O presidente do Banco Central do Brasil (BCB), Roberto Campos Neto, reforçou nesta terça-feira (24) em um evento do Banco J.Safra, na capital paulista, que a “inflação preocupa no Brasil” e, entre outras análises, disse que há uma ansiedade geral sobre o tipo de política monetária que será adotada pelos Estados Unidos a partir de agora – e qual será o seu efeito para o mundo.
“A gente tem um quadro [no Brasil], como foi mencionado na ata [do Copom], onde temos crescimento econômico acima do esperado e mão de obra apertada. Ainda não há uma certeza absoluta em relação à influência disso na inflação, mas tem indício de que é um fator que começa a ser mais restritivo”, disse.
Há também uma preocupação do BC com o efeito da seca sobre os preços dos alimentos. “Os lugares mais afetados são os mais intensos em produção de alimentos e isso tem um efeito na ponta que mostra certa preocupação com preços de alimentos quando olhamos pra longo prazo”.
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A autoridade monetária divulgou nesta manhã a ata da última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada, quando os juros básicos subiram 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano.
Campos Neto avaliou que o crescimento estrutural do país melhorou “um pouco” ao longo dos últimos anos, com a ajuda de reformas. Ele citou o teto de gastos, a reforma da previdência e o arcabouço fiscal. “Poucos países fizeram reformas estruturais na pandemia, como o Brasil”, acrescentou. “Hoje tem um trabalho grande para tentar dissecar o que é o impacto do impulso fiscal e o que é o crescimento estrutural da economia. E é difícil fazer isso porque está tudo muito interligado”.
Sobre pergunta relacionada à projeção da taxa básica – analistas já consideram possibilidade de Selic a 13% até dezembro deste ano, conforme citado no evento –, ele reafirmou que o BC não olha para “uma coisa só”. “Olhamos nossos modelos, as expectativas de economistas nas curvas futuras, a inflação. Teve um aumento no prêmio de risco que se refletiu ao longo da curva, que parece estar associado a uma transparência dos números fiscais”, disse.
Situação fiscal
Campos Neto rememorou que os movimentos de quedas de juros aconteceram no Brasil associados com a situação fiscal no longo prazo. “Em todos os momentos que o país foi capaz de produzir choque positivo no fiscal foi exatamente quando fomos capazes de trabalhar com juros mais baixos por mais tempo”, disse. “Mas os movimentos de quedas de juros estão associados com o fiscal no longo prazo. Para o curto prazo isso não é verdade. No momento, há maior apreensão ao fiscal, nem só em relação à trajetória da dívida, mas, mais recentemente, também em relação à transparência dos números”, reforçou. Ele disse também que há exagero do mercado em relação ao prêmio de risco do mercado em relação ao fiscal.
Campos Neto aconselhou, ainda, que os agentes de mercado tomem decisões “com independência” e “pensem no Brasil a longo prazo”, sem deixarem afetar-se por “ruídos de curto prazo” – e citou a trajetória da Selic em seguida.
“O mercado tem o desejo de ter um guidance, mas nem sempre é possível fazer isso”, disse. “Às vezes não sabemos o que faremos na próxima reunião porque dependemos de dados. Estamos num período no qual decidimos não dar guidance pelo desconforto com relação à curva longa”.
A ata do Conselho de Política Monetária (Copom), divulgada hoje pelo BCB, explicita que a autoridade monetária vê “conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho” com “dinamismo maior do que o esperado”, fator que levou a uma “reavaliação do hiato para o campo positivo”. Ele reiterou que as duas últimas decisões do Copom foram “bastante coesas” e que os integrantes decidiram com unanimidade a importância sobre comunicar de forma eficiente o que estava sendo feito.
Segundo o documento, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cheio, assim como medidas de inflação subjacente, se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes. As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus são de 4,4% e 4,0%, respectivamente.
EUA e China
Campos Neto abordou ainda o desempenho das principais economias globais. Entre elas a americana, que recentemente cortou juros. “Não vemos um debate muito acirrado sobre como vai ser o ajuste fiscal americano [no contexto das eleições presidenciais do país]”, afirmou. “Quando a gente olha outros fatores ligados à eleição, tanto direita quanto esquerda tem um discurso mais pró expansão fiscal”.
A expansão da economia chinesa via exportações de cestas de bens e a resistência de países europeus, dos EUA, Canadá, Turquia, entre outros, também foi destacada na apresentação do presidente do BC. Segundo ele, há um cenário de restrição comercial contra o país asiático. “Vemos uma nova realidade de protecionismo com efeito inflacionário, menos crescimento e menos produtividade [no mundo]”.
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