No acumulado do ano, o Ibovespa anda de lado, com uma alta de 1,22%, a 134 mil pontos. O desempenho discreto foi “conquistado” após o mini rali de julho e agosto, quando o principal indicador da Bolsa brasileira avançou, respectivamente, 2,35% e 6,76%. Expectativa de alterações nos juros, por indicadores econômico-financeiros das companhias ou ruídos políticos compõem a cesta de motivos que ora potencializa a alta das ações, ora joga os ativos para baixo. Independentemente do dia a dia da bolsa – ou do sobe e desce típico do mercado – na visão dos gestores de ações, ela segue com potencial de valorização.
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A Capital Aberto ouviu gestores da Fator Asset, do Itaú BBA e da EQI Asset sobre o potencial para os ativos negociados na Bolsa em que pesa os ruídos de curto prazo que afetam o desempenho. A visão comum das casas é que a alta recente não foi suficiente para tornar a Bolsa cara, que há boas opções para a seleção de ativos e que a perspectiva de melhora no principal índice do mercado permanece. A proximidade da Super Quarta (18), quando os BCs do Brasil e dos Estados Unidos devem alterar suas taxas de juros, foi citada nas entrevistas como fator importante, mas que não altera de forma substancial a visão de que os ativos na Bolsa estão a preços atrativos.
“Um dos fatores que a gente olha, que tem um lado feliz e outro nem tanto, é que o mercado de capitais no Brasil ainda é muito pequeno, mas está inserido em uma das 10 maiores economias do mundo. Nosso trabalho de alocação de capital é sob a ótica fundamentalista, filtrando o que é ruido”, explica Victor Uébe, gestor de Renda Variável da EQI Asset. “Tem ruídos domésticos, que diminuíram, tem externos que permanecem, como eleição americana, e olhando apenas para três meses fica difícil prever o que ocorrerá. Por isto, nossa alocação busca empresas que aguentam desaforos de curto prazo, mudança tributária, monetária, e tem perspectiva de alta.”
Uébe citou dados que explicam o potencial da Bolsa brasileira de médio prazo. Nos últimos 15 anos, por exemplo, a renda média per capita no Brasil foi de US$ 8 mil, no México de US$ 13 mil, no Chile de US$ 17 mil e nos Estados Unidos de US$ 82 mil. Os juros médios dos últimos 15 anos, no Brasil, foi de 10%, no México de 6% Chile de 3% e EUA de 1%. “Tem um ambiente hostil para as empresas, mas as que estão na bolsa, sobreviveram ao longo do tempo e são eficientes. Não é à toa que muitas delas foram ampliar os seus negócios comprando empresas lá fora”, comenta Uébe explicando a qualidade de boa parte das companhias de capital aberto. “Entre os ciclos de 5 a 7 anos, tem várias janelas importantes para alocar. Dentro desses ciclos, a gente está vendo alguns ativos no Brasil que negociam abaixo de sua média histórica. É uma bolsa com muitas oportunidades.”
Na visão do gestor, um dos principais indicadores, dentro de uma análise fundamentalista, é o potencial de geração de caixa dela trazido a valor presente (Free Cash Flow Yield), citando a Suzano, cujo indicador está em 15%. Outro exemplo foi a Hapvida com mais 10% de FCF Yield, e a Eletrobras com 12%.
Sobre o potencial impacto da alta dos juros domésticos e do possível corte nos Estados Unidos, afirma: “A gente não investe em ações do Brasil em função de juros para cima ou para baixo. Porque, na média, a Selic foi de 10% nos últimos 15 anos. Se eu dependesse disso, acho que eu não estava aqui falando com você”. Na visão de Uébe, se a projeção de lucros feita pela EQI, com avanço de 15%, se concretizar, a bolsa pode chegar a 155 mil pontos na virada do ano.
No Itaú BBA, a visão é também otimista para a renda variável, porém um pouco mais tática do que estrutural. “O diferencial de juro americano, que deve cair, e o nosso com tendência de alta sempre afeta um pouco no curto prazo. Acabei de voltar de uma viagem aos Estados Unidos em que visitei 25 investidores institucionais e a visão deles é otimista, eles veem fluxo de recursos para o Brasil com Fed cortando a taxa”, comenta Daniel Gewehr, estrategista-chefe de ações (LatAm) do Itaú BBA. Na visão de Gewehr, os recursos estrangeiros no cenário atual são ainda mais importantes para o desempenho da renda variável, citando que o target para o Ibovespa é de 145 mil pontos, em dezembro, e de 165 mil para 2025.
Ao longo deste ano, a B3 viu uma enxurrada de recursos estrangeiros saírem do Brasil, por um movimento de aversão a risco, em busca do mercado americano. Nos últimos meses isto se inverteu. No quarto trimestre do ano passado, entrou cerca de R$ 45 bilhões na Bolsa, período de boa performance, de 100 mil para 130 mil pontos. Este ano, lembra o executivo do BBA, de primeiro de janeiro até o meio de junho, saíram R$ 44 bilhões na Bolsa e o desempenho em dólar foi bem ruim; e mais recentemente ingressaram R$ 20 bi e o resultado foi a recuperação. “Com juro doméstico levando o investidor local para a renda fixa, os recursos de fora são ainda mais importantes.”
Na cesta de motivos que explicam o tom positivo do BBA está a correlação entre juros de longo prazo, em queda, e desempenho positivo da renda variável. “A correlação entre a curva longa de juros é maior do que a curta. A Bolsa está abaixo de sua média histórica em vários indicadores”, comenta Gewehr. Estudo do Itaú BBA mostra que o Preço/Lucro médio está em 8 vezes, abaixo da média de 10,5 vezes; no critério Preço/Valor Patrimonial, a média é 1,5 e a bolsa está em 1,2. Na métrica EV/Ebitda, o Ibovespa está em 4,8, abaixo da média de 6.
A visão do Itaú BBA é de um cenário, para o ano, levemente positivo, e um dos motivos, explica o executivo, é a revisão de lucros para baixo. “O segundo trimestre foi bom, com mais de 90% das empresas crescendo receita, mais de 75% o Ebitda, mais de 70% com lucro maior. Mas quando você olha a tendência é de revisão de lucro de 10 setores, em oito é para baixo”, explica acrescentando que o call hoje é mais para empresas com bom carrego ou setores cíclicos de qualidade, como os bancos e construtoras do Minha Casa Minha Vida, de baixa renda.”
A preocupação com a alta do juro doméstico, embora afete o apetite do investidor local por ações, deveria ser ponderada, na visão de Gewehr. “Todos olham para a alta que está por vir, mas temos que lembrar que nos últimos 12 meses, mais ou menos, a gente já teve uma redução de política monetária de 325 bps, de 14,75% para 10,5%. Às vezes as pessoas esquecem, mas isso já está ajudando a margem líquida das empresas ao longo do ciclo também.”
Uma visão mais de médio e longo prazo, positiva, também é defendida por Isabel Lemos, gestora de Renda Variável da Fator Asset. “O que importa é a curva de juro de longo prazo, é isto que faz o preço, de modo geral, para os fluxos das empresas”, comenta Isabel, acrescentando que o mercado americano e o fluxo de recursos para o Brasil tem impactado mais do que a revisão do juro local.
“Primeiro, com os juros americanos caindo, a gente sempre tem um carry trade e se isto se concretizar, teremos fluxo de estrangeiro vindo para cá. Vai ter mais liquidez. E tem o atrativo da Bolsa brasileira que, a meu ver, está muito barata frente ao histórico”, explica a gestora, citando que tem empresas com múltiplos atrativos. O bom desempenho das empresas no segundo trimestre, com balanços em linha com as expectativas ou surpreendendo positivamente, também são citados pela gestora.
“O rali de julho e agosto, eu nem chamo de rali porque foi concentrado em algumas empresas. O que teve, na minha opinião, em alguns ativos, foram zeragens de posições short. Vamos lembrar que, quando uma empresa cai 50%, precisa subir 100% para ficar no mesmo patamar. Se você tiver essa melhora na curva de juro longa e se você tiver um grau de confiança melhor, vem investimento no Brasil.” Sobre a Super Quarta aguardada, Isabel considera que será um momento importante para tirar um pouco das incertezas, desde que “não venha completamente diferente do que o mercado está esperando”.
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