Pesquisar
Close this search box.
Pedido de socorro
A decepcionante saga da Lupatech, que deixou o status de "case" de private equity para se transformar em pesadelo de acionistas e credores

, Pedido de socorro, Capital AbertoHá 14 trimestres consecutivos, a administração e os investidores da gaúcha Lupatech se deparam, sem muita surpresa, com números negativos na última linha das demonstrações financeiras da companhia, uma das maiores fornecedoras brasileiras de produtos e serviços para o setor de petróleo e gás. Balanço após balanço, há pelo menos seis trimestres, o prejuízo sem fim da companhia enseja o mesmo alerta dos auditores: os resultados financeiros e as condições de endividamento da empresa indicam incerteza significativa quanto a sua continuidade operacional. Tida como uma das companhias brasileiras que mais se beneficiariam da exploração do petróleo na camada do pré-sal, a Lupatech definhou a cada notícia negativa sobre a Petrobras. Os consecutivos resultados ruins da petroleira transformaram a promessa de crescimento em pedido de socorro. Desde a oferta inicial de ações (IPO), em maio de 2006, até 14 de junho de 2013, as ações caíram 95,6%. Na primeira semana de junho, eram negociadas a menos de R$ 1 no pregão da BM&FBovespa.

Antes de chegar à bolsa, a Lupatech era vista como um caso de sucesso da indústria de private equity. Recebeu injeções de recursos desde muito cedo, a partir da década de 1980, por grupos como Bozano Simonsen, CRP, GP e BNDES Participações. Como empresa de capital aberto, aproveitou ao máximo as oportunidades de captar recursos no mercado. O objetivo era estar solidamente preparada para atender à demanda da Petrobras quando o pré-sal começasse a ser desbravado. Comprou 17 companhias e investiu no aumento da sua capacidade instalada — as injeções de capital somaram R$ 236 milhões nos três anos seguintes ao IPO. Tudo deveria estar em pleno funcionamento a partir de 2009. A crise financeira internacional, porém, chegou antes de os planos serem concretizados. Os anos que se seguiram ao segundo semestre de 2008 foram de contração da demanda por petróleo no mundo. A Petrobras cancelou pedido atrás de pedido. O parque produtivo da gaúcha manteve-se subutilizado. O estrago estava feito.

A BNDESPar, dona de 90% das debêntures inadimplentes, não compareceu às ultimas três assembleias

Com o desempenho operacional atravancado e cheia de dívidas para pagar, a Lupatech viu sua situação ficar cada vez mais crítica. Sem caixa, teve que dar um calote no ano passado. Em abril de 2012, deixou de pagar a parcela de juros anuais que devia aos subscritores da sua segunda emissão de debêntures, realizada em 2009. Poucos dias antes do vencimento, avisou aos debenturistas que o crédito não ocorreria e, em assembleia, conseguiu aprovar um fôlego extra de 120 dias para fazer o pagamento. A data combinada para o acerto de contas passou para 15 de agosto, mas, quando o dia chegou, a companhia falhou novamente. Pediu mais 90 dias, depois outros 90 e, por fim, mais 60. Em abril de 2013, devia ainda os juros de 2012 e uma parcela anual, referente ao exercício deste ano. Como era de se esperar, não deu conta de pagar nem um nem outro. Só em juros de debêntures, ela acumula débitos de mais de R$ 83 milhões em aberto.

A Lupatech marcou três assembleias com os credores nos últimos dois meses, clamando para que lhe permitam postergar os pagamentos para o fim de junho. Não teve sucesso por falta de quórum. A BNDESPar, que detém mais de 90% das debêntures, não compareceu a nenhum dos encontros. A companhia também está em débito com detentores de bônus perpétuos emitidos no mercado internacional entre 2007 e 2008. Devia ter pagado a eles, em abril deste ano, uma remuneração de cerca de R$ 13 milhões, mas não conseguiu honrar o compromisso. O calote resultou em rebaixamentos da sua nota de crédito pelas agências de rating Moody’s e Standard & Poor’s, sem qualquer perspectiva de revisão no curto ou no médio prazos.

“A dívida da Lupatech é alta demais em comparação com sua baixíssima geração de caixa”, diz o analista Mário Bernardes Júnior, do BB Investimentos. O endividamento da empresa passa de R$ 1,3 bilhão, e o volume mais expressivo está em obrigações de curto prazo — que concentram R$ 740 milhões, mais da metade do total. A dívida líquida da Lupatech, segundo dados da Economatica, atingiu em dezembro de 2011 quase 32 vezes o seu lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda). Hoje, já nem faz mais sentido calcular o múltiplo, porque desde o ano passado o potencial de geração de caixa trimestral da Lupatech é negativo. A companhia encerrou o primeiro trimestre de 2013 com uma posição de caixa estacionada em R$ 21 milhões, um quarto dos recursos de que precisa para liquidar os débitos atrasados com os debenturistas.

Analistas avaliam que a Lupatech poderia se recuperar caso investisse mais — contudo, não tem sido essa a opção da companhia

REESTRUTURAÇÃO — Em meio a todos esses problemas, a Lupatech tenta reestruturar seus negócios. A empreitada já dura dois anos, ainda sem grandes resultados. Nesse período, desfez-se de ativos menos estratégicos para suas atividades. No ano passado, vendeu três empresas. Também conseguiu uma injeção emergencial de recursos de R$ 357 milhões, num processo de capitalização capitaneado por BNDESPar, fundação de previdência da Petrobras (Petros) e GP Investimentos, todos acionistas da companhia. Fez parte do “plano de resgate” a incorporação da San Antonio, uma empresa do segmento de prestação de serviços para o setor de petróleo pertencente ao portfólio da GP e atuante em diversos países da América Latina. O objetivo do negócio era diversificar a base de operações da Lupatech, que já teve 70% das receitas atreladas à Petrobras — hoje, esse percentual é de 58%. O esforço para reestruturar a companhia teve, entre outras ações, a contratação do Bank of America Merrill Lynch como assessor financeiro e também uma troca de diretoria. No lugar de Alexandre Monteiro, passou a dirigir a Lupatech Ricardo Doebeli, executivo com vasta experiência em projetos de reestruturação de empresas.

, Pedido de socorro, Capital AbertoAté agora, contudo, os analistas financeiros não arriscam dizer que a reestruturação será bem-sucedida. Instituições como BB Investimentos e a corretora Coinvalores suspenderam os cálculos de preço-alvo para os papéis da Lupatech em razão do nível de incertezas. Um dos últimos relatórios sobre a companhia foi divulgado pela equipe do Santander, em abril. No documento, o banco previa que o desempenho da Lupatech seria pior que o do mercado em geral nos próximos meses e ressaltava que, na melhor das hipóteses, a companhia seria capaz de gerar um Ebitda de R$ 100 milhões em 2013, ante uma necessidade de capital de giro para o ano de cerca de R$ 350 milhões. “A empresa tem uma renegociação significativa de dívida à frente”, indicava o Santander.

, Pedido de socorro, Capital AbertoOs analistas da Moody’s avaliam que a Lupatech poderia melhorar seus resultados se realizasse mais investimentos. Porém, essa não tem sido a opção da companhia. “Ela está gerenciando cautelosamente o uso do seu caixa, equilibrando as necessidades financeiras e operacionais, o que aumenta as dúvidas sobre sua performance operacional no futuro”, afirmam em relatório. Para Bernardes Júnior, do BB Investimentos, a Lupatech está usando as armas que tem ao seu alcance. “A companhia está reduzindo seus custos ao mínimo, se desfez de ativos, diversificou o portfólio e procurou focar em serviços, uma atividade que proporciona margens melhores. É o que dá para fazer.” Há quem aposte que a BNDESPar, por ter uma participação de cerca de 31% no capital da empresa e por ser o seu maior credor, ainda poderá voltar a socorrê-la. Procurado, o banco não se pronunciou. A verdade é que, hoje, o futuro da Lupatech é composto muito mais de especulações do que de possibilidades reais.


Para continuar lendo, cadastre-se!
E ganhe acesso gratuito
a 3 conteúdos mensalmente.


Ou assine a partir de R$ 34,40/mês!
Você terá acesso permanente
e ilimitado ao portal, além de descontos
especiais em cursos e webinars.


Você está lendo {{count_online}} de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês

Você atingiu o limite de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês.

Faça agora uma assinatura e tenha acesso ao melhor conteúdo sobre mercado de capitais


Ja é assinante? Clique aqui

mais
conteúdos

APROVEITE!

Adquira a Assinatura Superior por apenas R$ 0,90 no primeiro mês e tenha acesso ilimitado aos conteúdos no portal e no App.

Use o cupom 90centavos no carrinho.

A partir do 2º mês a parcela será de R$ 48,00.
Você pode cancelar a sua assinatura a qualquer momento.