Alexandre Póvoa*/ Ilustração: Julia Padula
Dizem que o bom gestor de recursos é aquele profissional que consegue antever, de forma competente e racional, os movimentos do mercado. Vamos à prática.
Digamos que, na segunda-feira, dia 10 de agosto, o gestor traça as suas estratégias, ajusta os seus portfólios e vai para casa (lembrando que foi um dia de pregões mais calmos após a semana anterior, extremamente conturbada, em termos políticos e econômicos).
Terça-feira, dia 11
Surge a primeira surpresa, ainda de madrugada: O Banco Central chinês (PBOC), em um movimento incomum para o país, anuncia uma desvalorização de 1,9% do yuan em relação ao dólar, como mais um instrumento para combater a queda da atividade econômica. Os mercados acionários no mundo inteiro “sentem a medida” logo na abertura dos pregões (a China ficou mais “produtiva” em suas exportações por conta do câmbio!). O dólar ganha força no globo, em um processo de desvalorização competitiva das moedas. As ações de empresas ligadas ao setor de algumas commodities sofreram por conta da queda na cotação desses produtos (medo do poder de barganha do grande cliente China). O dólar rompe o patamar de R$ 3,50/US$ no Brasil. Várias NTN-Bs longas fecham o dia com o cupom já superando 7,10% ao ano.
Quando o dia parecia já terminado, às 17 horas, outra surpresa, desta vez positiva para o Brasil. A avaliação da empresa de rating Moody´s, depois de uma longa visita ao País, resultou em um rebaixamento da nossa nota de risco soberano, porém dentro da hipótese mais otimista ― manutenção da “perspectiva” como estável. Em meia hora, no chamado after market, os ativos brasileiros experimentaram significativa melhora, apontando para um mercado altamente positivo para o “kit-Brasil” no pregão de quarta-feira.
Quarta-feira, dia 12
Após a expectativa otimista, outra surpresa: o Banco Central chinês anuncia uma segunda rodada de desvalorização do yuan, apenas 24 horas após a primeira. Desta vez, de 1,6% (totalizando 3,5%). Além disso, surge um surpreendente relatório sobre a acerca de uma medida provisória do governo, escrito pela senadora Gleisi Hoffmann, que aumenta ainda mais a alíquota da CSLL sobre os bancos. Ainda por cima, o texto extingue o benefício fiscal dos juros sobre capital próprio, afetando potencialmente o lucro de várias empresas. Tudo isso com o objetivo de reforçar o ajuste fiscal do governo (o relatório ainda precisa ser aprovado na Câmara e no Senado).
Todo o otimismo, ao final da terça, foi rapidamente substituído por outro dia de “massacre” do kit-Brasil, principalmente na bolsa.
Depois de quatro eventos inesperados em 48 horas ― duas desvalorizações do yuan, nota da Moody´s e relatório da senadora Gleisi Hoffmann ―, o gestor racional volta para casa novamente. Antes, ajusta seus portfólios para a nova realidade, busca antever o próximo passo da China, do governo brasileiro e das agências de rating. Todas decisões que estão muito longe de nossas mãos. Assim é a profissão.
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