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Juros altos e mundo endividado são fatores de risco global, afirma Campos Neto
O presidente do Banco Central, Campos Neto, vê risco de que cenário de juro alto e endividamento global contamine o mercado de crédito privado
Roberto Campos Neto. presidente do Banco Central | Divulgação/BTG Pactual
Roberto Campos Neto. presidente do Banco Central | Divulgação/BTG Pactual

A dinâmica da inflação global, que não responde aos mesmos modelos do passado, os ruídos na política monetária conduzida pelo Fed, com dados econômicos contraditórios, e a incerteza sobre o crescimento chinês são temas que preocupam a autoridade monetária brasileira. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou em sua participação no CEO Conference 2024, promovido pelo BTG Pactual, que este cenário se soma a um mundo mais endividado e com juros elevados com impacto no risco global.

“O mundo saiu da pandemia muito mais endividado, estamos falando de algo perto de 20% do PIB global. O juro tende a ficar mais alto por mais tempo e esse cenário, ao longo do tempo, vai contaminando o mercado de crédito privado. E isso já começou a acontecer”, afirma Campos Neto. “É um fator detrator de liquidez bastante grande. Tem impacto no risco global”

Em sua apresentação, o presidente do BC lembrou o endividamento dos Estados Unidos que por muito tempo ficou na casa dos 40% do PIB, porém iniciando há alguns anos uma trajetória de alta. “Agora estamos falando em um processo de subida onde a dívida vai terminar em algo como 180% do PIB dos EUA em alguns anos. Isso não seria tão problemático se não fosse o efeito financeiro que gera”, comenta Campos Neto. Em outubro de 2023, segundo o presidente do BC, o governo norte-americano pagou US$ 77 bilhões em dívidas, valor que sobe a US$ 140 bilhões na projeção para o mesmo mês deste ano.


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Sobre a perspectiva de corte dos juros norte-americanos, Campos Neto citou dados contraditórios da economia divulgados em janeiro deste ano e afirmou que os números “tornam mais confortável” para o Fed manter por mais tempo a taxa inalterada. “Usar modelos antigos para prever o comportamento dos preços ficou mais difícil. Hoje a inflação se desacelera, mas tentamos entender o porquê já que a massa salarial nos Estados Unidos avança e o nível de serviço é alto”, comenta.

Juros no Brasil

Durante o evento, Campos Neto descreveu as condições necessárias para um novo ritmo de corte no juro doméstico, hoje em 11,25% ao ano. Há cinco reuniões seguidas o ritmo de corte vem se mantendo em 0,50 ponto percentual.

O presidente do BC afirmou que a desinflação brasileira está dentro do previsto pela autoridade monetária, porém que os núcleos de serviços ainda permanecem altos. Campos Neto afirmou que a confirmação da meta de inflação do país dependerá da redução dos preços no setor de serviços. “Temos uma mão de obra muito apertada e a inflação de serviços alta. Como os preços dos serviços vão cair de forma recorrente se temos esse problema da mão de obra apertada?”, indagou Campos Neto.

Sobre o crescimento do PIB, o presidente do BC mostrou otimismo. “A perspectiva de crescimento está parecendo que vai surpreender para cima no primeiro trimestre. Essa é a nossa primeira intuição no Banco Central. A gente vê serviços puxando bastante.”


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