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ESG passa do nicho para o mainstream em 2020
Preocupações socioambientais já fazem parte da agenda do private equity tradicional mundo afora
Colunista Luciana Antonini Ribeiro

*Luciana Antonini Ribeiro | Ilustração: Julia Padula

Sem medo de errar, é possível afirmar: há apenas cinco anos, preocupações ambientais e sociais eram praticamente irrelevantes no ambiente de private equity tradicional. Nas conversas sobre alocação de capital talvez esse tema até atrapalhasse, por gerar dúvidas quanto ao objetivo do fundo captado — obter resultados financeiros ou transferir o foco dos shareholders para os stakeholders?

Há mais ou menos dois anos a situação começou a mudar. No mainstream dos investimentos, os aspectos ESG (ou ASG no Brasil) soavam como algo “nice to have” — bom ter, mas não necessário. Desde então a mudança foi radical. As preocupações com ESG viraram tema obrigatório nas conversas sobre alocação de recursos, sejam de investidores institucionais nacionais ou estrangeiros ou de famílias. Nem todos têm a mesma abordagem, é verdade. Alguns entendem o tema sob uma perspectiva de risco; outros discutem se o fundo atenderia os ODSs (objetivos de desenvolvimento sustentável preconizados pela ONU), por exemplo.  De uma forma ou de outra, a breve cronologia é um bom termômetro da transição para um capitalismo mais ético, seja pelo amor ou pela dor.

2020 será o ano em que o ESG passará do nicho para o mainstream, desenhando a forma de se fazer negócios do futuro. E vem dos riscos climáticos a maior pressão para que se adotem essas práticas. Tragédias ambientais recentes — os gigantescos incêndios na Austrália, o desmatamento em níveis sem precedentes na Amazônia, o desastre de Brumadinho, as extensas manchas de óleo no litoral brasileiro — empurram para a lata do lixo as dúvidas sobre a pertinência de decisões mais éticas e sustentáveis. Finalmente evoluímos das interrogações para as afirmações. Ser consciente e responsável nas escolhas ambientais (notoriamente urgentes por colocarem em risco nossa própria existência) e também nas sociais e de governança é hoje premissa de negócios e investimentos. No novo cenário, dependem disso a sobrevivência e o retorno de empresas e ativos em longo prazo.

Investidores e conselhos de administração se dão conta, e a cada dia mais rápido, de que pode custar mais ignorar essas questões do que tentar lidar com elas. O melhor exemplo vem da carta deste ano do CEO da BlackRock, Larry Fink, cujo foco é a avaliação de como os riscos climáticos estão moldando o novo cenário dos investimentos. Ele diz que, mais cedo do que se imagina, haverá uma realocação significativa de capital. A sustentabilidade passa a ser o coração da estratégia de investimento da maior gestora de ativos do mundo.

E quais são os possíveis riscos do universo ESG? Para citar alguns: o surgimento de legislações e políticas específicas que podem mudar as regras atuais e cobrar soluções urgentes sobre externalidades; a possibilidade de ativos se tornarem obsoletos do dia para a noite ou se desvalorizarem em função de tragédias ou do que hoje é considerado ético, mas que não o será amanhã; as pressões junto aos conselhos para a supervisão mais rigorosa das políticas contra o assédio sexual, prática considerada grave ameaça aos investimentos; a questão da diversidade. Representa bem essas novas forças uma declaração recente do CEO do Goldman Sachs, David Solomon. Segundo ele, o banco não vai mais participar de operações de abertura de capital de empresas nos Estados Unidos e na Europa que não tenham pelo menos uma mulher ou representante de grupo minoritário num cargo de direção.

Entre os fundos de pensão ao redor do mundo, esse futuro de investimentos responsáveis já é realidade em alguns países. Na Holanda, país considerado referência em ESG, 90% dos ativos administrados já incorporam boas práticas ambientais, sociais e de governança. Nos Estados Unidos, em 2019 os maiores fundos de ESG superaram, em termos de retorno, o índice Standard & Poor’s 500. Em uma ação emblemática, o governo da Califórnia, estado que representa o maior mercado de fundos de pensão do país, selecionou três administradoras que adotam critérios ESG para gerir 750 milhões de dólares do fundo estadual de aposentadoria dos professores. Governos estaduais e municipais de Oregon, Nova Jersey, Chicago e Boston também buscam estratégias de investimento focadas no capitalismo ético e atento às urgências globais.

A adoção verdadeira do ESG pelas empresas e investidores atende a necessidade de transparência para o desenvolvimento de um ciclo virtuoso do capitalismo. Imaginar o futuro que se deseja construir — mais diverso, livre de corrupção e respeitoso em relação à terra onde se pisa — é a sutileza dos novos portfólios de investimento. E eles têm força suficiente para provocar transformações positivas.


*Luciana Antonini Ribeiro ([email protected]) é sócia-fundadora da EB Capital


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