Ganhar quando uma ação se valoriza e ao mesmo tempo quando outro papel cai é, simplificando a análise, o que se propõe a fazer um gestor de fundos Long & Short (L&S). Mas a montagem adequada das posições long (apostando na alta de um ativo) e short (quando projeta perspectiva de baixa) é algo que exige muita habilidade do gestor. Apesar do bom momento da bolsa, o primeiro semestre foi difícil para a renda variável, com volatilidade, saída de estrangeiros e desempenho sofrível em boa parte do período. A Capital Aberto ouviu gestores de fundos L&S para entender como foi navegar neste cenário, quais apostas – sejam long ou short – deram resultado e o que projetam daqui em diante.
Alguns pontos em comum nas carteiras dos fundos analisados chamam a atenção. No primeiro semestre, posições compradas em Sabesp e Embraer ajudaram no alfa dos produtos, assim como vendido em Bradesco. BDRs de empresas tecnológicas americanas também foi outra aposta long que ajudou os fundos no período. Nos três produtos L&S avaliados – de BRAM, AZ Quest e Western – o stock picking dos papeis usa análises fundamentalistas.
“É como fazemos a seleção, com base nos fundamentos da empresa associado a uma análise do cenário macro. Tudo isto somado à gestão da companhia, o management e ao pricing power daquela companhia”, explica Welliam Wang, chefe da área de ações da AZ Quest sobre como gere o fundo AZ Quest Total Return. O produto acumula, até 19 de agosto, retorno de 12,63%, 187% do CDI e acima da sua meta do ano, que é de CDI mais 3%. “A gente sempre trabalha com um roadmap dos papeis selecionados para evitar o principal risco do gestor, que é casar com o papel. Vê que está errado e permanece na tese.”
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No começo do ano, a carteira do fundo Total Return estava um pouco mais otimista, explica o gestor, mas sem abandonar alguns critérios pré-estabelecidos, como evitar posições no setor de varejo e consumo, mesmo em um viés macro mais positivo. “Não gostamos, sempre somos short em varejo porque é um setor que foi disruptado, as empresas de base tecnológica ganharam muito market share”, explica Wang, lembrando que varejistas como Renner e Hering têm dificuldade em crescer.
O gestor utiliza pares intrasetoriais em seu “double Walk” buscando ganhar no long e no short. No primeiro semestre, uma posição comprada que trouxe alfa para o fundo foi Embraer e vendido em Azul e Latam. “De um lado, a crise da Boeing favorece a Embraer enquanto os custos em dólar prejudicam as companhias locais. Este foi o racional.”
Outras posições que colaboraram para o bom retorno do fundo L&S da AZ Quest foram em BDRsde Microsoft, Nvidia, mas que já foram desfeitas pelo gestor por não ver oportunidade de ganhos, enquanto deve se beneficiar da estatização Sabesp. “Vai se beneficiar bastante da privatização.” No setor financeiro, o fundo não tem posições vendidas, apenas compradas em nomes como BTG Pactual, Inter, Nubank, Itaú e XP.
A principal posição que não deu o retorno esperado foi a aposta nas juniors de petróleo, comprado em 3R e Petro Reconcavo, que não conseguiram entregar um aumento de produção satisfatório. “Somos short em China, temos uma visão bem negativa estrutural sobre o crescimento do país. Neste momento não temos posição, mas tivemos short em ações de empresas que sofrem mais com a fraqueza da China”, conta. A gente está com risco condizente com esse cenário macro atual. Se estivermos certos neste cenário, eu acho que o retorno tem potencial para ser até maior do que esse último semestre. O que temos conseguido fazer muito bem é adequar e se adaptar o produto, a nossa carteira, acertar a seleção de ações.”
No fundo Bradesco Equity Hedge, gerido pela BRAM, até o dia 19 deste mês, o retorno acumulado estava em 8,85%, 131% do CDI. “É um fundo que tem muito mais característica de um multimercado do que um fundo de ação. Nossa volatilidade é de 5%, bem distante do valor dos fundos de ações, em torno de 20%”, diz o gestor de portfólio da BRAM, Victor Hasegawa, acrescentando que as apostas são fundamentalistas de “médio e longo prazo, principalmente na porta long”.
Um case do fundo importante, que o gestor carregava desde o ano passado, foi Embraer. “Estudamos muito a empresa, analisamos a perspectiva. Não é uma aposta de curto prazo. Normalmente a gente monta uma carteira long, mas para financiar essa posição long, eu não faço basicamente uma ação short. Nossa escolha é uma carteira short, com um grupo de empresas do mesmo setor com potencial de queda”, explica Hasegawa. “Porque esses pares de bloco me dão uma flexibilidade maior no sentido de capacite, como a gente é uma casa grande, então, a gente tem que ter uma flexibilidade de conseguir crescer o fundo.”
Uma parte da carteira do fundo utiliza modelos quantitativos para escolha dos papeis, visando pegar algumas distorções de curto prazo. Da carteira do fundo, perto de 60% das posições usam análises fundamentalistas e os outros 40% divididos entre quantitativos e derivativos. “A gente também utiliza bastante proteção na carteira via opções, via índice futuro.”
Uma das posições adotadas pela BRAM para o fundo foi comprada em ETF ligado ao cobre, com bom resultado para o produto, e na empresa Santos Brasil, incorporada na carteira no ano passado. “No final do ano passado, a gente teve aquele rally muito forte em outubro para novembro, e sabíamos que não perduraria muito tempo. Fomos reduzindo as posições ganhadoras. A Santos Brasil, por exemplo, chegamos a zerar e agora estamos comprando de novo, na posição long. É uma empresa que adoramos, mas nem por isso carregamos o tempo todo. A parte short era em Hidrovias do Brasil. Funcionou dos dois lados, mas o long foi mais rentável.”
O fundo L&S da BRAM também ganhou com Embraer, long, montada contra o Ibovespa, short. Em retorno, a maior contribuição veio da fabricante de aviões, seguido por ETF de cobre e Santos Brasil, ambos disputando o segundo lugar. Outra figurinha carimbada nos fundos L&S e que não ficou de fora foi a Sabesp. Por decisão do gestor, o fundo Bradesco Equity fica entre 15% a 20% direcional, ou seja, com posições mais compradas
Sobre a melhora recente do mercado de ações, com o Ibovespa batendo recordes sucessivos, Hasegawa cita como positiva a expectativa de corte de juro no exterior, mas lembra que as eleições americanas trazem volatilidade. “Aqui, que todos esperavam corte maior, agora o cenário é de alta na Selic. Isto também embaralha muito o cenário.” Dito isto, acrescenta o gestor da BRAM, “como cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça. E como o fundo já andou bastante, eu estou reduzindo o risco”.Na linguagem do gestor, reduzir o risco é manter o foco nas empresas de qualidade e, se necessário, ficar mais vendido do que comprado. “Eu ainda não estou em tão short, mas se o mercado continuar subindo, eu acho que eu posso ficar. Eu acho que, dependendo do cenário, talvez seja o mais prudente efetivamente.” A meta do fundo é CDI mais 5%.
Outro fundo que soube surfar bem no cenário volátil do primeiro semestre foi o Westerns L&S TOP, um produto de longo histórico no mercado, desde 2014, e que acumula 8,92% de rentabilidade neste ano. “Somos três os responsáveis pelo produto. A gente discute um pouco de cenário, um pouco dos cases e um pouco muito desse movimento de curto prazo, que é onde o long & short atua, buscando distorções de curto prazo”, analisa César Mikail.“O nosso fundo não é um produto direcional, às vezes, discutimos se deveríamos para ser um produto direcional, mas hoje é um fundo neutro.”
Hoje, o fundo da Western tem ao redor de 90% de gross – soma das posições long e short. “A gente já teve bons momentos com esse produto, maus momentos, mas, no geral, quando a gente acumula desde lá de trás, é um produto que vem agregando valor com relação ao CDI.”
Naio Ino, também gestor do fundo e responsável pela alocação, explica que o fundo tem basicamente ações, índices, tanto de B3 como S&P, BDRs e ETFs. “Falando em termos de posição, hoje a gente gosta muito de Sabesp e Itaú, sempre na posição comprada. E as principais posições vendidas estão mais relacionadas a commodities”, conta. Outra posição short que agregou valor ao fundo da Western foi B3. O gestor monta pares intrasetoriais e intersetoriais. “Depende um pouco do viés que a gente tem para cada setor. Mas, por exemplo, alguns pares intrasetoriais que a gente tem é dentro de seguradoras, com BB Seguridade, comprada, contra Caixa, vendida.”
Mikail lembra que a vantagem de um produto como long e short é que quando o cenário é nebuloso o gestor pode fazer muitas apostas intrassetorial. “Nos momentos em que ficou nebuloso, a gente tentou concentrar mais pares intrasetoriais, que é o que a gente tinha mais convicção. A gente carregou bastante tempo com o Itaú contra Bradesco, por exemplo”, explica. Desde o ano passado, posições de Itaú x Bradesco vem agregando valor ao fundo. “Um pouco antes o resultado dos bancos, a gente zerou a posição short em Bradesco. E passamos a comprados porque qualquer melhora no desempenho o papel subiria.”
O movimento de elevar ou diminuir posições funcionou também para Sabesp. “A gente carregou Sabesp desde o começo. Ficamos comprados no papel, as vezes mais em outras menos. Deu super certo”, ressalta Ino. “A gente consegue combinar esse viés de curto prazo, de trading, de fluxo, com uma base fundamentalista que permeia inclusive os outros produtos da casa também.” Hoje, a Western está zerada em Bradesco. Já Nubank contra XP, comprado x vendido, respectivamente, deu muita alegria ao fundo, nas palavras do gestor. “A gente até saiu antes, sendo bem sincero para você. O Nubank depois andou um pouco mais. Saímos antes, mas ele agregou bastante valor, porque a gente vem há bastante tempo de Nubank, desde o ano passado.”
Entre as escolhas short do gestor está a Vale, diante da tendência de o minério de ferro seguir em baixa pelas dificuldades do setor imobiliário chinês. “A gente tem olhado para os próximos seis meses e a visibilidade, de novo, está mais apertada. Vamos esperar, vamos olhar com mais cautela, baixar na carteira um pouco as empresas que têm mais correlação com juros. No geral, o que a gente tem feito nas movimentações é basicamente botar no bolso as posições que a gente ganhou e aguardar um pouco a evolução dos eventos”, afirma Ino.
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