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Aperto monetário impulsiona criatividade de gestores e FIDCs avançam
Universo de investimentos envolve desde carteiras de setores tradicionais, como telecom e agro, às que reúnem crédito estudantil e compra de placas solares
Danilo Lee, portfólio manager da Kinea Investimentos
Danilo Lee, portfólio manager da Kinea Investimentos

O ambiente de crédito bancário caro e, portanto, mais restrito, devido ao elevado patamar da Selic em anos recentes, impulsionou a criatividade dos estruturadores dos Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDC). Tanto é que o patrimônio líquido desses fundos, somados, triplicou desde dezembro de 2021. Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) indicam que o PL desse universo somava R$ 180 bilhões em dezembro daquele ano e, até agosto de 2024, alcança R$ 540 bilhões.

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As apostas nesse tipo de fundo cresceram tanto em setores tradicionais da economia, a exemplo das telecomunicações e agronegócios, como em universos fragmentados distintos. Há fundos investindo em recebíveis de empresas de software e telecomunicações de olho no crescimento do mundo digital. Agro, mesmo com impactos do clima sobre produções (o que leva a ajustes de expectativa por parte de quem investe), não deve sair do radar, já que o Brasil é um dos maiores produtores de grãos do mundo.

Gestores citam, ainda, o potencial em nichos bastante diversificados, os quais reúnem carteiras de clientes de varejistas, de planos de saúde, para crédito estudantil, de compra de imóveis e até de companhias prestadoras de serviços que instalam placas solares.

A Ouro Preto Investimentos, por exemplo, espera lançar seu primeiro FIDC destinado a quem quer comprar o imóvel no início de 2025, conta João Baptista Peixoto Neto, CEO da gestora. Ele vê tendência de alta em diversos segmentos, já que crédito é um mercado que “não morre”. Um deles é o de crédito estudantil, outro é o de oferta de crédito para condomínios.


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O fundo destinado a crédito estudantil da Ouro Preto atende mais de 20 instituições de ensino, ofertando crédito para os alunos, já o de condomínios opera com a fintech HR Digital, focada nesse universo. Mesmo o universo de crédito consignado público, tradicional participante do universo dos FIDCs, assistiu a uma alta de volume nos últimos dois anos, afirma Caroline Hees, diretora de crescimento da BYX. 

“Tem de tudo. Vai até onde a imaginação puder chegar”, resume Danilo Lee, portfólio manager da Kinea Investimentos, gestora independente parte do grupo Itaú. Com a agora nova rota de aperto da taxa básica de juros pelo Banco Central, o ambiente de crédito restrito deve impulsionar ainda mais os fundos que operam como “pequenos bancos”, como definiu um gestor. Entre as carteiras variadas na mira da gestora, Lee cita um olhar atento aos recebíveis de cartão de crédito.   

Um aliado do cenário macroeconômico e que resultou em migração (e diversificação) de FIDCs é o conjunto de mudanças regulatórias, sobretudo no mercado de capitais. A CVM 175, por exemplo, destinada a todos os tipos de fundos de investimento, popularizou o instrumento. “A regra permitiu uma distribuição menos restrita aos investidores pessoas físicas. Então, uma vez que ainda está em desenvolvimento a distribuição desse produto, acertando o público-alvo, a demanda deve crescer ainda mais”, continua Lee.

Via de regra, os FIDCs fazem operações em quase todos os segmentos de crédito, contam os gestores. Além dos segmentos já citados, abraçam financiamento de veículos, consignado privado, antecipação de duplicatas, capital de giro, crédito direto ao consumidor, antecipação de créditos oriundos de ações judiciais (como precatórios), crédito pessoal, operações imobiliárias.

Marco Tulio Lima, head comercial de fundos da Vórtx, destaca os fertilizantes, em agronegócios, insumo base da produção agrícola brasileira. “Temos também um aumento expressivo em FIDCs de precatórios, legal claims e reestruturação de dívidas”, continua o head da companhia, que lançou Sociedade de Crédito Direto (SCD) recentemente. A SCD viabiliza a bancarização via emissão de Cédula de Crédito Bancário (CCBs).

Mesmo os fundos que investem em agro, e enfrentam problemas de retorno atualmente por causa do volume de recuperações judiciais e inadimplência de produtores, não deixaram de ser atraentes, opinam os gestores. Trata-se de um momento de ajuste, em que gestoras e investidores poderão entender com mais profundidade tanto os ciclos produtivos – totalmente distintos de outros setores da economia – como os impactos do clima para a produção agrícola.

Vale lembrar que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) divulgou na semana passada um pacote de regras específico para Fiagros, o qual possibilita diversificação de ativos nas carteiras e pode ajudar a mitigar riscos.  

Risco retorno

Com a diversificação, os riscos dos FIDCs também passam a oscilar conforme o tipo de carteira – crédito consignado para aposentados tem lastro do governo federal e o risco é menor do que a de plano de saúde ou varejo, por exemplo. Desse modo, há um leque com ganhos que podem variar entre CDI + 1,5% por cota sênior (em carteira de consignado INSS, por exemplo) até outros que reúnam operações mais arriscadas com retorno de CDI + 10%.

Lee, da Kinea, destaca a vantagem estrutural, já que o fundo permite criar alguns mecanismos que mitiguem riscos. Os gestores procuram diluí-los ao criar métricas de adimplência, de qualidade de crédito, de mecanismos de subordinação. O risco nunca será zero, mas é possível reduzi-lo com mecanismos que permitem essa flexibilidade.

Consignado

Só o universo de crédito consignado movimenta 10% do mercado de crédito no país, ou seja, cerca de R$ 600 bilhões. Segundo Caroline, da BYX (que estrutura e monitora FIDCs), cerca de metade dessa soma envolve aposentados e pensionistas e o restante relaciona funcionários na ativa. “O histórico desse tipo de crédito é extremamente sadio”, lembra ela, já que o pagamento de um aposentado pelo INSS é lastreado pelo governo federal. Quando o governo repassa a pensão do indivíduo, segura a parcela que foi cedida como crédito.

Mas o consignado é um mundo extremamente fragmentado, onde o trabalhador do universo privado movimenta uma soma menor – cerca de R$ 50 bilhões. Caroline lembra que o mercado aguarda pelo resultado de uma discussão, ainda em esfera governamental federal, o qual poderia ampliar a cessão de crédito para o trabalhador com registro CLT. A ideia em debate é criar uma espécie de estrutura de informação que viabilizasse, às companhias empregadoras, conhecer a lista de seus funcionários que pegou empréstimo – via registro em e-social.   


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