma substituição

da medicina tradicional, é uma ferramenta a mais”, destaca. Participante de encontro (virtual) na Conexão Capital, Soares conta que, desde março, a quantidade de atendimentos da Teladoc no Brasil vem dobrando a cada 40 dias, sob impulso da pandemia. A visibilidade do atendimento remoto também teve reflexo sobre o resultado mundial da empresa. A Teladoc Health reportou crescimento de 85% no lucro do segundo trimestre de 2020 em relação a igual período do ano passado, e já projeta para 2021 uma alta entre 30% e 40% ante este ano.

Vale destacar que a atuação das healthtechs vai muito além das teleconsultas: pesquisa da plataforma Distrito mapeou 542 iniciativas. A Hi Technologies, startup do Paraná especializada em exames laboratoriais remotos, teve de aumentar sua capacidade diária em 150 vezes para dar conta da demanda para testes para o novo coronavírus. A empresa faz exames de sangue com uma pequena amostra de tecido do dedo. O material é lido por um dispositivo e analisado remotamente; o resultado sai em até 15 minutos. “Depois de terem uma experiência inicial por causa da pandemia, os usuários passam a querer também fazer exames remotos de colesterol, gravidez, HIV. Estamos crescendo muito mais por causa do coronavírus”, afirma Marcus Figueredo, CEO e fundador da empresa.

Outro impulso para a Hi Technologies em meio à pandemia foi a permissão, em abril, para a realização de testes rápidos para diagnóstico de covid-19 em farmácias, prática que até então era proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “A alegação era de que não seria seguro fazer a coleta fora de um laboratório tradicional. A preocupação com a segurança do paciente é importante, mas não deve ser usada como justificativa para levantar barreiras contra a inovação”, defende Figueredo.

Para além dos entraves burocráticos, havia a falta de adequação de outros players para lidar com a inovação oferecida pelas healthtechs. A situação, contudo, parece ter tomado outra forma na pandemia. “A covid-19 representa uma grande mudança de estrutura para esses negócios, em que pacientes, profissionais da saúde e participantes da indústria passam a lidar mais com tecnologia”, opina Rodrigo Baer, sócio da gestora de venture capital Redpoint eventures e investidor do setor desde 2007. Baer ilustra a mudança com o caso de uma de suas empresas investidas, a Memed, startup especializada em prescrição eletrônica. “A Memed lutou durante oito anos para que a prescrição digital fosse aceita como válida pelas farmácias. Em uma semana de pandemia, as principais redes do Brasil estavam aceitando essa inovação”, relata.

Próximos passos para as healthtechs

Parece não haver dúvidas de que a atual circunstância é apenas um primeiro passo na direção de uma revolução digital nos serviços em saúde. A telemedicina, por exemplo, hoje só é aplicada na atenção primária, para esclarecimento de dúvidas, solicitação de exames e recebimento de prescrição eletrônica. Mas a ideia das healthtechs é expandir a atuação para outros processos — e até integrá-los a dispositivos cotidianos, o que há apenas alguns anos pareceria roteiro de ficção científica. Em um futuro próximo, dispositivos como relógios e pulseiras inteligentes vão captar constantemente informações sobre sinais vitais, que podem depois ser incorporadas ao prontuário médico do paciente.

Nesse ponto as healthtechs têm uma intersecção com outros setores da economia, representada pela preocupação crescente com o destino e o tratamento dessa montanha de dados. Assim como na medicina tradicional, pressupõe-se que as informações de saúde de um paciente devem estar seguras, sem risco de usos indevidos, como o compartilhamento ou a venda dos dados. “A demanda por serviços digitais em saúde é imensa, mas deve ser acompanhada de total segurança. O custo de infraestrutura é alto e a regulação também deve estar atenta para garantir a salvaguarda dessas informações”, avalia Soares, da Teladoc. No Brasil, o sistema que deve garantir essa proteção é a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que deve entrar em vigor assim que for sancionada pelo presidente da República.

Mais um ponto de atenção está no acesso a essas novas tecnologias. Para as empresas que querem trabalhar com a maior parcela da população no Brasil, o caminho é firmar parcerias com o Sistema Único de Saúde (SUS). Como investidor, entretanto, Baer não recomenda que as startups vendam soluções para o setor público porque ele carrega mais riscos e entraves do que a indústria privada. “As startups têm um potencial enorme de agregar ao SUS, mas o risco para os fundadores é muito alto”, argumenta. Figueredo, da Hi Technologies, tem visão mais otimista: recomenda a escolha de bons parceiros para os empreendedores que estão começando no mercado. “O SUS é um sistema gigantesco que abarca realidades muito diferentes. Existem unidades de ponta que são bons players para se começar as negociações. Uma vez que a empresa já está estabelecida, ela pode arriscar negociações mais difíceis”, avalia.


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