Apesar da baixa de juros americanos e da trajetória da Selic internamente, os investidores ainda estão reticentes em voltar a tomar risco no Brasil. Mas segundo gestores, o cenário começa a mudar e talvez o pior tenha ficado para trás.
“Ainda tem muito prêmio em outras classes, algumas delas com incentivo tributário ainda chamando a atenção desses investidores”, disse Luis Guedes, sócio equities da Vinci Partners, nesta quinta-feira (12), em um evento promovido pela Fitch Ratings na capital paulista. O apetite por risco, a escolha das equipes de gestão dos recursos e a preparação do terreno do mercado para as normas da CVM 175 foram alguns temas debatidos pela manhã em um dos painéis.
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O próprio cenário de juros mais baixos num contexto de ajuste de política monetária traz o que Guedes avaliou como uma “perspectiva interessante” para 2025 no que diz respeito ao apetite do investidor por risco. Para o que resta deste ano, contudo, não deve haver alteração.
“Ainda assim, as empresas têm conseguido entregar bons resultados, alguns setores têm se destacado, a exemplo do elétrico e dos grandes bancos, que também voltaram a encontrar um caminho de bons resultados. São dois setores bastante interessantes”, disse o sócio da Vinci.
Na visão da Bradesco Asset (BRAM), os investidores ainda estão olhando muito para a cota passada. “É uma métrica importante, mas no nosso universo, acho que pouco se fala sobre o histórico da equipe que vai gerir os recursos, e isso é importante para o comportamento de investir”, disse Ana Luísa Rodela Blanco, chefe de gestão de Crédito da BRAM durante o evento.
“Quando você coloca dinheiro no fundo daquele gestor, a verdade é que está alocando dinheiro naquela pessoa e em sua equipe. O investidor deveria entrevistar a equipe que toma a decisão”.
Ela fez, ainda, um alerta sobre os aprendizados que precisam ser absorvidos pelo mercado investidor após os eventos das Lojas Americanas e da Light no ano passado. “Estamos num momento de mercado animadíssimo, e vemos os olhares voltados mais para a diferença de spread e ignorando risco de crédito. É preciso ter isso escrito, ou seja, diretrizes que precisam ser seguidas sobre cuidado na seleção e na alocação”, disse a executiva.
“Porque a análise vai errar, é natural deixar passar alguma coisa. Só que quando a análise erra é preciso ter a decisão da alocação, que é sua segunda camada de proteção”. Blanco disse que esse “reforço de disciplina” contribuiu na BRAM e avalia que em momentos de piora de mercado o investimento que se faz nele por fim se paga.
Ela avalia que o mercado precisa fazer um “mea culpa” e rever metodologias após os problemas de 2023. Para ela, “se pegou leve com alguns erros por serem generalizados”. “Precisa olhar para dentro e ver se o trabalho está correto, porque fica um pouco aquilo de não ter problema porque não se errou sozinho”.
Mesmo havendo dificuldade de explicar para o cotista final as razões das decisões para o investimento, é preciso atuar com alto grau de granularidade para entender as diferenças de risco.
“O papel do DI que compro para o meu fundo moderado não é o mesmo que compro para o fundo agressivo e é muito difícil passar a qualidade da análise e seleção para o cotista final. Mas somos muito rigorosos nisso”, diz ela.
Guedes, da Vinci Partners, acrescenta que com a popularização dos investimentos, especialmente do mercado de ações, como o ‘boom’ de alguns anos atrás, ainda é um desafio que o investidor perceba qual é o seu perfil de investimentos. “Notamos claramente que poucas são as casas que têm essa prática, poucos investidores respondem ao questionário para conhecer seu próprio perfil, e isso acaba trazendo grandes frustrações para ele”.
Marco Legal de Fundos
Sobre as normas da CVM 175, as casas de investimentos estão em ritmo similar no trabalho de adequação, segundo o sócio da Vinci. A gestora montou um grupo de trabalho com integrantes de diferentes áreas de negócios (fundos de equity, private equity, imobiliários, infraestrutura, entre outros) para ajuste às normas.
“A gente acredita que a transição vai acontecer de forma natural entre esse ano e o próximo”, disse Guedes. Para Blanco, da BRAM, tem mudanças que ocorrem “na largada” como definir as taxas de distribuição. Mas há outros que levarão mais tempo, a exemplo das alterações relacionadas às estruturas de classes e subclasses. “Há várias possibilidades do mercado internacional trazidas pela norma, mas que levarão um tempo a chegar no Brasil porque é preciso que novos fundos sejam lançados”, finalizou.
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