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Sigam-me os bons
Com o apoio de poderosas fundações e filantropos, investimento de impacto atrai cada vez mais dinheiro, inclusive para o Brasil

, Sigam-me os bons, Capital AbertoOs departamentos de emergência de hospitais, sejam eles públicos ou privados, trabalham constantemente sob pressão. Para salvar vidas que chegam, muitas vezes, por um fio, é preciso organização em meio ao caos e ao desespero. Ciente disso, Leonardo Lima de Carvalho criou, em 2010, o Trius, um software que auxilia na triagem dos pacientes, ajudando a priorizar os casos mais graves e a evitar mortes por falta de atendimento. Ideias como essa, com potencial de gerar lucro e, ao mesmo tempo, afetar positivamente a vida das pessoas, são o foco dos fundos voltados ao chamado “investimento de impacto”. Esses veículos crescem ano a ano. E o Brasil, com uma economia interna dinâmica e parcela considerável da população precisando de mais
qualidade de vida, é um terreno fértil para eles se desenvolverem.

Carvalho é sócio fundador da ToLife, empresa que, em junho do ano passado, recebeu aporte de recursos da Vox Capital, do family office Arques Capital e da Endeavor. Criada em 2009, a Vox compra participações acionárias em companhias com potencial de crescimento e propostas que gerem valor para a sociedade. Também fornece capital semente conversível em ações para empresas de menor porte. Com R$ 84 milhões sob gestão, investe atualmente em 12 companhias. “Há cinco anos e meio, tínhamos apenas R$ 5 milhões para investir”, recorda Daniel Izzo, sócio fundador da gestora.

Estimulada desde cedo pela Endeavor, instituição de fomento ao empreendendorismo, a ToLife já se preocupava em seguir boas práticas de governança e adotar uma gestão profissional. Além de servir como selo de qualidade, a associação com a Endeavor forneceu a Carvalho uma rede de contatos considerável, que o ajudou a vender seu produto. A ToLife cresceu rapidamente. Atende hoje a cerca de 5 mil unidades de saúde, entre elas o movimentado Hospital das Clínicas de São Paulo. “Foi bom perceber que eu podia ajudar a cuidar da saúde das pessoas de um jeito diferente”, diz Carvalho, que pensava em estudar medicina. O empresário não revela o valor investido e nem a participação dos fundos em seu negócio.

Localização importa
Se a ToLife tivesse sede em qualquer outro país carente, talvez não fosse um bom exemplo de impacto social caminhando lado a lado com o retorno financeiro. Para garantir esse segundo componente, o ideal é que a empresa esteja estabelecida em território com estabilidade política e social, economia dinâmica e consumo interno pujante. O Brasil, por sorte, concilia tudo isso com a necessidade de avanços sociais significativos. Basta lembrar que, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), 49,8% da população brasileira não estava conectada a uma rede de esgoto em 2008, em comparação a 19% no Peru e a indicadores muito próximos de zero na maioria dos países desenvolvidos. Saneamento básico é, aliás, junto com os setores de microcrédito, saúde, educação e mobilidade urbana, um nicho de interesse dos investidores de impacto.

Izzo estima que existam hoje cerca de 15 fundos nacionais voltados a esse tipo de investimento, com algo entre
R$ 300 milhões e R$ 400 milhões para aplicar. A quantia pode parecer pequena diante das cifras robustas da indústria de fundos de capital de risco, mas é relevante para as empresas que precisam de aportes entre R$ 2 milhões e R$ 10 milhões para dar os primeiros passos.

Uma gestora que também tem se dedicado ao investimento de impacto é a FIR Capital. Fundada em 1999, ela tem dois fundos com um total de R$ 89,4 milhões de capital comprometido para alocação em 11 empresas. Uma das companhias do portfólio é a Clube de Autores, uma plataforma que permite a escritores independentes publicarem suas obras sem tiragem mínima e sem nenhum custo.

Estamos no alvo
Gestoras estrangeiras também estão atentas às oportunidades de fazer investimentos de impacto por aqui. Uma pesquisa realizada pelo J.P. Morgan e pela Global Impact Investing Network (GIIN), publicada em maio, mostra que há uma tendência entre esses gestores de exportar dinheiro para nações mais pobres. Responderam ao levantamento 125 assets, totalizando US$ 46 bilhões sob gestão. Apesar de 102 delas serem sediadas em países desenvolvidos, 70% do seu patrimônio está aplicado em nações em desenvolvimento. Apenas em 2013 elas investiram US$ 10,6 bilhões, e a expectativa é de que este ano o valor aumente em 19%.

Rodrigo Vieira, sócio do escritório Tozzini Freire, afirma que foi procurado por alguns estrangeiros interessados em fazer investimentos de impacto no Brasil. “Nunca tínhamos trabalhado com esse tipo de ideia; os estrangeiros é que vieram até nós”, conta. A americana Actis, por exemplo, com US$ 5 bilhões em recursos sob gestão, aposta em setores ainda pouco desenvolvidos no Brasil, como os de educação e de energia renovável.

, Sigam-me os bons, Capital AbertoDinheiro do bem
Boa parte do dinheiro destinado aos fundos de investimento de impacto vem de instituições de fomento, fundos de pensão ou fundações ligadas a famílias abastadas. Um dos cotistas dos fundos da Vox, por exemplo, é o Fundo Multilateral de Investimentos, ligado ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

A Rockefeller Foundation, da família de mesmo nome, uma das mais poderosas dos Estados Unidos, está entre as precursoras e principais difusoras desse tipo de investimento. A fundação tem como princípio que, para gerar o impacto social necessário a fim de que todos possam viver dignamente, é preciso muito mais dinheiro do que os governos e filantropos têm para oferecer.

No Brasil, famílias proeminentes também estão envolvidas com o investimento de impacto. Um dos fundadores da Vox é Antonio Ermínio de Moraes Neto, cujo avô é sócio e presidente do Grupo Votorantim, um dos maiores conglomerados do País. Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e sócio da Gávea Investimentos, também se dedica à causa. É um dos colaboradores da Sitawi Finanças do Bem, que fornece empréstimos de até R$ 100 mil para empresas e organizações comprometidas com desenvolvimento social e ambiental.

Além das famílias, o levantamento do J.P.Morgan e da GIIN mostra que em 2013 vários investidores institucionais estrearam no ramo do investimento de impacto em todo o mundo. Tanto que a pesquisa publicada este ano pôde contar com a participação de mais gestores: 125, contra 99 no ano anterior. “Algumas das barreiras de entrada, como conhecimento do mercado e percepção de risco, começaram a ceder”, avalia o estudo.

O documento revela que a maior parte dos recursos voltada ao investimento de impacto chega aos empreendedores por meio de empréstimos (44% do volume) e, depois, pela compra de participações (24%). O setor financeiro recebe a maior parte do dinheiro (42% do total, voltado, por exemplo, para projetos de microcrédito), seguido dos segmentos de energia, com 11%; habitação, 8%; e agricultura e alimentação, 7%. O setor de tecnologia da informação, em que a ToLife atua, recebe 3%; o de saúde fica com 6%.

Expectativas superadas
O estudo do J.P. Morgan e da GIIN leva a crer que os retornos dos investimentos de impacto têm agradado seus aplicadores. De acordo com o documento, a grande maioria dos investidores que usa algum tipo de métrica para mensurar os resultados ambientais e sociais de seus negócios está satisfeita: 79% deles afirmam que os empreendimentos geram os impactos esperados e 20% que suas expectativas foram superadas. Para apenas 1% o impacto social ficou abaixo do almejado. Em relação ao retorno financeiro, as estatísticas também são animadoras: 75% avaliam que ele está dentro do esperado; 16%, que excedeu as expectativas. Apenas o restante (9%) está descontente com o resultado.

Os fundos mais antigos da Vox Capital não chegam a três anos, ante um horizonte de investimento de ao menos sete anos, explica Izzo. É muito cedo, portanto, para medir a performance financeira e social dessas carteiras, reconhece ele. A saída mais provável para suas investidas quando atingirem a maturidade é a fusão com outras companhias ou a venda para um fundo de private equity. A abertura de capital na bolsa de valores não está no horizonte, ao menos por ora. “Quando o Bovespa Mais se fortalecer, talvez se torne uma boa opção para essas empresas”, avalia Izzo.

Enquanto isso não ocorre, empresas como a ToLife esperam contar com mais injeções de capital de fundos de investimento para se desenvolver. Considerando os bons resultados apresentados pelos investimentos de impacto no mundo, dinheiro para companhias promissoras e engajadas em boas causas não deve ser um problema.

Ilustrações: Marco Mancini/Grau180.com


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